quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Dia Nacional do Trouxa









Inspirado pela temporada de feriados deste final de 2010, CoffeeBreak vem a público propor a criação do Dia Nacional do Trouxa. Afinal, trata-se de uma importante parcela da nossa população, na qual humildemente me incluo, e que merece ser lembrada e homenageada.

Neste nosso Brasil, trouxa é quem para seu carro, mesmo com o sinal aberto, para não fechar o cruzamento. Se bem que trouxa mesmo é quem ainda por cima respeita a faixa de pedestres, enquanto agüenta a buzina enlouquecida dos espertos que não se conformam com seu carro parado.

Trouxa é quem insiste em votar em pleno feriadão, mesmo que seja em branco, enquanto 20% de sábios se abstêm e correm para a praia. Trouxa é quem separa o lixo reciclável que, provavelmente, será misturado de novo com o lixo orgânico no processo da coleta.

Trouxa é quem paga taxas e encara processos burocráticos porque acha que a corrupção começa com o guarda de trânsito e o jeitinho nosso de cada dia. Trouxa é quem acha que mais vale uma estação do metro na porta de casa do que um bairro reservado aos ricos e bem nascidos que não podem se locomover pois não há mais espaço no transito (se bem que há saída para isso: como tem muito carro na rua, vamos aumentar o preço dos veículos e impedir que a gentalha tenha acesso fácil a este diferencial de classes).

Trouxa não compra ingresso de cambista. Não para em fila dupla. Manda os filhos usarem transporte público. Não compra DVD pirata. É usuário de qualquer uma das empresas brasileiras de telefonia celular ou telecomunicações em geral.

Trouxa sou eu, que “invisto” meu tempo escrevendo estas linhas de protesto que não irão mudar a realidade. Trouxa é você que está lendo isto. Um viva a nós, trouxas. Que venha nossa data nacional.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Medo de errar? Então você já errou!





Converse com qualquer profissional cuja carreira já passou dos estágios iniciais e o discurso será, com pequenas variações, o mesmo: “estou em busca de novos desafios, de aprender mais, a remuneração é secundária, resultado do trabalho, blá-blá-blá”.

Pois vivemos um paradoxo. Ou esta postura é absolutamente hipócrita, conversa para boi dormir, ou, pior, ainda não entendemos que o aprendizado passa, necessariamente, pelo erro. Afinal, se estamos todos aqui trabalhando com foco no nosso desenvolvimento, como justificar nossa cultura de medo em assumir erros e aprender com eles?

Fred Brooks, uma lenda viva da engenharia de software dos EUA, resumiu recentemente o conceito na Wired. Para ele, você pode aprender muito mais com a falha do que com o sucesso. Enquanto o primeiro te obriga a encarar a realidade e rever ideias, processos e atitudes, o segundo pode mascarar várias pequenas imperfeições. Poderia ser melhorado mas, como está funcionando, você acha que está bom.

Não, a ideia não é ser desleixado ou errar propositadamente. Mas assumir mais riscos, sem cair na armadilha imobilista do perfeccionismo. E, quando errar, encarar a situação como uma rica oportunidade de aprender, sem medo de enxergar a verdade. No lugar da busca por culpados, de tentar simplesmente se isentar, avaliar o cenário, buscar os fatores envolvidos na falha e mudar efetivamente a atitude e processos.

Vamos nos inspirar nos chineses. No início desta semana estava, por razões profissionais, no Salão do Automóvel de São Paulo. Dezenas de chineses andavam por todos os lados, fotografando e anotando tudo, do Buffet oferecido nas coletivas de imprensa à decoração dos stands. Estão aprendendo. Os primeiros carros de suas marcas ainda são toscos, quebram a toa e, mesmo baratos, vão encalhar nas lojas. Em quanto tempo eles vão transformar estes erros crassos em um caso de sucesso avassalador?

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

“Como é bom estar vivo”





Este texto é uma homenagem a um grande amigo. Como não há muito não posto nada no CoffeeBreak e não terei tempo de esperar que ele leia isto e consinta, opto por não citar seu nome – quem o conhece vai saber na hora de quem se trata, ou já matou pelo título do post. Vamos chamar-lo apenas de Cé.

Convivi muito pouco com meu pai. Assim, meus principais mentores foram chefes, autores, clientes (sim, convivi, mesmo que rapidamente, com grandes executivos e líderes de todos os tipos), minha mulher e colegas. Entre estes últimos, o Cé é daqueles que cada dia fazem mais diferença.

Trata-se de uma pessoa peculiar, diferenciada, o que em si já é um exemplo. Também por isso, o Cé não é unanimidade. Não. Acho mesmo que, neste nosso universo corporativo muitas vezes tão atrasado quando o debate sobre homofobia e aborto na atual campanha para presidente, o Cé é um incompreendido. Um outsider. Pena.

Criativo e bem humorado, ele estava a maior parte do tempo rindo, feliz. Cumprimenta todos que encontra e não perde uma oportunidade de começar uma nova conversa, uma nova amizade. O Cé é daquelas pessoas que a moça que pesa o prato no restaurante a quilo conhece pelo nome – juro, já testemunhei uma delas discutir com ele se deveria ou não terminar com o namorado.

O Cé é inventor de piadas que, muitas vezes, não tem a menor graça para a maioria dos ouvintes. Não importa. Ele a conta de novo e, sem esperar a reação da platéia, começa a rir com tanta graça que logo todos o acompanham. E a repetição do tema, em si, se torna a grande piada.

Entre as milhares de histórias em torno de seu nome, há a das tiradas de humor junto a clientes corporativos em reuniões de trabalho. Alguns o criticam por isso, e não dá para dizer que ele sempre se deu bem. Mas acho que ele sacou algo mais profundo sobre as relações pessoais. Corajoso, não tem medo de se passar por tolo, pois sabe o valor de um sorriso. Já o vi desarmar executivo feroz e virar o jogo depois de uma piada.

De manhã, animado, dá bom dia a todos. E, quando percebe que o clima não está nenhuma maravilha, solta seu “como é bom estar vivo”, tentando lembrar que há um mundo lá fora e coisas mais importantes que a importância que damos a nós mesmos e nossos medíocres problemas profissionais.

Não. O Cé não é perfeito. Já o vi de mal humor, inseguro e achando que as coisas não iriam dar certo. Disse que estava ficando velho e impaciente com a bagunça dos filhos no apartamento, com as coisas fora do lugar. Mas, na maior parte do tempo, ele estava com seu sorriso de garoto acreditando que, apesar de tudo, no final podemos rir, então valeu a pena.

Um dia, perguntei a ele de onde vinha tanto otimismo e cordialidade. E então ele me revelou seu segredo: “não é natural não Gui! Me dá um trabalho danado levantar de manhã e colocar este sorriso no rosto, superar o mal humor e tentar pegar leve.”

Foi então que percebi que todos podemos ser um pouco Cé, com mais leveza, alegria e inspiração em nossas vidas, não permitir que a loucura do trabalho apague nossa vida. Não. Colocar vida no trabalho e se divertir com isso.

Infelizmente não trabalho mais com o Cé – ele recebeu uma proposta irrecusável para voltar para a redação. Há alguns meses, me encontrei com ele num café e fiz questão de agradecer tudo o que aprendi com ele e, ainda hoje, tento colocar em prática na minha vida. Hoje achei que deveria dividir isto com quem perde seu tempo lendo este texto. Que o exemplo do Cé nos inspire.

domingo, 3 de outubro de 2010

Inovação dentro da caixa?




Primeiro aos fatos:

1. Na edição de setembro da Wired norte-americana, seu editor-chefe, Chris Anderson, levanta a tese, fundamentada em dados, de que a internet como a conhecemos está em crise. Aplicações fechadas em aparelhos como iPhone, iPad, televisores e outros já registram maior uso de banda na rede do que os convencionais endereços www. Isto significa que, ao invés de navegar livremente pela web, estamos usando serviços baseados na internet mas fechados. O Facebook, maior rede social do mundo é um exemplo. Twitter, Skype e YouTube são outros. Quanto mais gente tem acesso à internet, mais buscam serviços fáceis e práticos, porém restritos e cobrados. O conteúdo editorial de jornais e revistas, que quase faliram com os sites grátis e que agora correm em debandada para os leitores digitais como Kindle e iPad são o melhor exemplo. O sonho geek de tudo de graça para todos numa rede sem limites está perdendo terreno para o sistema convencional de pagar pelo que se quer. A culpa? Nossa mesmo, pois queremos rapidez, segurança e qualidade.

2. Na sua edição de setembro, a Época Negócios apresenta sua segunda lista de empresas mais inovadoras do Brasil. Desta vez, porém, houve uma mudança na metodologia. Adotaram parceria com a consultoria A.T. Kearney e trouxeram para cá o prêmio Best Innovator. O resultado foi uma lista radicalmente diferente da anterior. Afinal, o Best Innovator dá grande peso a como as empresas se estruturam para criar processos de inovação e quantos destes projetos chegam ao consumidor com retorno financeiro. Em linhas gerais, são premiadas empresas que conseguem transformar inovação em lucro. Ou seja, criar novidades se torna um processo, como a qualidade e o controle de estoque. As frases de Alfred Hackenberger, presidente da BASF (cuja divisão de tintas ficou em segundo na lista) para a América do Sul são emblemáticas desta forma de pensar inovação: “Ideia que não gera lucro é invenção” e “inovar não significa ter liberdade total”, disse ele na reportagem.

Agora as análises:

1. Copo meio cheio: este é o processo tradicional do capitalismo que acaba incorporando seus críticos. Quantos artistas radicais e rebeldes de ontem não se tornaram os novos campeões de vendas de hoje? A troca de músicas via pirataria está perdendo espaço para a venda barata de faixas no iTunes. A criação de novidades se tornou tão importante no mundo corporativo que hoje já se organizam formas para incorporar este procedimento, de forma padronizada, aos demais fluxos organizacionais e gerenciais das grandes empresas. E com bons resultados. Não há mais volta. A sociedade é digital, quer melhorias constantes, novidades e serviços que funcionem de forma simples e pratica sem pagar muito por isto. Ótimo.

2. Copo meio vazio: preconceitos à parte, tenho um pouco de medo de tornar a criação um processo. Não que inovar seja simplesmente lidar com o caos em estado bruto. Mas acredito que ao se organiza demais a geração de novidades e seus filtros, pode-se dar um tiro no pé. Inovar depende de um olhar novo, de uma mistura de concentração com divagação, da busca de referências em outros campos, de experiências diversas. Vai ser preciso muito esforço para encontrar um equilíbrio entre o processo corporativo e a manutenção deste frescor, desta vontade de pensar alem. Estamos colocando a inovação dentro da caixa?

sábado, 25 de setembro de 2010

A nova fronteira do compartilhamento na Internet








Duas grandes tendências parecem hoje apontar o nosso futuro: a massificação do uso da tecnologia digital, em especial a baseada na troca de dados por meio da internet, e uma maior conscientização sobre a importância de se conservar nosso planeta e preservar seus recursos naturais. Tomara.

É interessante notar que as duas podem se unir e gerar uma forte sinergia. As redes sociais tem sido forte fator de divulgação de conceitos inovadores no que se trata de buscar uma relação mais sadia com nosso meio ambiente. A tecnologia tem permitido desenvolver produtos como os leitores digitais que, no médio prazo, podem reduzir drasticamente o corte de árvores para produção de livros e revistas.

Mas talvez uma das possibilidades mais interessantes a ainda menos aproveitadas deste casamento seja o compartilhamento de bens físicos.

Na Wired de Setembro, Clive Thompson (sempre ele) conta o caso do francês Gary Cige que precisavam de uma furadeira para um trabalho rápido. Comprar uma para usar apenas por meia hora parecia desperdício (além do que, era domingo e as lojas estavam fechadas). Então ele percebeu que estava cercado de furadeiras, guardadas nas garagem das casas a seu redor, mas nenhuma delas estava a seu alcance. Nasceu assim o Zilog, serviço que, usando a dinâmica das comunidades digitais permite o aluguel rápido e barato de quinquilharias que compramos para usar de vez em quando – ou mesmo do carro que o vizinho vai deixar na garagem.

Pelos números apresentados por Clive, a ideia pegou. O Zilog tem mais de 150 mil itens disponíveis para aluguel e registra media de seis mil transações por mês. Mais, é o serviço de aluguel de carros de maior crescimento na internet francesa.

Mas o ponto aqui, para mim, não é apenas de empreendedorismo, ou de conseguir alguns trocados a mais alugando as coisas que você tem e não usa todos os dias. A grande questão é que ações como esta permitem um passo à frente no tal consumo consciente. Já parou para pensar no tanto de coisas que você compra e ficam paradas na sua casa? A web é uma ótima maneira de fazer estes objetos circularem e atenderem a necessidade de outras pessoas.

O formato das redes sociais, onde podemos conhecer a reputação de um desconhecido ou mesmo encontrar algum amigo em comum que possa fazer a “ponte” virtual ajuda a quebrar a barreira da desconfiança. Quem já usou o Mercado Livre, por exemplo, percebe o quanto estas ferramentas permitem aproximar e gerar negócios entre estranhos.

Na XPress, onde trabalho, estamos construindo, com base na intranet, um serviço interno que permitirá aos colegas emprestarem DVDs, Livros e Cds. Cada um lista seus itens e quem quiser ver determinado filme simplesmente pede. O sistema vai ajudar o dono a saber com quem está o material e desde quando. A proposta é dividir cultura e conhecimento pela agência, matéria prima básica da criatividade. E colocar para circular o material que fica parado na estante.

Este é apenas um exemplo do muito que pode ser feito para, inovando um pouco, aproveitar as redes digitais e gerar uma nova postura de dividir, não apenas informação, mas o acesso a produtos e serviços. Seu bolso e a natureza agradecem.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Desliga este micro e vai pensar












Ia deixar o assunto de lado por um tempo, mas ele veio ao meu encontro. Então correrei o risco de ser repetitivamente chato. Mas o motivo compensa. Quinta passada, em sua coluna semanal na Folha, o escritor e psicólogo Contardo Calligris, uma de minhas referências, abordou a importância da divagação para inovar. Vale citar: “Usando apenas o ‘controle executivo’ focado, conseguiremos cumprir adequadamente (mesmo assim, à condição de que não haja imprevistos), mas não inventaremos nada. A própria invenção científica (não só a criação artística) pede um uso simultâneo de controle executivo e divagação”.

No texto, Contardo lembra que o próprio Freud recomendava que, numa sessão de psicanálise, “os pacientes fossem escutados com atenção flutuante”. Segundo ele, a chave que leva nossa mente a encontrar a solução inovadora normalmente está em contexto diferente do problema a ser solucionado. Sim, as grandes invenções juntam elementos e conceitos que normalmente não estariam juntos. Ao focar apenas na questão, estaríamos barrando “pensamentos estrangeiros” onde pode estar o gatilho da criação.

O artigo oferece ainda links para duas pesquisas científicas sobre o tema (um aqui, outro aqui). A ciência, vale dizer, está mesmo enveredando pelo tema. Ainda na Folha, mas no seu encarte do The New York Times de 23 de agosto, que publicou como principal artigo reportagem sobre um grupo de neurocientistas dos Estados Unidos que decidiram experimentar na pratica os benefícios de desligar o cérebro do mundo digital.

Eles ficaram uma semana sem qualquer equipamento eletrônico no meio de um parque natural para entender como o excesso de estímulos digitais está mexendo com nossa atenção. Como um computador, temos um espaço aparentemente limitado em nossa mente para as atividades conscientes, a memória de trabalho. A tese destes pesquisadores é de que a ansiedade gerada pelos impulsos digitais – muitos ficam nervosamente esperando o que trará o próximo e-mail – estaria tomando parte significativa do espaço que poderia ser destinado ao raciocínio.

Ainda não há conclusões mas, segundo o texto os estudiosos perceberam na prática a diferença depois da semana que passaram desligados e estariam “aptos a recomendar um pouco de tempo ocioso como sendo o caminho para um pensamento mais ordenado”.

Voltando ao Contardo, ele encerra o texto dele sugerindo que se reveja nossa “hipervalorização da atenção focada”. Sugere o equilíbrio (sempre ele) entre foco e devaneio. Já eu sugiro que você desligue este computador e vá tomar um café.







Ah, te peguei. O que você ainda está fazendo aqui? Bom teimoso(a), se não vai desligar, aproveite e leia outros textos do CoffeeBreak sobre o tema:

Excesso de foco tira criatividade
Teorias CoffeeBreak: perder o foco é deixar a mente preencher as lacunas
Pesquisadores comprovam: CoffeeBreak pode ter razão

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Pensar é moer, moer é pensar



O cinema nacional parece finalmente acordar para os novos tempos. Fiquei muito bem impressionado com “Reflexões de um Liquidificador” não apenas pelo filme em si (uma bela e curta comedia de costumes falsamente despretensiosa) mas por toda a ação desenvolvida em torno dele. Pelo menos aqui em São Paulo.

Como costuma acontecer, meu primeiro contato com o filme foi o trailer que, preciso confessar, não me fez colocar a película (ainda se pode chamar um filme de película?) na lista de próximas a serem assistidas. Minha mulher, que estava comigo, se entusiasmou ainda menos. É importante notar que costumamos dar preferência às produções nacionais e que temos em casa, por exemplo, o DVD do ótimo “Saneamento Básico”.

“Reflexões” tinha tudo para cair no esquecimento até que um dia, checando novos seguidores no Twitter, dei de cara com o perfil @oliquidificador . Sim era ele, o personagem principal do filme, levando suas reflexões insólitas às redes sociais. Percebi então que havia algo mais naquela história.

Numa tarde de emenda de feriado decidi finalmente assistir “Reflexões de um Liquidificador”. Saltei do metro na Paulista e desci até o Espaço Unibanco da rua Augusta. Enquanto esperava na fila da bilheteria, outra surpresa: todo o cinema estava “vestido” com o tema da fita. Mais que isso: um cartaz apresentava a programação paralela do filme: curta-metragens abrindo as sessões, descontos para os horários da tarde e apresentações diárias de stand-up comedy no final do último horário.

Bingo! Transformaram a exibição num evento maior, agregando outros elementos, inclusive do teatro, gerando conteúdo para divulgação e ampliando a visibilidade do filme. Para complementar, o trabalho no Twitter busca causar estranhamento e gerar o boca-a-boca entre os formadores de opinião (sem cair no lugar comum de ficar divulgando horários e endereços das sessões etc.). Finalmente uma estratégia abrangente e inteligente de comunicação para o cinema nacional.

E os resultados? Bom, depende da expectativa. “Reflexões de um Liquidificador” não é o novo “Se eu fosse Você” e está longe dos primeiros postos da bilheteria brasileira. Mas está a várias semanas em cartaz em São Paulo e, no dia em que fui, com a sala cheia. O perfil do Twitter tem pouco mais de 300 seguidores, mas acho que o foco é mais qualidade do que quantidade.

Minha opinião, vendo de fora, é de que faltou um pouco de verba para divulgar melhor este trabalho. Pesquisando na Internet, por exemplo, não achei em lugar nenhum informações sobre a programação paralela no Espaço Unibanco. Se eu não tivesse ido ao local, talvez jamais tomasse conhecimento disso. Também acho que o liquidificador poderia ser mais ousado. Pedi a eles uma entrevista para o blog da XPress e, depois de aceitarem receber os dados sobre quem iria falar com “ele” jamais entraram em contato. Uma pena, pois uma estratégia tão diferenciada não merece morrer na praia. Afinal, “pensar é moer, moer é pensar”.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A TV do futuro tem cauda longa










A TV mudou. Mas continua a mesma. Nesta época em que tantos profetas garantem que as novas tecnologias baseadas na internet e no maior poder de processamento de dados de nossos equipamentos eletrônicos vai eliminar todos os veículos de mídia, sobrou até para a velha e boa telinha.

Com o crescimento da banda larga em países como os Estados Unidos, diversos serviços prometem entregar, nos computadores, conteúdo e entretenimento que pode substituir as emissoras tal qual as conhecemos hoje. Boxee, Google TV, Apple's iTV e mesmo a pirataria via BitTorrent oferecem filmes, séries e especiais a preços módicos ou simplesmente de graça. Além disso, agregam a comodidade de serem assistidos no momento em que o telespectador desejar, e não dentro de uma grade de horários definida pela emissora.

Em seu blog no Estadão.com, Rodrigo Martins cita pesquisa do instituto norte-americano PEW que aponta queda de importância da TV para o público daquele país. Segundo a enquete, a caixinha mágica é prioridade de consumo para 42% das pessoas. Este índice era de 64% há quatro anos. Após rápida enquete em seu Facebook, o Rodrigo avalia que muitos estão trocando a TV por vídeos no YouTube ou mesmo pelo velho e bom rádio. Interessante notar que, nos últimos anos, a audiência geral da TV no Brasil (número de aparelhos ligados) vem caindo de forma contínua.

Outra pesquisa norte-americana, porém, indica outro caminho. Segundo o site Gizmodo, pesquisa conduzida pelo New York Times e CBS News apontaram que 88% dos entrevistados no país do norte ainda são assinantes de TV a Cabo. Para o Gizmodo, o que fideliza o telespectador são programas esportivos ao vivo, o desejo de assistir os capítulos de algumas séries em primeira mão, a diversão gerada por simplesmente mudar de canais aleatoriamente e a (ainda) falta de qualidade nos vídeos longos acompanhados ao vivo na internet.

Talvez o que estejamos testemunhando seja a chegada da era da abundância à comunicação audiovisual. Ok, a TV a cabo já entrega mais de 500 canais hoje aos telespectadores norte-americanos. Mas a web não está se configurando como um competidor e sim como uma fonte de ainda mais opções. E, na média, o que o público está fazendo é ficando com tudo – mesmo que dividindo seu tempo entre as diversas possibilidades.

O fenômeno atinge a ponta da produção. Seguindo o roteiro do efeito “cauda longa” descrito por Chris Anderson, a possibilidade de distribuição barata e ilimitada amplia o leque de conteúdos ofertados. E, seguindo esta tendência, diversas marcas se adiantam para gerar ou patrocinar conteúdo relevante para seus públicos.

O encarte do The New York Times na Folha de S.Paulo da semana passada relata o caso de uma série criada para ser exibida na web sobre o cotidiano de uma trabalhadora comum que é patrocinada pela rede Ikea (aonde trabalha a personagem principal). Os episódios são um sucesso, com mais de 1,5 milhões de acessos mês. Aqui mesmo no Brasil, mas na TV aberta, a Nestlé patrocina e participa do conteúdo da inovadora série “Tô Frito”, exibida na Band e MTV.

Os otimistas olharão o copo meio cheio e dirão que teremos cada vez mais conteúdo disponível quando e onde desejarmos. Os pessimistas dirão que vai haver cada vez mais lixo circulando, num tipo de “poluição cultural” que vai gerar idiotas digitais. E os inseguros continuarão ligando na mesma emissora aberta de sempre. Bom ou ruim, o futuro já começou. Faça bom proveito.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Ficções CoffeeBreak: Notas para um roteiro de cinema





A comédia romântica tem estrutura simples. Pai inconformado com a escolha de sua filha desenvolve o plano perfeito. Conhecedor privilegiado de todos os desejos, vontades, manias e manhas da garota, vai usar estas informações para orientar o pretendente que ele, e não ela, elegeu.

Ainda melhor. Como toda a operação acontecerá em sigilo, o pai será ainda testemunha das diversas reações da moça e, assim, determinará ações táticas especiais – chocolates exatamente quando ela estiver triste ou uma serenata na noite em que brigou com o (ainda) namorado oficial. Não tem como errar, certo?

A graça, claro, virá das descobertas que o pai fará sobre sua menina. Ao contrário do que imagina, ele sabe muito pouco sobre sua intimidade. O conflito entre a visão romântica e ingênua que o personagem principal tem de sua prole e a realidade dos desejos e impulsos femininos podem render situações risíveis, em especial quando abordarmos como o progenitor fantasia (ou não) a vida sexual da jovem.

Com este ponto de partida, o leitor pode imaginar diversas cenas envolvendo o pai, sua filha, o namorado da filha e o pretendente patrocinado pelo pai.

Assim como em boa parte da atual produção cinematográfica, temos duas versões para o final. O primeiro, alinhado com a tradição da comédia norte-americana, é feliz. O desalinho entre como o pai via a filha e a realidade faz com que, no último minuto, ela opte por manter o relacionamento com o namorado que sempre amou. Ao ver a felicidade da garota, o pai confessa que, no fundo, esteve menos presente na vida dela do que deveria. O pretendente que ele queria ver vencedor, claro, se revela um célere odioso.

O final dramático, tipo cinema-cabeça-europeu é mais complexo. O esquema funciona e a garota se casa com o homem que seu pai ajudou. Se torna miseravelmente infeliz. Atormentado, o progenitor busca o rapaz que ele conseguiu afastar de sua prole. Sim, ele havia se tornado um perdedor, imerso em drogas e álcool. Quando o pai começava a se sentir aliviado, afinal, a frustração da garota seguramente seria ainda maior com este energúmeno, uma conversa com o dito cujo mostra que a separação foi crucial para levar o rapaz ao atoleiro atual.

A cena final se passa alguns anos depois. Numa festa de fim de ano, a filha revela que havia percebido toda a armação mas que, até por isso, optou por trocar o namorado pelo pretendente: teve medo de decepcionar o pai que tanto amava e respeitava. O olhar de terror do pai ao descobrir o sacrifício consciente da garota encerra a projeção.

FIM

sábado, 21 de agosto de 2010

Bem vindo à era da complexidade






Complexidade é o nome do jogo a ser jogado a partir de agora. Quanto mais a ciência e a tecnologia avançam, mais o óbvio fica claro: quase nada é tão simples quanto parece. Da obesidade ao resultado de nossos projetos profissionais, a quantidade de fatores envolvidos para gerar determinado efeito é enorme. E, para deixar as coisas mais divertidas, os vários elementos envolvidos interagem entre si e o resultado final é uma delicada trama onde todos tem um importante papel enquanto grupo.

Um bom exemplo vem da genética. Alguns anos atrás, quando cientistas começaram o trabalho de seqüênciar o DNA de diversos animais, entre eles o Homem, a expectativa era de que este mapeamento iria permitir, por exemplo, programar como nossos filhos seriam – a cor dos olhos, cabelo, pele, altura etc. A lógica parecia então irretocável. Sabendo qual gene é responsável por cada característica, seria possível “ler” como um embrião seria e, claro, mudar os genes que fossem necessários.

Infelizmente a realidade é bem mais complexa. Não é apenas um, mas sim um conjunto de genes que determina cada característica. E a interação entre eles ainda é desconhecida para a ciência. Precisamos começar a pensar muito além da velha fórmula de causa e efeito. A realidade, muitas vezes, é contra-intuitiva e desafia nossa visão simplista.

O sempre seminal Clive Thompson, num artigo para a Wired de Abril deste ano, aborda bem a questão a partir de um exemplo diferente. O último inverno foi especialmente rigoroso nos Estados Unidos. Com tamanhas tempestades de neve, muitos analistas começaram a questionar o aquecimento global. Afinal, as temperaturas não estavam aumentando? A resposta neste caso nem é tão complicada. A análise da tendência de temperatura deve ser feita no longo prazo, a partir de dados estatísticos de décadas, e não apenas a partir do curto prazo.

Para Thompson, a saída é aprender a ler estatística. Nunca antes o Homem teve acesso a tamanha quantidade de dados. Algoritmos em máquinas cada vez mais rápidas e potentes tentam ordenar estas informações. A matemática enxerga ordem no caos (vide o fenômeno da Cauda Longa) e o que nos resta é aprender a enxergar mais longe do que o senso comum.

Para quem trabalha com comunicação, o desafio é ainda maior. Para tornar uma informação fácil de ser compreendida para um público mais amplo, o comunicador normalmente tenta simplificar conceitos. Neste processo, um dos filtros mais importantes é exatamente o senso comum, paraíso de populistas e manipuladores.

Não há resposta pronta para esta questão. Apenas a certeza de que é preciso apurar o olhar e abrir a mente para questionar, em especial as soluções fáceis.

domingo, 8 de agosto de 2010

Descobertas CoffeeBreak: pires é o culpado pelo aquecimento global





Tomando café da manhã num hotel, pego uma xícara grande na pilha à minha frente. O objetivo é claro: buscar na cafeína algum alívio ao mau humor por estar trabalhando em pleno domingo. Simpático, o garçom me pergunta se quero um pires. Agradeço e digo não, disfarçando a raiva (absolutamente gratuita e injustificável) por terem me desviado do foco principal de existência naquele preguiçoso momento: litros e litros de café!

Depois, já sentado e saboreando a bebida, acabei me sentindo grato pela pergunta. Gerou a ideia deste post: para que, enfim, serve um pires?

Não, por favor, não pare de ler agora. A questão terá um sentido prático além do fastio matinal deste escriba. No momento em que a Humanidade é chamada a rever seus hábitos de consumo, com o desafio de continuarmos alimentando propriamente os bilhões de habitantes de nosso periclitante planeta azul nas próximas décadas, para que precisamos de um pires?

Não tenho absolutamente nada contra este pequeno e até simpático objeto, que muitos confundem, injustamente, com um prato de reduzidas dimensões. Alguns, fruto do trabalho de ótimos designers, oferecem formatos e cores inovadoras. Mas o ponto aqui é sua função prática. Qual seria? Evitar que gotas de café ou outra bebida menos nobre caiam no chão ou na mesa? (se eu fosse do tipo com humor negro e politicamente incorreto, escreveria agora algo como: por favor! Se você tem mais de cinco anos de idade, a menos que você sofra do Mal de Parkinson, tem a obrigação de conseguir beber seu café sem deixar que caia uma gota).

Nisto preciso render homenagem aos norte-americanos que, com sua praticidade, introduziram a mug, caneca que, além de receber uma quantidade substancial de café, elimina o uso de pires.

Imagine quantos milhões de litros de água seriam economizados em todo o mundo se ninguém mais usasse – e, por conseqüência, lavasse – o pires? E quantos litros a menos de detergente seriam jogados nos rios e lagos?

Apesar do tom jocoso, isto é sério: mudanças aparentemente pequenas em hábitos cotidianos podem ajudar muito a reencontrarmos o equilíbrio do planeta. No restaurante buffet do mesmo hotel onde me ofereceram o pires, passei a usar o mesmo prato quando queria repetir um alimento (a não ser, claro, que houvesse tomado sopa de entrada).

Esta é uma visão que pode (e deve) ser assumida pela indústria também. Que me perdoem os fabricantes de embalagens, mas porque preciso de uma caixa de papelão em volta de minha pasta de dente? Ou qual a função da caixa de cereais se dentro os flocos de milho estão envoltos num saco plástico? Não poderia ser como a granola, que vem direto numa sacola plástica? São apenas alguns exemplos (você leitor seguramente vai lembrar muitos outros).

O problema aqui (como em quase tudo) é que estamos tão acostumados a fazer, comprar e usar as coisas de determinada forma que não percebemos como podemos mudar nossas atitudes para fazer a diferença. E cobrar isto de quem fabrica o que compramos. Menos embalagens, com materiais recicláveis. Uso mais inteligente de objetos cotidianos. Isto é consumo inteligente. E sem pires, por favor.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Excesso de foco tira a criatividade





É tema recorrente de meus posts a questão do foco no trabalho. Não que faça apologia da dispersão. Ao contrário. Eu mesmo sou obrigado a me policiar muito e percebo que há momentos em que minha tendência natural é de, por exemplo, ficar clicando 300 vezes por segundo no enviar e receber do Outlook na esperança de ver uma nova mensagem que traga boas novas. Que bobagem.

Mas meu ponto é o do equilíbrio. Acredito que não existe inovação sem oxigenação. Num mundo onde buscar soluções brilhantes para problemas cada vez mais complexos virou obrigação não será possível continuar avançando fazendo tudo sempre igual. Então, de vez em quando, levantar o pescoço e olhar para o lado pode ser a melhor coisa a se fazer.

Citei o Daniel Pink num post recente do CoffeeBreak, comentando entrevista que li na Wired, onde ele tratava de sua teoria de que as formas tradicionais de motivação profissional, baseadas em recompensa e punição, não funcionam. Em seu lugar, pontua ele, deve-se buscar o engajamento da equipe. Num comentário, o Mateus, d’O Cappuccino me apresentou outro post sobre o Pink, no A Quinta Onda, que trazia o vídeo acima. São 18 minutos de pura inspiração (se precisar, ative as legendas em português clicando em subtitles).

Mas, por favor, preste atenção, logo no começo, quando Pink comenta o ponto que, segundo pesquisadores, enfraquece a prática das recompensas monetárias para tarefas que envolvem um pensamento mais complexo. Segundo ele, o problema da premiação é que ela torna a maioria das pessoas tão focadas, a mente tão concentrada numa meta específica, que elas simplesmente não conseguem ver nada mais em volta e pedem o poder de criar. Ou seja, segundo Pink, o excesso de foco cega o pensamento e bloqueia a criatividade. Bingo!

Ainda estamos numa fase de transição do trabalhador-máquina para o trabalhador-criador, onde aplicamos para esta nova classe de profissionais as regras de organização “produtiva” do século passado. Sim, a hora de virarmos a página já passou..

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Os grandes também erram. Por isso são grandes












A semana passada terminou com sabor de vitória para os que sempre torcem pela derrota dos “poderosos”. Afinal, finalmente dois dos maiores ícones da nova economia foram notícia por escorregões públicos. Sim, eles também fazem besteira.

A mais celebrada foi a da Apple. O próprio Steve Jobs teve que sair do seu Olimpo particular em Cupertino, Califórnia, para assumir que errou. O novo e celebrado iPhone foi lançado com um defeito. E, apesar das tentativas de Jobs de minimizar o caso, um defeito bastante grave. O telefone (sim, o iPhone também tem esta função) simplesmente para de funcionar quando o dono toca a borda lateral inferior do aparelho, onde fica sua antena.

Simples. É só colocar a mão ali e o sinal desaparece. Jobs se defendeu atacando a concorrência, pois smartphones rivais também tem áreas sensíveis que, obstruídas, interrompem a conexão. Acontece que, ao contrário do iPhone 4, nos demais a antena está na parte superior do aparelho, onde dificilmente o usuário irá manusear. Já segurar um celular sem tocar na sua lateral...

Mas Jobs não está só. Quase passou desapercebido, mas o Google também errou. Ou, pelo menos, assumiu publicamente o erro. Também esta semana a empresa divulgou que irá descontinuar a produção e venda de seu smartphone, o Nexus One. Motivo: foi um fracasso de vendas. Ponto. A empresa que centraliza a informação no mundo digital e, até por conta disto, deveria ter como conhecer e entender exatamente o que o consumidor quer, lançou um produto que ninguém quer.

O que isto significa: nada. Pelo menos no médio prazo, Apple e Google continuarão dando a luz para novos e revolucionários produtos e serviços que seguirão encantando consumidores como eu e você.

O importante, porém, é que eles erraram – e provavelmente continuarão a fazer bobagens, simplesmente porque é impossível inovar sem correr riscos, sem permitir o erro, sem ao menos tentar o novo. Por mais perfeccionista que Steve Jobs seja, sem se permitir imperfeições ninguém consegue revolucionar o mercado. E o iPhone 4 é simplesmente a prova disto.

Então, meu caro, trate de tirar da cara este risinho invejoso de quem pensa “olha só, os feras também se dão mal” e siga o exemplo de se permitir o risco do erro, caminho único para o novo. Sem falha.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Teorias CoffeeBreak: perder o foco é deixar a mente preencher as lacunas?






Atenção. Aviso ao leitor. Este é um post “ligando os pontos”. Informações e conceitos de fontes diferentes convergindo numa conclusão deste autor que pode (e provavelmente estará) completamente equivocada. Pior. Como diria a amiga Viviane Deeke, é um texto assumidamente cabeção. Enfim, você foi alertado, se passar deste parágrafo é por sua conta e risco.

Num loooonngo e interessante artigo de Atul Gawande, a Piauí de março último fala sobre alguns casos raros de coceira. O fenômeno intriga cientistas pois pode ser gerado tanto por fatores externos (a picada de um mosquito, por exemplo) como psicológicos. Vamos lá, um rápido exercício. Pense em dor. Ok, vc não sentiu nenhuma dor, certo. Mas é só pensar em coceira e, automático, a grande maioria de nos vai começar a se coçar. Vc já não está se coçando?

Enfim, algumas pessoas que perderam membros (pernas, braços) sofrem com coceiras terríveis nas partes que já não integram seu corpo. Chamada de sensação fantasma, este efeito ainda carece de explicação concreta pela ciência. Alguns acreditam que os nervos onde estes membros estariam ligados não cicatrizou direito. Outra teoria, defendida pelo artigo de Atul, é a de que boa parte dos nossos sentidos é gerada no nosso cérebro, unindo dados parciais gerados pelos nossos órgãos sensoriais (em sua minoria) e da nossa memória (a maior parte).

Estudos recentes identificaram que apenas 20% das fibras que chegam ao córtex visual primário (onde o cérebro “processa” as imagens) vem da retina e os demais 80% se originam na região onde fica a memória. Em resumo, recebemos informações pobres e incompletas sobre o ambiente onde estamos e nosso cérebro completa as lacunas gerando uma sensação bastante completa. É só pensar nos sonhos, onde vemos e sentimos de forma bastante real algo que não está acontecendo. Ou o comichão que sentimos ao pensar em coceira.

Se a teoria de preencher os espaços em brando não é realidade para nossas mentes, é para as máquinas. Reportagem da Wired de março deste ano mostra como uma nova tecnologia está criando equipamentos de ressonância magnética que conciliam altíssima definição e utlra-velocidade. Antes, imagens detalhadas necessitavam que o paciente ficasse imóvel por até dois minutos, o que era possível apenas com anestesia e tornava o exame inacessível para quem tinha restrições médicas aos sedativos.

O segredo é uma fórmula matemática que consegue preencher automaticamente os espaços em branco. Ele capta apenas cerca de 10% dos pixels que formam uma imagem, distribuídos por várias partes do original e deixa para um algoritmo completar os 90% restantes.Será que o processo utilizado pelo equipamento de ressonância magnética é o mesmo que temos em nosso cérebro? Se uma máquina consegue fazer isso, nossa mente não teria a mesma habilidade?

Um estudo com crianças de cinco anos de idade, relatado por Malcolm Gladwell em “O Ponto da Virada – The Tipping Point”, da outra pista de como nossa mente pode trabalhar. Estudiosos norte-americanos colocaram dois grupos de crianças para assistir ao mesmo episódio de Vila Sésamo. A diferença é que, enquanto o primeiro grupo ficou numa sala onde a única atração era a TV, o segundo foi para um espaço cheio de brinquedos. Claro que o primeiro grupo ficou muito mais tempo olhando para a tela que o segundo (87% do tempo no grupo 1 contra 47% no grupo 2). O surpreendente, porém, é que, perguntados sobre questões específicas relacionadas ao roteiro do programa, os dois grupos tiveram o mesmo nível de acerto. Ou seja, o grupo 2, mesmo dividindo sua atenção entre a TV e os brinquedos, absorveu todo o conteúdo. Comparando com o equipamento de ressonância magnética, eles captaram uma parte relevante e preencheram as lacunas do resto.

Talvez, e isto é uma teoria não comprovada de CoffeeBreak, seja mesmo mais produtivo, em algumas situações, ter menos foco e buscar uma visão mais ampla do todo. Será que é por isso que, exatamente quando não estamos pensando nas grandes questões, é que temos uma idéia de suas respostas?

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Pesquisadores comprovam: CoffeeBreak pode ter razão




Discretamente, CoffeeBreak completou em junho seu primeiro ano de vida. Para comemorar, um balanço diferente. Afinal, mês passado algumas publicações trouxeram pontos de vista alinhados com nosso blog. Não que tenhamos qualquer “culpa” – o poder de influência de CoffeeBreak ainda é limitado, mas é bom não se sentir tão.

A Wired de junho junta dois pensadores, Daniel Pink e Clay Shirky, que poderiam ter escrito posts aqui. O primeiro está lançando um livro (Drive: The Surprising Truth About What Motivates Us) sobre pesquisas que mostram que a motivação das pessoas, inclusive a profissional, está muito além do medo da punição ou do “estimulo” da recompensa (ou o binômio chicote/cenoura, como ele coloca). Segundo ele, existe uma questão de estímulo pessoal, de engajamento com uma causa que hoje é subestimado no mundo corporativo. Já Shirky escreveu Cognitive Surplus: Creativity and Generosity in a Conected Age, sobre como a internet levou milhões de pessoas migrarem da postura passiva de assistirem televisão em seu tempo livre para ações mais ativas como escrever um blog ou contribuírem para a Wikipedia.

Segundo Shirky, todo o conteúdo da Wikipedia representa mais de 100 milhões de horas de trabalho. Detalhe: sem qualquer remuneração! Para Pink, esta é uma das provas de sua tese de que a motivação pode ser muito mais ligada à satisfação pessoal de estar contribuindo efetivamente para a construção de algo positivo e que possa representar um avanço social do que a simples recompensa monetária. Os dois trabalhos citam uma pesquisa do psicólogo Edward Deci, da Universidade de Rochester que mostrou que se você passa a oferecer uma recompensa por algo que uma pessoa espontaneamente achava interessante, o interesse pelo assunto diminui. Já a punição pode ser mais libertadora do que castradora. Em creches israelenses, a implantação de multa para os pais que se atrasavam para retirar os filhos teve efeito contrário e aumentou os índices de demora.

Na Época de 28 de junho, o assunto é o trabalho em casa. Em entrevista, o empreendedor norte-americano Jason Fried, dono de uma empresa de aplicativos para a internet, afirma que o trabalho tradicional, com reuniões, telefones tocando e o chefe rondando para a cada dois minutos perguntar como os tarefas progridem é improdutivo. Em seu livro, Rework, ele prega que os profissionais devem ter ambientes mais calmos e, como alternativa, recomenda pelo menos um dia de semana de trabalho em casa (se o lar, claro, oferecer a tranqüilidade necessária).

Finalmente, entrevista com Christopher Meyer, especialista em tendências, para a edição de junho da Época Negócios mereceria ser reproduzida na integra (uma vez que a revista bloqueia o conteúdo para não assinantes). Além de cunhar o ótimo termo Worknets, para identificar uma nova classe de profissionais independentes que irá se organizar e trabalhar em redes conforme a demanda, abrindo as empresas para o mundo exterior, ele critica as empresas que teimam em tratar as redes sociais como se fossem mídias tradicionais, se fechando para o diálogo e fugindo de críticas que poderiam ser construtivas.

Enfim, se já não bastasse você, querido leitor, é sempre bom se sentir em tão qualificada companhia. Ainda mais em plena festa de aniversário.

sábado, 26 de junho de 2010

Melhor jogo da Copa até aqui: Dunga X Globo




Como a Copa é assunto em todo lado, numa destas conversas, em final de reunião de trabalho, uma das gestoras de comunicação corporativa que mais admiro se virou e disse: “e o Dunga ein, arrumando briga com jornalista, com a Rede Globo? Alguém precisa treinar melhor o moço”.

Do ponto de vista técnico e formal do profissional de gestão de relacionamento com a imprensa, ela tem toda a razão. Quando ministro treinamento para porta-vozes, uma das primeiras instruções em o que não fazer é: nunca brigue com um profissional de imprensa. Se ele tiver por trás dele a maior rede de TV do país, pior ainda. Se for no meio da cobertura do evento mais esperado pela população inteira, que mobiliza agendas, conversas e paixões... bom, melhor nem comentar.

Mas algo interessante está acontecendo. E merece atenção. Dunga foi flagrado pelas câmeras xingando um jornalista da Globo que, numa conversa paralela com seus chefes por celular, durante a coletiva depois do jogo contra Costa do Marfim, reclamava da dificuldade de entrevistar os jogadores. O “causo” ganhou repercussão por conta da própria Globo que se colocou no papel de vitima, levou ao ar as cenas de Dunga soltando impropérios contra o profissional e colocou o apresentador do Fantástico daquele dia, Tadeu Schmidt, para ler editorial em que afirmava que o treinador da seleção canarinho tinha comportamento não compatível com seu desempenho esportivo.

Pronto, o circo estava armado. Se, pelas regras do treinador, a TV Globo estava com dificuldade para cobrir mais profundamente o cotidiano da seleção (o que estarão fazendo os 300 profissionais da rede deslocados para a África do Sul), agora tinha conteúdo para deitar e rolar. Na falta de futebol, vamos falar mal do autoritarismo do técnico.

A emissora só não contava (será) com a reação do público via redes sociais. Depois de emplacar mundialmente o Cala a Boca Galvão, o brasileiro colocou o Cala Boca Tadeu Schmidt como novo líder do Trending Topics do Twitter. Interessante sinal de que, apesar de todas as criticas da imprensa com relação às barreiras que o Dunga colocou a seu trabalho (e não foi só a Globo que chiou não), das reclamações por conta da escalação questionável e ao futebol que ainda não convenceu, a população está mais para Dunga que para Globo.

Será uma reação a forma muitas vezes truculenta com que a emissora trabalha, exigindo, por conta de sua força no IBOPE, privilégios, exclusividades e afins? São muitas as histórias de coletivas paradas no meio por conta do horário em que a Globo precisava entrar ao vivo no ar (importante ressaltar que eu, pessoalmente, nunca presenciei algo assim). Acho difícil. São conversas que ficam nos bastidores do jornalismo e não são conhecidas pelo grande público.

Talvez a esperança de ganhar o titulo e de que, apesar dos pesares, o Dunga esteja certo é maior do que o ouvido que se dá à grande imprensa. Talvez Galvão, Tadeu e Globo tenham, no fim, menos poder do que acreditam. Talvez a opinião pública tenha resistência a opiniões e pontos de vista com interesse certo (e seja mais esperta do que se avalia para entender estes interesses). Talvez a própria imprensa e os jornalistas com sua postura de questionar tudo e todos esteja desgastada. Enfim, vale a pena acompanhar de perto.

Outro ponto interessante é o quanto ferramentas de redes sociais como o Twitter estão se tornando um canal independente de expressão da opinião pública, sem os filtros da imprensa – e inclusive criticando a mídia tradicional. A democracia agradece. Mas vale lembrar que a voz da maioria nem sempre é a fala da verdade – mitos, boatos e fantasias costumam ganhar corpo e se tornarem “verdade” para muitos, às vezes para a maioria.

E, voltando a Dunga, estamos agora num jogo de xadrez. Se o Brasil ganhar a Copa, ele manda um Cala Boca Globo gigante. Só que a emissora e sua voz oficial para o esporte, Galvão Bueno, não podem torcer abertamente contra ele – afinal, é o Brasil na copa do mundo. Se perder, Dunga nunca será perdoado e a culpa, infelizmente, será mais de sua postura com a imprensa do que do futebol em campo. Futebol?

terça-feira, 22 de junho de 2010

Quer “viralizar” sua comunicação? Atenção com a imunidade




O norte-americano Malcolm Gladwell é um dos meus ensaístas preferidos. O jornalista, que costuma escrever para a sensacional New Yorker, mandou três livros seminais para quem quer entender um pouco melhor o mundo das idéias: “Blink – A Decisão num Piscar de Olhos”, “Fora de Série – Outliers” e seu primeiro e mais importante para quem trabalha com comunicação, “O Ponto da Virada – The Tipping Point”.

Em “The Tipping Point” Gladwell analisa como uma informação, um conceito, se torna massificado. Em linhas gerais, ele acredita que as idéias e comportamento se espalham de forma muito similar a uma epidemia, num caminho parecido ao que os vírus usam para atingir milhares de pessoas mundo afora. Provavelmente seja daí a origem do termo “viralizar” quando aplicado ao marketing, de tornar uma mensagem viral.

Pois bem. Na versão em inglês revisada, Gladwell agrega um novo capítulo de conclusões (que desconheço se está presente na versão em Português). Nele, o autor apresenta o conceito de imunidade ao marketing viral. Óbvio. O ponto é o seguinte: o crescimento das redes de comunicação (sejam digitais ou não) amplia a oportunidade e a velocidade com que mensagens se disseminam. Mas, na mesma velocidade em que as redes evoluem, Gladwell acredita que aumenta a resistência do público às mensagens virais.

Ele dá como exemplo o telemarketing ativo. Após o estouro inicial, que acompanhou a popularização da telefonia dos EUA nos anos 70, o retorno deste tipo de canal de venda caiu mais de 50% nos últimos 25 anos. O motivo, simples: com o tempo as pessoas passaram a ser mais e mais resistentes a esta abordagem. O mesmo se repete para a publicidade indesejada via e-mail, o spam. Você leitor, sim, você, ainda clica neste tipo de mensagem? Melhor: você ainda lê spam? Vamos lá, hoje todos apagamos estas mensagens sem nem reparar no que se trata.

E como garantir então que a mensagem seja viralizada então? Uma estratégia pode ser aproveitar as “janelas de oportunidade”, quando as redes ainda são novas o suficiente para que este tipo de mensagem seja aceita sem barreiras – correndo o risco de associar sua imagem a uma postura invasiva e oportunista.

Outra é ouvir o conselho do próprio Gladwell e se render ao poder do velho e bom boca-a-boca, onde a mensagem é passada por pessoas reais que sejam confiáveis e espalhem o “vírus”. É aqui que as redes sociais ganham um poder enorme. Afinal, para o autor, quando as mensagens dos canais tradicionais se tornam banalizadas, a tendência natural é buscarmos conselho em nossa rede de conhecidos. E é nesse momento que o boca-a-boca (agora digital) faz a diferença.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

A Copa das Redes Sociais





A ficha caiu no final do ano passado, fazendo o planejamento 2010 de um cliente da XPress. Esta Copa do Mundo será diferente de todas as anteriores, pois será a primeira na qual poderemos contar com o recurso das mídias sociais como ferramenta para torcer, discutir, comentar, rir, xingar o juiz etc.

E o primeiro jogo do Brasil ontem (vai Robinho!!) mostrou isto. O fenômeno, na verdade, começou a se revelar antes, na abertura da Copa, quando a expressão Cala a Boca Galvão chegou ao primeiro lugar entre os Trending Topics (ou TTs) do Twitter. Enquanto escrevo o texto, quarta, 16 de junho, 9 da manhã, a frase ainda aparece como a mais tuítada do mundo. (me ajudem os leitores, mas acredito que é a primeira vez que temos um termo brasileiro liderando os TTs não?).

Enquanto alguns mudam de canal para ver os jogos e outros continuam na Globo para ter do que reclamar, Cala a Boca Galvão, novo grito de guerra da torcida brasileira (na falta de um herói, achamos o vilão), outros tentam ser “engraçadinhos”. Com rapidez surpreendente criaram a campanha Cala a Boca Galvão, para inglês ver, na qual cada vez que alguém tuítar a frase, R$ 0,10 serão destinados para salvar a rara ave amazônica Galvão. Segundo consta, já existe até a camiseta Cala a Boca Galvão.

Inclusive, minutos antes do jogo circulou o boato de que a Rede Globo havia conseguido uma liminar na Justiça para obrigar o Twitter a tirar do ar os Trending Topics. Bobagem, o TT sumiu por (mais uma) falha técnica do site.

Mas, voltando ao (fraco) jogo contra a Coréia do Norte, a CNN registrou mais de 6.300 tuítes por minuto com o tag #bra no final da partida. Sinal que muita gente usou a ferramenta para “falar” com seus seguidores durante ou depois da partida. E foi hilário. De comentários sobre a roupa de Dunga (para @MiltonRizzato ele usou o uniforme das paquitas) até análises sobre o jogo ou da trilha sonora das comemorações no Brasil (para @fchiorino se dependesse da música de Latino, Calypso e Molejo seriamos desclassificados na primeira fase), o Twitter foi dominado pelo futebol.

E as Mulheres, talvez por, na média, gostarem menos do esporte que os Homens, e conseguirem dividir a atenção entre o jogo e o micro (ou celular) protagonizaram alguns dos melhores tuítes – vale checar o perfil da @amandaansaldo e ler alguns ótimos. Este autor, que além de pedir a saída do Luis Fabiano (não jogou nada) comentou o trânsito louco em SP antes do jogo, acabou dando entrevista para um colega da Folha de S.Paulo sobre o tema.

Claro que ainda não se trata de um fenômeno de massa. Mas, para uma primeira experiência, está muito interessante e, especialmente, engraçado. Só fique atento aos boatos. Mas disto falamos num próximo post.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Cliente querido: ajuda-me a te ajudar




O cliente sempre tem razão. Pena que ele não sabe o que quer. Clássica, a frase de Henry Ford resume o paradoxo: Se perguntasse a meus clientes o que queriam, eles teriam escolhido cavalos mais rápidos. Contradizendo a voz comum, ele insistiu na sua visão e, a partir da linha de produção, criou o automóvel como o conhecemos hoje.

Ótimo. Nossa gestão deve colocar o cliente e seus anseios em primeiro lugar. Mas com isso, na maior parte das vezes, caminhamos a passos largos ao desfiladeiro do fracasso. No segmento da comunicação corporativa, isso é ainda mais verdadeiro. Clientes que muitas vezes não compreendem bem os fundamentos da comunicação mais querem mostrar serviço aos chefes acabam, muitas vezes, por buscar objetivos de curtíssimo prazo, forçando os prestadores de serviço do setor a assumirem táticas arriscadas e muitas vezes suicidas. Quando o resultado frustra a todos, a culpa é sempre do fornecedor.

O filme já foi visto por todos os que trabalham no setor. Quem nunca ouviu algo como “porque você não me avisou que este não era o caminho, afinal, pago para que me dêem consultoria”. Depois que você lembra ao cidadão que o havia alertado, ele reclama que você não avisou com a insistência necessária. Se você avisa com a insistência necessária, ouve a reclamação de que não está engajado no projeto, não vestiu a camisa ou que quer o caminho mais fácil. No final, esgarçada a relação, o cliente busca um novo fornecedor que não o lembre dos fracassos que deveriam ser compartilhados como aprendizado.

A questão, no meu ponto de vista, é que a falta de conhecimento impede que o cliente entenda como atingir seus reais objetivos, estratégicos, de longo prazo. Ao invés disto, fica preso às pequenas metas do dia-a-dia e acaba confundindo as bolas. Quem já acompanhou o lançamento de um novo produto de consumo, por exemplo, sabe bem o que é isso. O pessoal do marketing apresenta o conceito embasado por diversas pesquisas. Perguntado pelos institutos, a maioria dos consumidores alvo dizem que sairiam correndo de suas casas, desesperados, só para comprar a novidade se ela estivesse nas gôndolas. Lançado, o produto tem um desempenho pífio e logo encalha na prateleira.

Os marqueteiros mentiram? A pesquisa foi mal-feita? O consumidor faltou com a verdade. Nada disso. O problema é que, no fundo no fundo, nos não conseguimos ter certeza do que vamos querer, de que produtos ou serviços realmente irão resolver nossos problemas. Afinal, temos uma visão limitada pela nossa atual experiência e, na maioria das vezes, somos resistentes a mudanças radicais.

Eu, por exemplo, sempre disse que jamais largaria meus discos de vinil por aqueles CDs sem graça. Bobagem. Ainda tenho muitas bolachas guardadas mais não as ouço a muito. Viraram uma lembrança. Depois, quando o MP3 surgiu, levei um tempo agarrado a minha coleção de CDs que hoje está empoeirada em algum lugar no meu apartamento. Provavelmente, se perguntado, eu diria que os CDs eram uma besteira e que eu jamais trocaria meu toca-discos e minhas fitas cassete (!!!) por aqueles disquinhos coloridos. Questões de curto prazo – o investimento na troca de equipamentos, o acervo de LPs já adquirido, etc. e a ligação emocional com uma tecnologia conhecida e dominada me levariam a uma decisão que posteriormente abandonei.

Como driblar esta situação? Acredito que a saída é tentar entender o cliente de forma mais profunda. Ir além das questões imediatas e entender o que realmente importa para ele. Quais seus objetivos estratégicos no longo prazo. O que ele quer construir? O que realmente importa para ele? Levantando isto, é desenvolver uma estratégia de médio e longo prazo que entregue estes resultados e dividir isto com o cliente, bancar suas resistências iniciais (sempre o ponto crítico), acreditar no seu caminho e depois dividir os louros da vitória.

Claro que tudo pode dar errado, mas este é um risco inerente a nossa existência. Do meu ponto de vista, acho melhor, quando é possível, perder tentando acertar de verdade do que se entregar às pequenas negociações do cotidiano, atendendo todos os caprichos deste consumidor que sempre tem razão mais não sabe como chegar até lá.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

CoffeeBreak na estrada: Lima, no Peru, cria a verdadeira publicidade verde



Oscar Wilde poderia ter dito: “não confie numa cidade à beira mar onde nunca chove”. Mas isto não se aplica a Lima. A capital do Peru é cheia de contrastes e fatos interessantes. Na opinião de James Cimino, jornalista da Folha que passou alguns dias aqui e adorou, a cidade está nos anos 90.

Lojas de revelação de fotos dividem espaço com mercados populares onde se pode comprar um iPad wi-fi 32G por U$ 800. Nas ruas, o novo Hunday Tucson, ainda não lançado no Brasil, divide espaço com o Gol quadrado da primeira geração. Belos prédios com varandas e grandes janelas de vidro em Miraflores (bairro rico à beira mar) fazem o contraponto aos barracos mal acabados próximo ao Centro.

Nas bancas, chama a atenção a quantidade de jornais diários, em especial os populares. São pelo menos 10 títulos, sendo dois esportivos e um grande jornal, El Comércio. Ao mesmo tempo, lojas e até mesmo redes de rádio taxi estão no facebook.

Os taxis são provavelmente os mais baratos do mundo. Uma corrida do Centro a Miraflores, trajeto de cerca de 20 minutos, sai por cerca de R$ 7,50. Isso mesmo. Por outro lado, nenhum carro tem taxímetro e você tem que negociar direto com o motorista. Cada viagem, para um mesmo trajeto, tem preço diferente.

O trânsito, perto do brasileiro, é excelente. Mas pelo visto o peruano médio dirige de forma caótica e o que sobressai é um festival de buzinas enquanto motoristas param no meio da avenida para convergir à esquerda ou ficam cinco minutos falando com alguém na calçada segurando todo o fluxo. E, apesar de nunca chover (é sério) e da cidade ser muito plana, quase não se vêm bicicletas. São raras. Mais fácil ver jovens circulando de skate no meio dos carros.

O clima é um caso à parte. As casas não tem telhado pois o máximo que acontece aqui são chuviscos esporádicos. Chuva chuva mesmo é tão raro quanto terremoto em São Paulo. Em compensação, o sol também raramente dá as caras por aqui. O que mais se vê é um céu cinza, melancólico, uma névoa eterna que circunda a cidade. Nos oito dias aqui, vi o Sol uma única e afortunada vez. No mais, cinza, cinza, cinza.

Para os turistas, a atração são as ruínas de civilizações que ocupavam a cidade antes da chegada dos espanhóis. Grupos organizados e com uma arquitetura capaz de resistir aos terremotos, que adoravam a deusa Lua e eram dominados pelas Mulheres, rivalizando com os Incas, nos Andes, onde mandavam os Homens que rezavam para o deus Sol. O ponto alto de Lima, porém, além da simpatia do povo, é a culinária, onde o ceviche, as dezenas de variedades de batatas e os frutos do mar fazem a delícia dos visitantes.

E foi aqui também que vi a primeira publicidade realmente ecológica do mundo. Perguntei a jornalistas que conhecem outros países com preocupação ecológica como Alemanha, por exemplo, e eles também nunca haviam visto algo parecido. A geografia peculiar de Lima ajudou. Apesar de litorânea, a cidade está num planalto há 150 metros do mar, sobre falésias de pedra vulcânica. Algumas depressões neste planalto, que parecem mais com o que antes foi o leito de um rio, cortam a cidade. Mas, no lugar de água, o que hoje há são grandes avenidas. Uma delas, a “via expresa” liga o centro aos bairros mais próximos ao mar, como Miraflores e San Isidro.

E é na via expressa que se deu a inovação. Nas laterais da avenida, escarpas em 90º, foi plantada grama. E nela, foi feita a publicidade, usando grama em cores e formatos diferentes para desenhar marcas e slogans. Claro, com critério e espaçamento entre cada “inserção”. O resultado é uma solução agradável e discreta para os transeuntes, ao mesmo tempo em que ajuda a pagar a conta da obra do novo corredor de ônibus na via. Lições da cidade sem telhados.

domingo, 23 de maio de 2010

A internet como veículo de comunicação popular






Por conta de uma nova conta na agência em que trabalho, a XPress, semana passada fui a Teresina, no Piauí. Depois de conhecer as instalações do cliente, aproveitamos a viagem para visitar as redações dos principais veículos de comunicação do estado, numa lista preparada pela Ícone, assessoria de imprensa local da empresa. A relação de visitas tinha quatro endereços. Para minha surpresa, além dos dois grandes jornais da cidade, O Dia e Meio Norte, nosso itinerário contemplou dois portais de conteúdo, AZ e AcessePiauí.

Fiquei pensando. Em São Paulo temos grandes portais, como UOL, G1, Terra e Yahoo. Mesmo assim, se qualquer colega colocar no papel uma lista dos, digamos seis principais veículos, dificilmente os citaria. Antes de seguir, vale informar que, em Teresina, além do Acesso e do AZ, o Dia e Meio Norte tem importantes sites de conteúdo, sendo que na redação de o Dia a novidade é a reforma para construir os novos estúdios da TV o Dia, transmitida pela...web (além de um canal a cabo local).
Será então que, pensando em geradores de conteúdo locais, a internet é mais importante em Piauí – um dos estados mais pobres da nação, que em São Paulo?

Curioso, na visita ao Acesso Piauí perguntei ao seu diretor, Cantídio Filho, de onde vem a força da notícia na internet em Teresina. Segundo ele, além da relevância entre os mais abastados, a classe política e formadores de opinião, a web tem grande penetração entre os mais simples. O fenômeno das Lan Houses transformou a internet numa das principais opções de entretenimento barato Brasil afora. Muitos jovens que jamais leram um jornal e poucas vezes manusearam uma revista navegam com grande freqüência.

Lembrei na hora de viagens profissionais recentes a Uberlândia (MG) e Manaus, onde já havia me surpreendido com a relevância das redes sociais. Na cidade mineira, por exemplo, um dos principais formadores de opinião locais tem sua identidade desconhecida. Sob o codinome @uberlandia, a pessoa divulga informações e palpites sobre a vida política, social e cultural uberlandense que repercutem em toda a cidade.

Enquanto isso, aqui em São Paulo, considerada a mais rica e moderna cidade do país, muitos insistem em ainda considerar a internet um canal de segunda linha para divulgar informações e mensagens chave. Quantos assessores de imprensa já não ouviram a fatídica frase “a, mas só na internet” quando apresenta os resultados de seu trabalho? E, mesmo depois de explicar que muitos portais tem números de acesso maiores que os veículos impressos, terminar a reunião com sentimento de frustração por não ter atingido os objetivos do cliente?

Pior. Quando pensamos em estratégias de comunicação corporativa que devem chegar ao público das classes D e E, inserimos a web? Ou ainda consideramos que internet é espaço apenas para as elites? Será que é hora de mudarmos esta postura, que parte de uma visão preconceituosa que parece bem distante dos fatos?

Um detalhe importante porém: o mesmo Cantídio que me falou sobre a relevância da web para o público popular, explica que estas pessoas hoje buscam na internet basicamente entretenimento. Jogos, comunicação com amigos, redes sociais e música são, segundo ele, as principais atrações na rede. Notícias, as que atraem mais acessos são sobre celebridades, esportes e fatos inusitados. Ou seja, numa estratégia de comunicação para classes menos privilegiadas, o desafio talvez não encontrar estas pessoas, mas gerar o conteúdo correto para atrair sua atenção.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

A Cauda Longa do PR (parte 2): o desafio dos novos formatos





O post da semana passada foi sobre o fenômeno da Cauda Longa, na visão de Chris Anderson e seu possível impacto no mercado da comunicação corporativa do ponto de vista do conteúdo. Mas as mudanças que a revolução tecnológica podem trazer podem ser ainda mais profundas e estruturais. Alterações que são cada vez mais efetivas em outros segmentos e países.

Uma das grandes questões que deverá imergir é sobre o quanto a maioria das agências é horizontal. Ao contrário de diversos outros setores, o nível real de terceirização dentro das empresas de comunicação corporativa é mínimo. Mesmo com a ampliação do escopo de trabalho destas companhias, que nasceram fazendo assessoria de imprensa e hoje disputam o mercado de mídias sociais com a publicidade, a tendência na maioria dos players é de contratar e manter em suas estruturas unidades para desenvolver diversos serviços, mesmo os que ainda tem uma demanda baixa.

Indo um pouco mais longe: inclusive na gestão de relacionamento com a imprensa, que ainda é a principal atividade destas agências no país, as empresas cobrem de A a Z. Grandes e caros espaços finamente decorados em endereços nobres abrigam dezenas de profissionais que desenvolvem atividades que começam a virar commodity. Sim, pois pequenas empresas e mesmo profissionais independentes oferecem resultados muito similares aos grandes escritórios em projetos mais simples.

A diferença? É a inteligência, a criatividade, o planejamento. Mas hoje as grandes agências brasileiras de PR precisam de planos e planos mirabolantes para justificar uma execução muito bem feita, mas cara (não que as margens sejam grandes, pelo contrário, mas em relação a uma concorrência que, em alguns casos, remunera mal os profissionais e opta por soluções fiscais alternativas).

Uma das saídas pode estar na segmentação. E se tivéssemos agências de PR especializadas no planejamento estratégico e outras, menores, na implementação? Ou então, graças à tecnologia, poderemos ter equipes formadas por profissionais freelancers em várias partes do país ou do mundo, operando em sintonia por meio de ferramentas on-line de comunicação.

Há alguns meses li no jornal britânico The Guardian reportagem sobre uma empresa inglesa chamada PR Network. Como o próprio nome indica, trata-se de um serviço que congrega, por meio da web, centenas de profissionais independentes. A PR Network, então, seleciona entre seus associados os mais indicados para trabalharem em projetos específicos para clientes corporativos ou mesmo para outras em agências que estão precisando de profissionais avulsos para eventos ou ações especiais.

Com as novas ferramentas de comunicação e integração da internet, todos somos pequenas empresas de comunicação corporativa em potencial, que podemos nos unir em projetos ou agirmos isoladamente. Claro, ainda temos barreiras a uma atuação como esta, muitas delas de ordem cultural. Além disso, em alguns momentos o face a face é muito importante para gerar ideias ou absorver informações mais complexas. Mas a segmentação, a cauda longa do mercado de PR, pode trazer benefícios a todos os elos da corrente. E quem sair na frente pode ter vantagens competitivas.

O futuro é já. E nele, pensando na teoria da Cauda Longa, talvez tenhamos espaço para diversos formatos. Grandes agências horizontais que fazem tudo sozinhas, redes de agências médias, cada uma com seu diferencial, que se unem em projetos determinados, empresas especializadas num setor (esportes, por exemplo) que oferecem uma gama infinita de serviços com foco naquele conteúdo, e outras, focadas numa fase específica do trabalho, como pesquisa ou planejamento. São muitas as oportunidades, mas antes precisamos colocar nosso ego de molho e aprendermos a, efetivamente, trabalharmos em parceria. Será que conseguiremos?

terça-feira, 11 de maio de 2010

A Cauda Longa do PR (parte 1): Conteúdo é Rei




Em “A Cauda Longa”, o editor Wired, Chris Anderson, aborda um dos principais fenômenos gerados pela revolução tecnológica da microeletrônica na economia. Para resumir, ele pontua que o comércio digital expande de maneira praticamente infinita a variedade de bens disponíveis. Enquanto que no varejo tradicional a quantidade de itens oferecidos ao consumidor é limitada pelo espaço físico que a loja dispõe (a gôndola), na internet o espaço virtual para venda de produtos é infinito. Mais ainda: com a transformação de diversos itens em bits (música, filmes e livros, por exemplo), até mesmo o espaço necessário para estocar estes bens deixou de ser necessário.

Esta explosão na variedade da oferta causou o tal efeito da cauda longa. Música é um bom exemplo. Antes, poucos títulos de sucesso, os hits, eram responsáveis pela grande maioria das vendas. Hoje, os grandes hits continuam vendendo muito mais, porém, o nicho de milhares de músicas que vendem poucas cópias se tornou tão significativo que começa a representar, somado, um pedaço muito importante do mercado. Num gráfico em curva, os títulos com grande vendagem ficariam numa ponta, a cabeça, enquanto os de menor saída representam a cauda, hoje praticamente infinita.

Diferenças à parte, Anderson mostra que o fenômeno da explosão da oferta especializada se expandiu para praticamente todos os segmentos econômicos. Graças à internet, qualquer um pode gerar determinado produto ou serviço, que passa a estar à disposição do mundo. Como a Wikipédia já comprovou, passamos todos a ser geradores de conteúdo, produtores (remunerados ou não) de algo que pode ou não ser comercializado. E é a própria web que oferece o espaço onde quem compra e quem vende estão se encontrando – pense no e-Bay, por exemplo.

Passado este longo preâmbulo, vem a pergunta de CoffeeBreak: qual é a cauda longa no PR, na comunicação corporativa? De que forma esta mudança está mudando nosso mercado? E, antes que você simplesmente escreva um comentário dizendo que não muda nada, pense bem...

O próprio Anderson dá uma dica. Na nova edição norte-americana do livro, rebatizado de “The Longer Long Tail”, algo como “A Ainda mais Longa Cauda Longa”, ele inclui um novo capítulo no qual trata da “Cauda Longa do Marketing”. Além do caso da SUV Tahoe, da Chevy, que relatamos num post anterior, ele trata do projeto Channel 9, da Microsoft. Trata-se de um blog onde técnicos e profissionais comuns da empresa americana dão depoimentos sobre seu trabalho e explicam os bastidores da companhia de Bill Gates.

Inspirado num canal interno de áudio dos aviões da United Airlines, no qual os passageiros podem ouvir a comunicação entre piloto e torre, desmistificando a operação do avião e oferecendo maior sensação de segurança, o blog da Microsoft tenta mostrar os homens por traz da empresa vista por muitos como monopolista, fria e imperial. Para Anderson que, lembre-se, é jornalista, é nesta abertura, nesta transparência, que está o futuro da comunicação corporativa.

O exemplo de Anderson está alinhado à visão de CoffeeBreak de que todas as empresas se tornaram meios de comunicação – eis a cauda longa. Indo mais longe, as mídias sociais (fenômeno ainda insipiente quando o livro foi publicado) ampliam a repercussão desta empresa/geradora de conteúdo, convidando o próprio consumidor a também ser um “divulgador” da marca. O blog Dados e Fatos, no qual a Petrobrás passou a comentar as notícias sobre a empresa publicadas pela imprensa é um excelente exemplo deste futuro da comunicação corporativa (leia post sobre o blog aqui). Agências e profissionais, hoje ainda anestesiados no seu cotidiano de pautar a grande imprensa, precisam se preparar para a nova realidade – e retomar um espaço que hoje vai sendo ocupado pela publicidade.

O melhor, porém, é que este é apenas o começo. As possibilidades que as ferramentas digitais, a mobilidade e a conectividade permitem para o setor são incomensuráveis. Nenhum segmento mudou tanto, e de maneira tão rápida, quanto a comunicação. E os reflexos sobre o PR ainda se farão sentir de maneira equivalente. Além do conteúdo, a própria forma e organização do trabalho poderá mudar radicalmente. Mas isto é assunto para o próximo post...

sábado, 1 de maio de 2010

Ergam as barreiras, o metrô chegou

Não é verdade, comprovadamente. Mas, depois que ouvi mais que uma vez, de fontes diferentes, a mesma afirmação, percebi que, por trás dela existe outro fato que, este sim, parece ser infelizmente verídico.

Pesquisa recente, que refletiu em diversos meios de comunicação, mostrou que a inauguração ou mesmo o anúncio de novas estações de metrô faz a festa do mercado imobiliário. Atraídos pela facilidade, novos moradores se oferecem a pagar valores maiores para habitar estas regiões. O fenômeno, registrado recentemente em São Paulo e Rio de Janeiro, preocupa alguns urbanistas como a Raquel Rolnik, pois estaria afastando de bairros consolidados parte de seus moradores tradicionais, impossibilitados de bancar o aumento do metro quadrado.

Criticas a parte, faz todo o sentido, certo? Em megametrópoles onde ninguém em sã consciência quer conviver com o trânsito caótico, viver perto do metrô é valor agregado. Em minha incansável busca pela liberdade do carro, pesquisei alguns imóveis próximos às estações paulistanas. E foi então que tomei um susto. Mais de uma vez, ao visitar apartamentos mais distantes do que o esperado do metrô, ouvi o argumento: ah, mas imóvel perto da estação desvaloriza.

Contrariado, tentei entender o argumento por trás desta afirmação que, num primeiro momento, me pareceu puro nonsense. Piorou. A desvalorização ocorreria pela aglomeração de “pessoas esquisitas” nas redondezas. Gente simples, menos favorecida, que teria acesso ao local pelo transporte público, além de profissionais liberais que aproveitam o maior transito de pessoas para oferecer seus serviços (taxistas, ambulantes, camelôs, etc.).

Mesmo tendo pesquisas que provam o contrário, o fato desta falácia ser dita abertamente comprova que há muita gente em São Paulo que acredita nisto, ou para quem esta demonstração de discriminação explícita faz sentido. São pessoas para quem o ideal de cidade é pensada a partir de seu próprio umbigo, com espaço apenas para meus iguais, permitindo que eu me sinta membro de um espaço de privilegiados.

Até ai é triste mas cada um que faça sua terapia. O que “pega” mesmo é mais uma mostra de que a posse do carro é, para estes paulistanos, divisão entre quem pode e quem não pode, entre os eleitos para esta cidade perfeita e os invasores, bárbaros que deveriam ficar restritos à periferia. Para estes, o metrô não é uma solução de transporte – até porque não irão jamais se misturar com o populacho no aperto dos trens. Mas sim um portal que transporte para seu bairro uma horda de gente estranha.

Se continuarmos pensando assim, mais do que construirmos prédios sem entradas de pedestres, como denunciado aqui no CoffeeBreak ou termos um trânsito eternamente comprometido, em breve estaremos erguendo muros em torno de nossas ilhas urbanas e assim defendendo nossas mulheres e crianças sadias da barbárie das ruas. Pensando bem, já estamos fazendo isso faz um bom tempo, não é mesmo?

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Visões CoffeeBreak: o iPad é o novo laptop







Em nosso penúltimo post falamos sobre a estratégia de comunicação da Apple no lanç--amento do iPad. Pegando o embalo, vale discutir brevemente o produto em si. O tablet da marca da maça parece, numa primeira vista, com um iPhone tamanho XG. E esta é a origem de boa parte das criticas ao novo xodó de Steve Jobs.

Pouco menor que uma revista tradicional, o iPad faz tudo o que um iPhone faz. Reproduz e armazena músicas e filmes. Navega na internet. Permite ler e enviar e-mails, além de aceitar as milhares de aplicações independentes criados para o iPhone e iPod Touch. Tudo usando os dedos diretamente na tela, seja para digitar, seja para ativar os comandos.

Talvez pelo lançamento ter ocorrido no momento em que todos discutiam o sucesso dos “livros digitais”, em especial o Kindle, da Amazon, muitos viram na chegada do iPad a resposta da Apple ao novo segmento. Assim, a nova máquina seria um iPhone com uma tela grande o suficiente para substituir o papel na leitura de livros, revistas e jornais.

Em linhas gerais foi assim que a Época Negócios de março, por exemplo, tratou do equipamento, numa ampla reportagem de capa sobre o futuro da leitura. Para alguns, o iPad seria melhor que o Kindle por permitir inserir vídeos e interatividade. Outros avaliam que o tipo de tela do gadget da Amazon é menos cansativo para leituras por tempo prolongado.

Enfim, o novo brinquedo da Apple seria então um iPhone grande que nem como e-reader seria melhor que o Kindle? Para que eu, que já tenho smartphone e laptop, para que mais uma traquitana eletrônica?

Foi a edição da Wired de abril que recolocou nos trilhos a discussão sobre o iPad. Para a revista de Chris Anderson, a inovação da Apple e os demais tablets são a peça fundamental de uma nova revolução digital.

Relativamente baratos (nos EUA um iPad sai a partir de U$ 499,00, ou seja, menos de mil reais), leves (menos de um quilo), com capacidade de navegar com rapidamente pela internet e de processar ferramentas de produtividade como processador de texto, planilhas e apresentações, eles seriam o elo perdido para a inclusão digital e a mobilidade.

O futuro próximo imaginado pela Wired teria milhões de pessoas circulando com seus tablets a tira colo, trabalhando, lendo, se comunicando e se divertindo em qualquer lugar, a qualquer tempo. O avanço da cloud computing, tecnologia que permite usar programas e armazenar dados em servidores remotos na internet permite que micros pequenos e com pouca memória tenham desempenho de grandes, o que facilita ainda mais o sucesso dos tablets.

Assim, estes aparelhos seriam o companheiro ideal de quem quer mobilidade e capacidade de produção, substituindo com vantagem, na grande maioria das vezes, os laptops – que poderiam ficar em casa, como base para o tablet, armazenando arquivos e fazendo seu backup. Parece fazer bastante sentido. Bastante.
Entrando nesta onda futurista, CoffeeBreak também tem seu momento bola de cristal (se bem que esta ideia já deve ter sido pensada por centenas de visionários de verdade): e se lançarem (a Apple??) um laptop cuja tela se destaque do restante do aparelho e, uma vez solta, seja ela um tablet completo, com operação independente da base? Sim, seria o melhor dos mundos.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

O Que Que É Isso Companheiro?

Aqui na agência de comunicação corporativa em que trabalho só se fala nisto. Entre as pessoas que do meio que sigo no Twitter também. A gafe do colega da Máquina da Notícia que trabalha na comunicação digital da Telefônica caiu como uma bomba. Não é para menos. No momento em que o setor (ou pelo menos os profissionais com visão de futuro) briga para que o mercado perceba que a gestão das mídias sociais pode e deve ser feita pelo PR, uma das grandes empresas deste segmento derrapa na curva. Um prato cheio para os críticos: será que as agências de comunicação corporativa não tem a competência necessária para desenvolver o conteúdo e fazer a gestão do Twitter, Facebook, Flickr. Orkut e demais ferramentas 2.0 de grandes empresas?

O blogueiro Gregori Pavan, com outros colegas, acompanhava uma entrevista coletiva pela internet com um executivo da Telefônica, ação desenvolvida e acompanhada pelos profissionais da Maquina, que também são os responsáveis pelo Twitter da empresa de telefonia. Lá pelas tantas, ainda durante a entrevista virtual, talvez por conta do perfil crítico do colega, Fábio Camargo, que trabalha para a Máquina no atendimento digital da Telefônica, soltou no seu Twitter pessoal “Pensem num cara CHATO: Gregori Pavan é o nome dele”.

Segundo Pavan narra em seu blog, o Fábio ainda fez outros comentários em resposta a afirmações de seguidores para, na seqüência, apagar tudo e bloquear o acesso do Pavan a seu perfil no Twitter. Enfim, uma atitude absolutamente irresponsável.

Sim. É espantoso que um profissional que atua profissionalmente com mídias sociais não saiba o potencial que elas têm. Será que o Fábio não percebeu que comentar sobre um blogueiro no Twitter é praticamente o mesmo que falar cara a cara com o cidadão? Ele achou, em algum momento, que tal comentário ficaria restrito a seus seguidores? Seria muita ingenuidade. Ou acreditou que, como escrevia num perfil pessoal, poderia fazer desabafos de questões profissionais, citando nominalmente um blogueiro, sem envolver seu cargo ou cliente? Tão ou mais inocente, não?

A Máquina publicou um pedido oficial de desculpas, que é o que se espera da empresa, mas, claro, a polêmica está no ar. Como a própria Carla Dazzi, diretora da Máquina Web comenta, o ocorrido é mais um aprendizado desta relação com as mídias sociais. Porém, parece que estamos aprendendo devagar demais.

O ponto é que os erros não são apenas de agências de comunicação corporativa, como a Máquina, mas de agências de publicidade digital (leia aqui sobre a e-crise Visa/Walmart) e diretores da empresas (caso Locaweb). E, normalmente, os grandes erros acontecem pela pura e simples descrença do que todos nós vendemos: o enorme potencial de viralização das redes sociais.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Nos Bastidores do Lançamento do iPad





Há duas abordagens para CoffeeBreak comentar o lançamento do iPad: a vencedora estratégia de comunicação da Apple e nosso pitaco na discussão mundial sobre o futuro do aparelho (será ele uma inutilidade total ao apenas reproduzir parte das funções do iPhone com uma tela maior ou o tablet de Steve Jobs vai revolucionar o mundo?).

Pensando na comunicação, ela foi perfeita. Seguramente planejada com antecedência para criar diversos momentos e enfoques para repercussão na imprensa. Uma das grandes “sacadas” da comunicação da Apple é o pré-lançamento. Aproveitando blogs e demais veículos das redes sociais, a empresa, de forma bastante cuidadosa, deixou “vazar” a novidade.

O cuidado acontece na forma como o vazamento ocorre: fontes em of começam a comentar o que seriam informações de bastidor com semanas antes do anúncio. Num dos posts que li neste período, por exemplo (acho que no Mashable), o autor escreveu que um profissional da Apple disse ter visto caminhões e mais caminhões cheios de livros chegando na sede da empresa em Cupertino, Califórnia.

Trata-se de uma estratégia ousada. Normalmente as corporações repreendem funcionários que passam informações de bastidor para jornalistas (ou blogueiros). É uma forma de manter o controle dos dados e evitar que concorrentes ou investidores saibam de fatos que podem ter reflexo em seu desempenho. De alguma forma a Apple se organizou para que alguns profissionais assumam o papel de informantes da imprensa mas apenas levando dados “inofensivos”. Haja disciplina.

O importante, ao menos para a empresa, é que a ação funciona. Ainda mais porque, oficialmente, a comunicação corporativa da Apple nega sempre os “rumores”, o que só faz aumentar o debate (é este fato que me faz crer que o vazamento não sai da comunicação, que depois não teria credibilidade para suas negativas). Para aquecer o boca a boca, em algum momento a companhia informa a imprensa que fará um anúncio, mas não revela o assunto. Todos perguntaram, neste caso, se era o tablet, e a resposta oficial foi não.

Resultado: no dia do lançamento estavam TODOS lá – blogs, sites, imprensa tradicional, ansiosos para saber se era ou não o iPad. No fundo, todos já sabiam, mas ninguém tinha certeza. O cenário ideal para chamar a atenção e aumentar a curiosidade (e se for o tablet, como será?).

Outro detalhe importante nestes lançamentos da Apple é que eles ocorrem com a antecedência certa de sua chegada ao mercado. Tarde demais para a concorrência copiar, mas com tempo para criar a ansiedade pelo novo produto nos consumidores e, na imprensa, gerar um terceiro momento, a análise da novidade, que finalmente estará em suas mãos.

Claro, tudo isto só funciona porque os produtos são realmente inovadores e conseguem gerar o interesse e curiosidade da imprensa e do público final. E, como no pôquer, é preciso variar a estratégia para não ficar previsível. Se a Apple, por exemplo, continuar sempre negando fatos que depois serão confirmados, vai perder a credibilidade.

Mas, para quem trabalha com comunicação corporativa (como eu), fica um interessante estudo de caso. Especialmente quanto a integrar os blogs e mídias sociais num plano de divulgação para a imprensa, o que mostra, mais uma vez, que o papel de liderar a relação entre empresas e as redes sociais é do PR.

PS – O palpite do CoffeeBreak sobre o iPad fica para o próximo post.