quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Desliga este micro e vai pensar












Ia deixar o assunto de lado por um tempo, mas ele veio ao meu encontro. Então correrei o risco de ser repetitivamente chato. Mas o motivo compensa. Quinta passada, em sua coluna semanal na Folha, o escritor e psicólogo Contardo Calligris, uma de minhas referências, abordou a importância da divagação para inovar. Vale citar: “Usando apenas o ‘controle executivo’ focado, conseguiremos cumprir adequadamente (mesmo assim, à condição de que não haja imprevistos), mas não inventaremos nada. A própria invenção científica (não só a criação artística) pede um uso simultâneo de controle executivo e divagação”.

No texto, Contardo lembra que o próprio Freud recomendava que, numa sessão de psicanálise, “os pacientes fossem escutados com atenção flutuante”. Segundo ele, a chave que leva nossa mente a encontrar a solução inovadora normalmente está em contexto diferente do problema a ser solucionado. Sim, as grandes invenções juntam elementos e conceitos que normalmente não estariam juntos. Ao focar apenas na questão, estaríamos barrando “pensamentos estrangeiros” onde pode estar o gatilho da criação.

O artigo oferece ainda links para duas pesquisas científicas sobre o tema (um aqui, outro aqui). A ciência, vale dizer, está mesmo enveredando pelo tema. Ainda na Folha, mas no seu encarte do The New York Times de 23 de agosto, que publicou como principal artigo reportagem sobre um grupo de neurocientistas dos Estados Unidos que decidiram experimentar na pratica os benefícios de desligar o cérebro do mundo digital.

Eles ficaram uma semana sem qualquer equipamento eletrônico no meio de um parque natural para entender como o excesso de estímulos digitais está mexendo com nossa atenção. Como um computador, temos um espaço aparentemente limitado em nossa mente para as atividades conscientes, a memória de trabalho. A tese destes pesquisadores é de que a ansiedade gerada pelos impulsos digitais – muitos ficam nervosamente esperando o que trará o próximo e-mail – estaria tomando parte significativa do espaço que poderia ser destinado ao raciocínio.

Ainda não há conclusões mas, segundo o texto os estudiosos perceberam na prática a diferença depois da semana que passaram desligados e estariam “aptos a recomendar um pouco de tempo ocioso como sendo o caminho para um pensamento mais ordenado”.

Voltando ao Contardo, ele encerra o texto dele sugerindo que se reveja nossa “hipervalorização da atenção focada”. Sugere o equilíbrio (sempre ele) entre foco e devaneio. Já eu sugiro que você desligue este computador e vá tomar um café.







Ah, te peguei. O que você ainda está fazendo aqui? Bom teimoso(a), se não vai desligar, aproveite e leia outros textos do CoffeeBreak sobre o tema:

Excesso de foco tira criatividade
Teorias CoffeeBreak: perder o foco é deixar a mente preencher as lacunas
Pesquisadores comprovam: CoffeeBreak pode ter razão

Um comentário: