quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

A nova onda do trabalho flexível





O tema me persegue. Estava em Londres a trabalho e comprei o ótimo The Guardian. Mal começo a folhear o jornal e dou de cara com a manchete: Flex Appeal – como a recessão tem levado empregados e empregadores a repensarem a tradicional rotina de trabalho das nove às cinco (é o Reino Unido, não se esqueça) e adotar a agenda ultra-flexível.

A ideia é simples (apesar de, acredito, ainda não compatível com nossa legislação trabalhista): por meio da internet, empresas criam redes de profissionais dispostos a trabalhar por demanda, como freelances. Para os empregadores, ainda inseguros com a real necessidade de montar uma equipe fixa, a possibilidade de contar com mão de obra especializada apenas no período em que realmente precisa pode ser chave para sobreviver aos tempos bicudos de crise econômica.

E muitos trabalhadores começam a ver neste esquema, apesar da insegurança, uma opção para ter mais tempo livre para outros projetos (pessoais ou profissionais). Claro, estarão pensando alguns dos milhões de leitores de CoffeeBreak, isto não é novo. Não é, especialmente em alguns mercados de prestação de serviços como o dos jornalistas e assessores de imprensa, ou mesmo babás e faxineiras diaristas.

A novidade é que a internet e sua enorme capacidade de abastecer mercados de nicho está ampliando e acelerando este tipo de relação de trabalho, permitindo que mais empresas encontrem mais e diferentes tipos de profissionais em diversos locais. Mais, está também facilitando o trabalho à distância (veja post sobre o tema aqui), permitindo que muitos freelas desenvolvam projetos com pouco ou mesmo nenhuma presença física na sede do empregador.

Esta liberdade é a tendência. O mesmo Guardian apresenta reportagem sobre estudo de um centro de pensamento econômico norte-americano, o New Economic Foundation, de que a carga horária média no futuro deveria ser de... 21 horas por semana. Seria uma resposta tanto a problemas macro estruturais, como o crescimento do desemprego e desigualdade, quanto de questões pessoais, caso do desbalanço entre vida pessoal e profissional.

Um exemplo prático vem do estado norte-americano de Utah, onde a decisão de reduzir a jornada de todos os empregos públicos para quatro dias por semana gerou economia de energia, reduziu o absenteísmo e aumentou a produtividade. Os especialistas acreditam ainda que profissionais com maior equilíbrio entre trabalho e vida pessoal podem continuar empregadas por mais tempo, reduzindo a pressão por aposentadorias que hoje coloca em risco a economia de diversos países. A chave, dizem eles, é flexibilidade de empregadores e empregados.

De volta ao Brasil, abro O Estado de S.Paulo e dou de cara com que tema? “Jornada de quatro dias por semana – com carga horária reduzida, os funcionários ‘part time’ cumprem, em média, 25 horas semanais, abrindo possibilidade para um emprego extra ou maior dedicação aos estudos”, estampava a capa do caderno de empregos dia 14 de fevereiro.

É óbvio que uma jornada de 21 ou 25 horas semanais significará menores salários mensais. Mas, pensando que poderemos trabalhar por mais tempo e com mais qualidade de vida (e reduzindo todos os gastos diretamente ligados ao trabalho, como transporte e vestuário), pode ser um bom negócio no médio/longo prazo.

O importante é que já passou a hora de repensarmos nossa relação com o trabalho. Jornada flexível, escritório em casa (ou na praia, no café, ou no parque), carreiras paralelas, empreendedorismo. Com o avanço da tecnologia, mais do que nunca temos a oportunidade de buscarmos formas diferentes de organizarmos nossas vidas. Claro, se todos formos flexíveis.

Contando causos: o fiasco gerado pela busca da perfeição




Quanto mais experiência tenho, mais acredito no dito popular de que o ótimo é inimigo do bom. Ou seja, algumas vezes, o excesso de perfeccionismo (eu disse excesso) é o melhor caminho para o fracasso. Quantos profissionais não “travam” diante do medo da falha? Quantos projetos bem estruturados são abortados por não alcançarem padrões inatingíveis de excelência? Para exemplificar, se fossemos esperar a garantia de 100% de qualidade (seja em gramática, seja em correção de dados) provavelmente não teríamos nenhum jornal diário circulando no mundo – ou talvez eles fossem publicados apenas três ou quatro dias apos os fatos terem ocorrido.

A edição de janeiro da revista Wired traz um exemplo tão extremo que, se fosse ficção, seria criticado por irrealista. Em 1996 os então jovens empreendedores George Broussard e Scott Miller lançaram um dos mais bem sucedidos jogos de computador de todos os tempos, ‘Duke Nukem 3D’. Ficaram ricos e viraram celebridades entre os fãs de videogames. Hoje são um modelo de fracasso. Doze anos e alguns milhões de dólares depois, simplesmente não conseguiram entregar a continuação do game.

‘Duke Nukem Forever’ foi anunciado em abril de 1997, pouco mais de um ano apos o lançamento de ‘Duke Nukem 3D’. Seria o primeiro de uma série de seqüências cujo objetivo era fazer com que Duke Nukem fosse, para o mundo dos games, o mesmo que 007 é para o cinema. Pena que nunca saiu do papel. Broussard bem que tentou. Montou um time de profissionais na nova sede da sua empresa com Miller, a 3D Realms e se dedicou de corpo e alma a fazer o melhor e mais surpreendente jogo que jamais existiu. E esta foi exatamente sua maior falha.

Tudo tinha que ser perfeito. Dos personagens à animação, passando pelos gráficos e som. Com o dinheiro ganho com o primeiro jogo, investiram em diversos upgrades tecnológicos, trocando de plataforma sempre que uma nova versão surgia. Mas esta corrida ilógica contra o avanço tecnológico e uma perfeição inatingível mataram o projeto. Alguns pedaços do jogo chegaram a ser exibidos em feiras, arrancando elogios de fãs e críticos. Mas nunca estava bom o suficiente para Brossard. Até que, em 2009, quando o dinheiro finalmente acabou (segundo a reportagem da Wired, foram investidos pelo menos U$ 20 milhões), o projeto foi cancelado. Um fiasco histórico.

Fãs ainda sonham com uma continuação de Duke Nukem, que hoje virou tema de disputa judicial entre Brossard, Miller e a empresa que pagou para ter o direito de fazer a distribuição do novo jogo, morto antes de nascer pela busca da perfeição.

Por favor, não me entendam mal. Apesar de acreditar que as pessoas precisam perder o medo de falhar e arriscar mais (leia post sobre o tema)a, não sou favorável ao desleixo. Adoro coisas que funcionam bem, como o MacBook em que escrevo este post (Steve Jobs, de quem sou fã declarado, é reconhecido por sua mania de perfeição). Acho que devemos todos nos esforçar ao máximo para cuidar dos detalhes, minimizar erros e buscar a máxima eficiência. Mas acredito que há um ponto de equilíbrio em que é necessário correr alguns riscos e entender qual o melhor desempenho ou resultado possível dentro daquele contexto ou realidade.

Voltando ao exemplo dos jornais diários, hoje as editoras buscam identifica a quantidade de erros diários e trabalham para minimiza-los, mesmo sabendo que dificilmente chegarão ao zero. O objetivo é ter o melhor produto possível dentro das limitações que a industria oferece. Parece justo.

Crise Toyota: é hora da comunicação social assumir a web 2.0




Com base em material que a Cristina Toletti mandou de Boston, EUA, minha amiga Sonia Maia escreveu ótimo post para o blog da XPress sobre a crise de imagem da Toyota. Para sorte dos gestores da marca no Brasil, pouco se fala aqui sobre o que está ocorrendo no mercado norte-americano. Porém, lá a reputação do fabricante japonês corre grande risco. Foram 19 mortes causadas por um problema no acelerador do Corolla, que simplesmente começa a funcionar sozinho (importante: segundo um grande amigo que trabalha para a Toyota, não há nenhum veículo com o defeito no Brasil). Para piorar, logo em seguida a empresa anunciou um segundo recall, desta vez do híbrido Prius, até então novo cartão de visitas da Toyota, por materializar o que seria o mais próximo, até agora, de um veículo de massa alimentado por eletricidade.

Sonia detalha mais o caso. Para resumir, analistas internacionais avaliam que a marca demorou demais para agir no que se trata de comunicação. Em especial nas redes sociais. Se calou e, quando veio a público, sua imagem já estava desgastada. Em especial por conta das vidas perdidas por um problema não assumido – inicialmente a Toyota afirmou que se tratava de uma questão com o tapete, que estaria prendendo o acelerador.

Ainda falando do mercado dos EUA, a Toyota sempre foi reconhecida como uma das marcas que melhor lidava com as redes sociais. Em post que escrevi aqui no CoffeeBreak sobre pesquisa que associava melhor rentabilidade econômica de empresas com sua presença ativa na web 2.0, a Toyota estava em 21o lugar entre as 99 marcas avaliadas, sendo a primeira entre as montadoras de veículos.

Os críticos vão sair falando que é exatamente esta presença que gerou excesso de exposição e, consequentemente, a crise. Pois é exatamente que os especialistas em gerenciamento de crise e gestão de imagem norte-americanos estão refutando, conforme o post da Sonia. Para eles, a questão não foi a presença nas mídias sociais mas, ao contrário, a falta de pró-atividade nestes canais que colocou a marca em cheque. Como afirma Chris Anderson em ‘A Cauda Longa’, numa época em que o boca-a-boca e a opinião pública estão mais poderosos do que nunca, a falta de transparência é o maior dos pecados.

Mas, afinal, o que teria ocorrido na comunicação da Toyota? Provavelmente só saberemos com certeza no futuro, quando algum profissional da marca venha contar os bastidores da crise. Mas eu tenho um palpite, e dos bons. A ficha me caiu durante um encontro com lideranças internacionais de um cliente da XPress. Falávamos sobre gerenciamento de crise e a conversa migrou para as mídias sociais. Qual a preparação da empresa para as crises na web 2.0? A resposta, surpreendente foi, ãh, nenhuma. E, basicamente, porque os canais de redes sociais estão sob a tutela de vendas e publicidade, e não da comunicação corporativa do PR.

Será que o mesmo ocorreu na Toyota? Isso poderia explicar a lentidão nas respostas e, mais, num posicionamento pró-ativo diante da crise. Este é o meu ponto. Desculpem os colegas publicitários, mas quando se trata de construção de imagem nas tais mídias sociais, o ponto de vista deve ser o da comunicação corporativa. Afinal, estamos falando de um diálogo baseado em informação que deve ser crível, verdadeira, seja na hora de falar bem ou de se defender das críticas.

O case Toyota veio mostrar, para quem ainda tinha dúvidas, que é preciso estar pronto para lidar com crises na web 2.0. E, mais, que simplesmente não estar presente nas mídias sociais não é o caminho. Pelo contrário. E, do meu ponto de vista, estar pronto é ter a comunicação corporativa 100% envolvida nestes canais. E pronta para agir.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Trabalho em casa: uma proposta para os governantes






Volto ao tema porque ele repercutiu e acho que vale fomentar o debate. Começo a manhã lendo no Twitter post da @veja sobre o primeiro dia de trégua depois de 47 dias seguidos de chuva. Tema de capas de revista e especiais na TV, o fenômeno meteorológico é o assunto deste pré-Carnaval.

Só que, mais do que munição para os profetas do eco-apocalipse afirmarem que o aquecimento global etc etc etc, as constantes tormentas mudaram a vida de quem mora em São Paulo. E para muito pior. Além do óbvio sofrimento com enchentes, perda de dezenas de vidas e milhares de veículos, temos o impacto no trânsito, que afeta todos os paulistanos, independente de idade ou classe social.

E este impacto, antes concentrado no período da chuva em si – que na maior parte das vezes ocorreu no final da tarde, pleno rush do retorno às residências, agora se ampliou para o dia inteiro. Explico: como eu, acredito que a maioria de vocês leitores já recebeu pelo menos um convite para reuniões ou encontros de manhã ou, no máximo, no início da tarde, acompanhado do comentário “antes que comece a chover”.

Isto mesmo. As chuvas criaram uma nova regra e agora todos querem resolver seus problemas que envolvem locomoção, seja ir ao banco ou ao médico, seja um encontro de trabalho, antes do meio da tarde. Óbvio que os reflexos no trânsito foram imediatos. Agora estamos assim: congestionamento de tarde por conta da chuva e também de manhã por conta de todos os que querem fugir das precipitações.

Sem medo de ser repetitivo – ou melhor, assumindo mesmo a repetição – volto a bater na tecla do trabalho à distância, em casa, como um bom remédio para esta situação (e mesmo para o caos no trânsito em geral, independente das chuvas). Semana passada, em reunião com um cliente da XPress, discutimos novas tecnologias que permitem empresas integrarem seus funcionários via internet de maneira simples e rápida, com softwares disponíveis on-line (não é preciso nem mesmo instalar na máquina do profissional).

Hoje temos no Brasil uma banda larga de internet ainda cara e restrita a poucos. Giovana Battiferro (@giovanab) propõe que o governo conceda desconto para usuários pessoais que comprovem o uso da rede para trabalho em casa. Seria mais barato do que continuar ampliando eternamente as congestionadas vias de acesso a qualquer ponto da cidade e geraria um impacto positivo em diversos aspectos, da produtividade e capacidade de inovação das empresas ao impulso da educação e cultura. Simplesmente genial, não é Serra? Dilma?

Acredito que as empresas que começarem a se preparar hoje para ter uma rede de profissionais flexível, com dias de trabalho em casa e outros no escritório, podem ter uma grande vantagem competitiva no futuro. E os líderes políticos que incentivarem esta prática mostram a capacidade de buscar um país mais moderno. Ou será que vamos deixar nosso preconceito e a eterna desconfiança no outro nos escravizar a um padrão do século XX?

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

O poder da comunicação boca-a-boca







Clive Thompson dedica sua coluna de janeiro na Wired a um tema importante para quem pensa comunicação. Afinal, seríamos todos membros de um grande rebanho, consumindo, lendo, ouvindo e, por que não, votando com a maioria? O quanto a opinião geral nos influencia? Sinto informar mas, segundo recentes estudos científicos, a incomoda resposta é sim, somos todos ovelhinhas influenciáveis. Pelo menos a maior parte do tempo.

Thompson descreve o trabalho de Duncan Watts, que resumo a seguir: o pesquisador selecionou uma lista de 48 canções desconhecidas, que foram apresentadas para um grupos de pessoas. Cada pesquisado deveria então escolher suas preferidas, tendo acesso aos votos de outros integrantes de seu grupo. O estudo foi repetido com quase 13 mil pessoas reunidas em centenas de grupos. Ao final, cada grupo gerou um lista de músicas por ordem de preferência. O interessante é que todas as vezes as faixas se dividiram entre as mais votadas e as desprezadas – nunca houve uma distribuição equilibrada dos votos entre todas as ‘candidatas’. E, mais interessante, as listas nunca batiam. Cada grupo fazia uma seleção completamente diferente – canções que um grupo escolhia outro simplesmente ignorava.

No final, poucas músicas se destacaram por aparecerem com mais frequência entre as preferidas ou, na outra ponta, em meio às descartadas. A imensa maioria ficava no meio, escolhida por uns e não por outros, mostrando que a “qualidade” das composições não interferiu na seleção. Segundo Watts, o estudo comprova que as escolhas (em situações como esta) são majoritariamente guiadas pelo grupo. Tendemos a, sem perceber, escolher a mesma coisa que a maioria.

Outro estudo que descrevemos em CoffeeBreak comprovou a relevância das redes de relacionamento em nosso comportamento – o sucesso de atitudes complexas como tentar parar de fumar, por exemplo, têm grande dependência de como pensam e agem as pessoas com quem convivemos. A ciência comprova a velha máxima de que ninguém é uma ilha. Só que elevada à décima potência: somos todos fortemente influenciados pelos que nos cercam.

Esta é a lógica que dá força à comunicação boca-a-boca. Tornar um fato ou produto conhecido e gerar o tal buzz ou word of mouth (escolha seu termo da moda favorito no idioma de Shakespeare) em torno dele pode fazer toda a diferença para seu sucesso. Ainda mais se você conseguir atingir o público certo e ‘evangelizar’ os influenciadores do segmento. Neste processo, as redes sociais entram como um super acelerador, uma ferramenta que facilita o contato com estes formadores de opinião e amplia a velocidade com que as mensagens se espalham a partir deles.

Mas, voltando ao artigo de Clive Thompson, há um detalhe muito importante no estudo de Watts. Numa segunda fase, o pesquisador decidiu mentir a seus questionados, apresentando a mesma lista de músicas mas com indicações falsas de quais eram as favoritas. Parte dos pesquisados seguiu a indicação mentirosa e votou nas canções que acreditava serem as mais populares. Mas, desta vez, algo começou a mudar. Diferente da primeira fase, nesta etapa da pesquisa alguns dos entrevistados se ‘rebelaram’ e votaram em canções que estavam na base da lista. A aposta de Clive é que, de alguma forma, a mentira foi percebida e, com isto, todo o sistema colocado a baixo. Ou seja, para funcionar, o ‘poder do rebanho’ deve se basear em conceitos verdadeiros.

Esta ideia reforça a importância da comunicação corporativa (não publicitária) que muitos hoje, por falta de um termo melhor, chamam de PR – public relations, relações públicas em inglês. Por usar ferramentas de alta credibilidade para suas mensagens (divulgação na imprensa, especialistas independentes, mídias sociais etc.) o segmento tem grande potencial para iniciar ou amplificar o tal boca-a-boca. Quando as boas agencias de PR aprenderem a usar todo o potencial das redes sociais e seus clientes priorizarem conceitos verdadeiros, teremos uma soma vencedora.