quarta-feira, 28 de abril de 2010

Visões CoffeeBreak: o iPad é o novo laptop







Em nosso penúltimo post falamos sobre a estratégia de comunicação da Apple no lanç--amento do iPad. Pegando o embalo, vale discutir brevemente o produto em si. O tablet da marca da maça parece, numa primeira vista, com um iPhone tamanho XG. E esta é a origem de boa parte das criticas ao novo xodó de Steve Jobs.

Pouco menor que uma revista tradicional, o iPad faz tudo o que um iPhone faz. Reproduz e armazena músicas e filmes. Navega na internet. Permite ler e enviar e-mails, além de aceitar as milhares de aplicações independentes criados para o iPhone e iPod Touch. Tudo usando os dedos diretamente na tela, seja para digitar, seja para ativar os comandos.

Talvez pelo lançamento ter ocorrido no momento em que todos discutiam o sucesso dos “livros digitais”, em especial o Kindle, da Amazon, muitos viram na chegada do iPad a resposta da Apple ao novo segmento. Assim, a nova máquina seria um iPhone com uma tela grande o suficiente para substituir o papel na leitura de livros, revistas e jornais.

Em linhas gerais foi assim que a Época Negócios de março, por exemplo, tratou do equipamento, numa ampla reportagem de capa sobre o futuro da leitura. Para alguns, o iPad seria melhor que o Kindle por permitir inserir vídeos e interatividade. Outros avaliam que o tipo de tela do gadget da Amazon é menos cansativo para leituras por tempo prolongado.

Enfim, o novo brinquedo da Apple seria então um iPhone grande que nem como e-reader seria melhor que o Kindle? Para que eu, que já tenho smartphone e laptop, para que mais uma traquitana eletrônica?

Foi a edição da Wired de abril que recolocou nos trilhos a discussão sobre o iPad. Para a revista de Chris Anderson, a inovação da Apple e os demais tablets são a peça fundamental de uma nova revolução digital.

Relativamente baratos (nos EUA um iPad sai a partir de U$ 499,00, ou seja, menos de mil reais), leves (menos de um quilo), com capacidade de navegar com rapidamente pela internet e de processar ferramentas de produtividade como processador de texto, planilhas e apresentações, eles seriam o elo perdido para a inclusão digital e a mobilidade.

O futuro próximo imaginado pela Wired teria milhões de pessoas circulando com seus tablets a tira colo, trabalhando, lendo, se comunicando e se divertindo em qualquer lugar, a qualquer tempo. O avanço da cloud computing, tecnologia que permite usar programas e armazenar dados em servidores remotos na internet permite que micros pequenos e com pouca memória tenham desempenho de grandes, o que facilita ainda mais o sucesso dos tablets.

Assim, estes aparelhos seriam o companheiro ideal de quem quer mobilidade e capacidade de produção, substituindo com vantagem, na grande maioria das vezes, os laptops – que poderiam ficar em casa, como base para o tablet, armazenando arquivos e fazendo seu backup. Parece fazer bastante sentido. Bastante.
Entrando nesta onda futurista, CoffeeBreak também tem seu momento bola de cristal (se bem que esta ideia já deve ter sido pensada por centenas de visionários de verdade): e se lançarem (a Apple??) um laptop cuja tela se destaque do restante do aparelho e, uma vez solta, seja ela um tablet completo, com operação independente da base? Sim, seria o melhor dos mundos.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

O Que Que É Isso Companheiro?

Aqui na agência de comunicação corporativa em que trabalho só se fala nisto. Entre as pessoas que do meio que sigo no Twitter também. A gafe do colega da Máquina da Notícia que trabalha na comunicação digital da Telefônica caiu como uma bomba. Não é para menos. No momento em que o setor (ou pelo menos os profissionais com visão de futuro) briga para que o mercado perceba que a gestão das mídias sociais pode e deve ser feita pelo PR, uma das grandes empresas deste segmento derrapa na curva. Um prato cheio para os críticos: será que as agências de comunicação corporativa não tem a competência necessária para desenvolver o conteúdo e fazer a gestão do Twitter, Facebook, Flickr. Orkut e demais ferramentas 2.0 de grandes empresas?

O blogueiro Gregori Pavan, com outros colegas, acompanhava uma entrevista coletiva pela internet com um executivo da Telefônica, ação desenvolvida e acompanhada pelos profissionais da Maquina, que também são os responsáveis pelo Twitter da empresa de telefonia. Lá pelas tantas, ainda durante a entrevista virtual, talvez por conta do perfil crítico do colega, Fábio Camargo, que trabalha para a Máquina no atendimento digital da Telefônica, soltou no seu Twitter pessoal “Pensem num cara CHATO: Gregori Pavan é o nome dele”.

Segundo Pavan narra em seu blog, o Fábio ainda fez outros comentários em resposta a afirmações de seguidores para, na seqüência, apagar tudo e bloquear o acesso do Pavan a seu perfil no Twitter. Enfim, uma atitude absolutamente irresponsável.

Sim. É espantoso que um profissional que atua profissionalmente com mídias sociais não saiba o potencial que elas têm. Será que o Fábio não percebeu que comentar sobre um blogueiro no Twitter é praticamente o mesmo que falar cara a cara com o cidadão? Ele achou, em algum momento, que tal comentário ficaria restrito a seus seguidores? Seria muita ingenuidade. Ou acreditou que, como escrevia num perfil pessoal, poderia fazer desabafos de questões profissionais, citando nominalmente um blogueiro, sem envolver seu cargo ou cliente? Tão ou mais inocente, não?

A Máquina publicou um pedido oficial de desculpas, que é o que se espera da empresa, mas, claro, a polêmica está no ar. Como a própria Carla Dazzi, diretora da Máquina Web comenta, o ocorrido é mais um aprendizado desta relação com as mídias sociais. Porém, parece que estamos aprendendo devagar demais.

O ponto é que os erros não são apenas de agências de comunicação corporativa, como a Máquina, mas de agências de publicidade digital (leia aqui sobre a e-crise Visa/Walmart) e diretores da empresas (caso Locaweb). E, normalmente, os grandes erros acontecem pela pura e simples descrença do que todos nós vendemos: o enorme potencial de viralização das redes sociais.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Nos Bastidores do Lançamento do iPad





Há duas abordagens para CoffeeBreak comentar o lançamento do iPad: a vencedora estratégia de comunicação da Apple e nosso pitaco na discussão mundial sobre o futuro do aparelho (será ele uma inutilidade total ao apenas reproduzir parte das funções do iPhone com uma tela maior ou o tablet de Steve Jobs vai revolucionar o mundo?).

Pensando na comunicação, ela foi perfeita. Seguramente planejada com antecedência para criar diversos momentos e enfoques para repercussão na imprensa. Uma das grandes “sacadas” da comunicação da Apple é o pré-lançamento. Aproveitando blogs e demais veículos das redes sociais, a empresa, de forma bastante cuidadosa, deixou “vazar” a novidade.

O cuidado acontece na forma como o vazamento ocorre: fontes em of começam a comentar o que seriam informações de bastidor com semanas antes do anúncio. Num dos posts que li neste período, por exemplo (acho que no Mashable), o autor escreveu que um profissional da Apple disse ter visto caminhões e mais caminhões cheios de livros chegando na sede da empresa em Cupertino, Califórnia.

Trata-se de uma estratégia ousada. Normalmente as corporações repreendem funcionários que passam informações de bastidor para jornalistas (ou blogueiros). É uma forma de manter o controle dos dados e evitar que concorrentes ou investidores saibam de fatos que podem ter reflexo em seu desempenho. De alguma forma a Apple se organizou para que alguns profissionais assumam o papel de informantes da imprensa mas apenas levando dados “inofensivos”. Haja disciplina.

O importante, ao menos para a empresa, é que a ação funciona. Ainda mais porque, oficialmente, a comunicação corporativa da Apple nega sempre os “rumores”, o que só faz aumentar o debate (é este fato que me faz crer que o vazamento não sai da comunicação, que depois não teria credibilidade para suas negativas). Para aquecer o boca a boca, em algum momento a companhia informa a imprensa que fará um anúncio, mas não revela o assunto. Todos perguntaram, neste caso, se era o tablet, e a resposta oficial foi não.

Resultado: no dia do lançamento estavam TODOS lá – blogs, sites, imprensa tradicional, ansiosos para saber se era ou não o iPad. No fundo, todos já sabiam, mas ninguém tinha certeza. O cenário ideal para chamar a atenção e aumentar a curiosidade (e se for o tablet, como será?).

Outro detalhe importante nestes lançamentos da Apple é que eles ocorrem com a antecedência certa de sua chegada ao mercado. Tarde demais para a concorrência copiar, mas com tempo para criar a ansiedade pelo novo produto nos consumidores e, na imprensa, gerar um terceiro momento, a análise da novidade, que finalmente estará em suas mãos.

Claro, tudo isto só funciona porque os produtos são realmente inovadores e conseguem gerar o interesse e curiosidade da imprensa e do público final. E, como no pôquer, é preciso variar a estratégia para não ficar previsível. Se a Apple, por exemplo, continuar sempre negando fatos que depois serão confirmados, vai perder a credibilidade.

Mas, para quem trabalha com comunicação corporativa (como eu), fica um interessante estudo de caso. Especialmente quanto a integrar os blogs e mídias sociais num plano de divulgação para a imprensa, o que mostra, mais uma vez, que o papel de liderar a relação entre empresas e as redes sociais é do PR.

PS – O palpite do CoffeeBreak sobre o iPad fica para o próximo post.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Audácia Militar Fashion - A defesa de Jobim para Piauí Herald














Audaciosa ou suicida? Uma das mais ousadas estratégias reativas de comunicação não vem do ‘inovador’ setor privado, e sim do poder público. Mais especificamente do conservador e altamente hierarquizado Ministério da Defesa, ou seja, das Forças Armadas.

Em sua edição de fevereiro, a Piauí aumentou o tom das citações jocosas ao ministro Nelson Jobim. Com chamada de capa, a revista dedicou quatro páginas de sua Piauí Herald (uma fake publicação dentro da publicação) para um especial fashion militar estrelado pelo comandante civil de nossas tropas. Jobim aparece vestido de gladiador, viking, centurião romano e cruzado, entre outras versões. Sempre com impagáveis comentários no melhor estilo fashionista fake.

Nos tempos da Revolução, tamanha falta de respeito a um líder de nossas forças armadas seria motivo de grande crise institucional. (isto é, se chegasse a ser publicada, diante da censura daqueles dias). Sisudos, nossas lideranças fardadas jamais admitiriam ver o Ministro da Defesa ridicularizado. As fotos seriam motivo de revolta nos quartéis. O orgulho nacional estaria ameaçada.

Mas estamos numa democracia e os veículos de comunicação, ainda mais os que misturam humor e informação, tem liberdade para criticar e mesmo ironizar nossas autoridades. O problema saiu da esfera político-militar para os colegas da comunicação social do ministério. Pense bem. O que você faria nesta situação se fosse o responsável pela área?

Uma postura possível é ficar quieto. Simplesmente ignorar e não alimentar a polêmica. Como não se trata de uma reportagem, e sim de uma veiculação humorística, não há espaço para pedir uma errata. Provavelmente 80% dos assessores de imprensa iria escolher este caminho. Me incluo entre eles.

Outros 10% iriam tentar convencer o cliente a um encontro de relacionamento. O que aquele povo da Piauí tem contra nós? Vamos almoçar com o Mario Sergio Conti e tentar uma aproximação? Dependendo do perfil do cliente, poderia funcionar.

Os 10% restantes se deixariam levar pelos argumentos enfurecidos do cliente e fariam o que não deveriam: uma carta mal humorada e agressiva acusando a publicação de ser parcial, partidária e mal amada. Imprensinha marrom.

Mas ainda há quem pense e aja “fora da caixa”. Para minha imensa surpresa, a edição deste mês tem na capa a chamada “Jobim contra-ataca. Piauí Herald capitula diante das pressões do ministro maragato”. Pensei que eles voltariam à carga e, folheando a publicação, descobri que não havia reportagem, e sim um box na sessão de cartas. Nela um texto do José Ramos, coordenador de comunicação social do Ministério da Defesa informava que o ministro Jobim cumprimentava a revista pelo artigo.

Ainda mais. Segundo o texto, Jobim teria avaliado que “a revista conseguiu tratar da questão dos uniformes militares, sob perspectiva histórica, de forma muito criativa, bem-humorada e com o altíssimo bom gosto que a caracteriza” (grifo nosso). Ainda mais. Para fechar, a nota informa que o ministro sentiu falta de incluírem os “bravos guerreiros Maragatos” (????) e os “contemporâneos guerreiros Colorados”.

Óbvio que a revista publicou os perfis sugeridos e num texto bem humorado brincou com o ministro. E eu, como leitor, fiquei com uma imagem muito mais próxima do Jobim. Cara legal, pensei. Entrou na brincadeira, não se levou a sério. Não deixou o cargo ser maior que o Homem.

Será que nossos executivos de comunicação do setor privado se permitiram esta exposição descontraída?

quinta-feira, 1 de abril de 2010

As seis lições das e-crises Locaweb e Visa/Walmart

A semana começou com duas “crises” no universo das mídias sociais que tem muito mais em comum do que se percebe num primeiro momento. Por ordem cronológica: No final de semana Alex Glikas, um executivo da Locaweb, com apenas 200 e poucos seguidores no Twitter, virou alvo preferencial da torcida São Paulina por conta de um tweet aparentemente banal. Corinthiano, comemorou a vitória de seu time sobre o tricolor nas redes sociais com um típico “Chupppa Bambizada”.

O detalhe é que a empresa em que ele trabalha assinou contrato para patrocinar o São Paulo por dois jogos – o clássico contra o Corinthians e o empate sem gols de ontem contra o Monterey do México. E, para complicar um pouco mais, Alex citou a Locaweb no tweet.

De novo, foram apenas pouco mais de 200 seguidores de Alex que receberam a mensagem no início da noite de domingo. No meio da noite, nos típicos programas ‘mesa-redonda’ da TV, que discutem a rodada do futebol, a frase de Alex já era tema de discussão. Assim como em diversos sites e blogs. Ou seja, em menos de 4 horas o comentário infeliz viralizou no Twitter e ganhou a mídia tradicional. Resultado: mesmo depois de se desculpar, Alex perdeu o emprego e a Locaweb ficou com a imagem arranhada junto à torcida do time que decidiu patrocinar.

No mesmo momento em que o executivo da empresa se hospedagem ganhava o prefixo ‘ex’, a bruxa das redes sociais já estava atacando em novo endereço (ou seria URL?) e baixou no site do Walmart. A rede de hipermercados, em poucos minutos, de herói virou vilã no Twitter por conta de uma promoção, em conjunto com a VISA, mal administrada.

A idéia da ID/TBWA foi ótima: Desafiar a comunidade virtual a conquistar, por meio do Twitter, um mega-desconto em produtos de grande demanda. Se a empresa registrasse cinco mil tweets com o tag #JuntosPeloDescontoVisa, daria, por 24 horas, 200 reais de desconto na compra do Guitar Hero 5 no site do Walmart.

O único problema é que a promoção foi um sucesso. A tag foi parar nos primeiros lugares do Trending Topics (TT) local do Twitter e o Walmart deu o desconto. Mas o produto acabou em poucos minutos, devido à enorme demanda, e milhares de pessoas que ajudaram a promoção a ser um sucesso, se frustraram. Em pouco tempo, o tag que estava liderando o Trending Topics do Twitter era #FudidosPeloDescontoVisa.

As empresas argumentaram que o regulamento da promoção informava que o desconto poderia ser suspenso caso esgotasse o estoque do Walmart, mas isto não foi comunicado ativamente para ninguém – a promessa era que o desconto seria concedido por 24 horas. Em resumo. Ao contrário do caso do carro da Chevy que contamos aqui, na promoção Visa/Walmart tivemos um sucesso tão grande que se transformou em fracasso.

O que as duas crises têm em comum? Em ambos os casos houve um claro menosprezo pela potência das redes sociais. Alex, inocente, achou que o comentário ficaria apenas entre seus amigos que o seguem no Twitter. E Visa/Walmart avaliaram mal o potencial de venda da promoção. Como em outros casos similares, Alex e Visa/Walmart se viram numa situação em que perderam o controle sobre o que comunicaram. Como se isto ainda existisse.


O que podemos aprender com estas crises:

1) Você não sabe até onde sua mensagem pode chegar nas mídias sociais. Seguindo a velha regra matemática do 80/20, que rege o caos, a grande maioria das postagens morre, não repercute. Mas uma pequena parte dela (os 20% da regra) explodem e podem se tornar virais (veja o caso do nosso amigo do curling caseiro)

2) Então post apenas o que você tem certeza que não irá comprometer sua imagem ou de sua empresa, clube, associação, família etc. É simples: a internet é um espaço público. O que vc escrever estará aberto a TODOS. Então imagine que seu tweet pode aparecer no Jornal Nacional. Mesmo assim está confortável com o texto? Então siga em frente.

3) Imagine o pior (ou melhor) cenário possível e esteja pronto para ele. Se for fazer uma promessa, se prepare para que TODOS os usuários da internet cobrem por ela. O céu é o limite da sua mensagem nas redes sociais. Para o bem ou para o mal, esteja pronto para ele.

4) Lembre-se de que não há limites físicos na internet. Todas as mídias sociais estão interligadas. E podem ultrapassar seus limites através de antigas tecnologias como e-mail (lembra dele?) ou telefonia. Você pode divulgar sua promoção no Twitter e atingir toda a base de usuários de internet do país.

5) Defina regras claras para ações nas mídias sociais. Torne-as conhecidas de todos. Seja transparente e cumpra o que prometeu. Na internet de hoje não há espaço para as linhas miúdas.

6) Ponha seus limites e seja claro. Se, no lugar de oferecer o desconto por 24horas, Visa/Walmart pontuassem de saída que tinham X peças para vender com o desconto, provavelmente não teríamos crise.