domingo, 30 de janeiro de 2011

Memórias póstumas de um rato de shopping




Até que demorou muito para acontecer. Mas, no final da semana passada, o futuro da comunicação corporativa começou. Pelo menos no que se refere a gestão de crises. Em plena luz do dia, um rato apareceu na praça de alimentação do Shopping Iguatemi, considerado um dos mais luxuosos e elitistas do país. A presença do roedor causou tumulto entre os presentes – algumas mulheres subiram nas cadeiras, muitos gritos e alguma confusão. Que terminou com a presença certeira de um segurança do empreendimento. O pobre rato foi dizimado a base de sapatadas e terminou seu rápido minuto de fama no fundo de uma lixeira (segundo uma amiga que é do ramo, o destino final do animal mostra que ainda falta melhorar o treinamento da equipe para situações como esta).

O que o falecido camundongo provavelmente não imaginava era seu estrelato póstumo, digno de ex-BBB. A cena da sua presença entre os comensais do shopping, a perseguição que sofreu e seu funestro passamento foram destaque nos principais telejornais do país na mesma noite em que o fato se deu. Enquanto a nova presidenta ainda mantêm a rotina de aparecer às câmaras apenas quando estritamente necessário, o rato do Iguatemi virou estrela do noticiário. Destaque do Jornal Nacional à GloboNews.

Como uma cena simplória e inesperada virou notícia na TV? Estariam, para azar dos gestores do shopping, repórteres e cinegrafistas almoçando no Iguatemi naquele exato momento? Não. As imagens foram registradas por um consumidor, uma pessoa comum, usando um aparelho celular, e rapidamente foram compartilhadas com o mundo via YouTube. De lá para as emissoras de TV, foi um pulo, digo, um download.

O caso do rato do Iguatemi ilustra bem o tamanho dos desafios que os profissionais de comunicação corporativa tem pela frente. O casamento de milhões de câmeras espalhadas pelo país, embutidas em telefones celulares que até crianças carregam em seus bolsos, com o poder de divulgação das mídias sociais cria um cenário em que não existem mais fatos ou imagens que não sejam publicas. É como se, repentinamente, todas as paredes que cercam shoppings, hospitais, escritórios, escolas, lojas, fábricas etc. tenham sido postas abaixo. Pequenos deslizes que antes eram empurrados para baixo do tapete dos fatos privados se tornaram escândalos públicos potenciais. Convenhamos: terá sido a primeira vez na história do país que um rato aparece num shopping (mesmo que no Iguatemi)?

A grande questão é: os gestores de comunicação estão prontos para lidar com esta nova realidade? Como preservar a reputação de instituições, produtos e serviços nesta era do big brother corporativo? Algumas ideias no próximo post.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

WikiLeaks é a pedra no sapato da democracia?











Os políticos norte-americanos sempre proferiram uma crença muito grande no poder da liberdade de informação como não apenas um dos pilares a garantir o sistema democrático, mas como importante ferramenta para construir a própria democracia. Nos tempos da guerra fria entre capitalismo e comunismo, no século passado, os manda-chuvas de Washington sempre usaram ativamente veículos de comunicação para ajudar a derrubar regimes autoritários. Assim foi, por exemplo com a “Radio Free Europe”, estação que transmitia para os países socialistas da antiga Europa Oriental, divulgando informações contrárias aos regimes apoiados por Moscou.

O advento da internet ampliou esta prática. Se canais tradicionais como o rádio já, na visão norte-americana, aviam contribuído ativamente para derrubar o muro de Berlin, imagine o poder dos e-mails, sites, blogs e redes sociais? Em junho de 2009 o governo Obama teria pedido aos responsáveis pelo Twitter para que postergassem uma pausa de manutenção para não esfriar os protestos contra a reeleição supostamente fraudulenta de Ahmadinejad no Irã.

Tudo muito bonito quando estamos lutando juntos por um mundo melhor (sobe a trilha sonora melosa e entra a imagem da bandeira norte-americana tremulando e crianças sorrindo em ruas ricamente arborizadas com grandes casas sem muros e carros zero na garagem). Mas, e o WikiLeaks?

O serviço na internet que ficou famoso por revelar segredos militares e diplomáticos do governo norte-americano (e, por tabela, de outros países) pode ser avaliado como o cúmulo da liberdade de informação. Afinal, ele está permitindo que o cidadão comum conheça o que seus governantes fazem sem revelar em público, nos bastidores de quartéis e embaixadas. Os bastidores das decisões de líderes democraticamente eleitos e que, por isso mesmo, devem satisfações aos eleitores finalmente vieram à luz.

O grande paradoxo é que, diante deste excesso de claridade democrática, o governo dos Estados Unidos, que sempre defendeu a liberdade de imprensa, agora quer repreender e punir. Terá a liberdade encontrado seu limite? Será o discurso norte-americano uma falácia? O WikiLeaks realmente ultrapassou a justa barreira que os governos, mesmo os mais democráticos, precisam para proteger algumas informações justamente confidenciais? Talvez a verdade seja uma mistura de tudo isso e muito mais.

Mas, ideologias à parte, este caso é ótimo para nos levar à reflexão sobre o modelo de liberdade sem limites da internet, seus ganhos e suas perdas. Se, por um lado, temos como nunca acesso a informação em tempo real, por outro nossa privacidade muitas vezes fica ameaçada e a fonte ou veracidade dos dados se torna cada vez mais questionável. Será que conseguiremos nos auto-regular e encontrar sozinhos o equilíbrio ou, como na crise financeira de 2009, a “bolha” vai estourar? Façam suas apostas...

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Este blog não foi feito para você, leitor





A pausa forçada no final de 2010 me fez, novamente, questionar a simples existência do CoffeeBreak. Afinal, sejamos sinceros: com a demanda atual de trabalho (que tende a crescer) tanto dentro quanto fora do escritório, cada minuto de tempo “livre” passa a ter um valor inestimável.

Claro que me alegro em ver amigos e colegas lendo e comentando estes textos. Melhor ainda descobrir novos contatos por meio das redes sociais.Em alguns momentos dos últimos meses cheguei mesmo a acreditar que algumas mensagens deste blog poderiam fazer sentido para determinadas pessoas.

Mas não me iludo. Neste universo digital onde todos somos emissores, a quantidade de informações escrita e divulgada é avassaladoramente enorme. Existem diversos estudos sobre pessoas que sofrem de ansiedade e culpa por não conseguirem dar conta de tudo o que há para se saber. Muito do que é totalmente irrelevante. Dentro deste contexto, e com o número limitado de seguidores fixos, por que diabos continuar gerando mais lixo digital neste espaço?

A resposta é, infelizmente, a mais egoísta possível. Confesso: a grande motivação para continuar empurrando este elefante ladeira acima é que passar a ter este compromisso pessoal foi uma das maiores fontes de aprendizado que já tive desde que completei a faculdade.

A simples necessidade de buscar assuntos me fez prestar atenção em informações relevantes que garimpo no Twitter, na mídia convencional e em minhas leituras. Passei a carregar um caderno para anotar insights. Descobri outros blogs fantásticos e como há documentos, pesquisas, dados e apresentações geniais de graça na rede. Grandes autores colocam suas ideais na rede. Está tudo ai, pronto para ser usufruído.

“Ok. Mas se a motivação real é pessoal, se o autor esta pouco se lixando para quem lê, porque não escreve num caderninho e guarda na gaveta?” Existem duas respostas complementares para isso. A primeira: não é bem assim. O autor não está dando de ombros para o leitor. Como escrevi logo no começo, é muito bom receber o retorno e os comentários de quem lê. A segunda parte da resposta é que tornar os textos públicos aumenta o desafio, exige maior atenção e cuidado com a qualidade, o que faz toda a diferença do mundo.

Este é o maior presente que CoffeeBreak me proporcionou e é por isso que voltamos com força total em 2011. Se eu fosse você, começava a escrever um blog hoje mesmo. Recomendo.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Tudo o que não escrevi









Os últimos dois meses de 2010 foram... uma correria insana. Estava soterrado em trabalho, administrando uma reforma e segurando as pontas com as crianças enquanto a mulher encarava uma agenda de várias viagens a trabalho. Tudo isso é, sim, uma desculpa esfarrapada para eu ter sumido completamente das mídias sociais e abandonado o CoffeeBreak. Este é o primeiro post desde 3 de novembro de 2010, vergonha absoluta.

Durante vários momentos pensei em alguns temas para escrever. Mas, no final, sem condições de desenvolver as ideias (que nem são tão boas assim, para começo de conversa), deixei o buraco se alastrar. Ainda sigo sem tempo e sem grandes temas. Assim, decidi juntar num único post de desculpas estes rascunhos. Tudo o que não escrevi deste novembro:

Uma das ideias era retomar o tema carro x pedestre, que CoffeeBreak já abordou aqui, aqui e aqui. No final de semana no litoral norte me impressionou a falta de vergonha na cara que temos todos nós, motoristas. Dane-se quem anda a pé, o importante é conseguir parar o veículo em alguma vaga. Mesmo que seja na calçada. Condomínios de luxo e shoppings sofisticados onde o espaço das vagas de visitante é insuficiente e parte dos carros estaciona em pleno passeio. Isso na praia, onde as pessoas deveriam caminhar mais. Sei. O importante é exibir o carro símbolo de status e poder. Certíssimo.

Falando em carro e status, assustador ler na Folha de S.Paulo que os patrições conseguiram resolver o problema de trânsito para curtirem o feriado de final de ano em Floripa: foram de helicóptero. Ótimo. Mas então eles decidiram se locomover na ilha catarinense usando táxi e transporte público, certo? Alugaram um carro? Não, eles pagaram para transportadores levarem seus carros de luxo para a cidade e poderem se exibir parados no trânsito. Patético.

Outro assunto que pensei em explorar foram notícias que ouvi de casos de maus tratos a crianças registradas por câmeras de celulares. Os aparelhos, segundo o noticiário, teriam sido deixados no local por parentes desconfiados. Ótimo. Mas preparem-se (som de tambores rufando, por favor): a era do final da privacidade já chegou. São milhões, bilhões de câmeras espalhados em qualquer canto do mundo. Tudo o que você fizer poderá e provavelmente será registrado por alguém. Não importa se você está na sua casa ou dirigindo seu carro. Por hora temos exemplos do bônus disto – pequenas vítimas de violência doméstica estão mais seguras agora. Mas, o quanto falta para termos uma imagem fora do contexto incriminando um inocente? Aproveitando o exemplo, imaginem uma babá desesperada tentando salvar uma criança que se engasgou após engolir um objeto? Ela sacode o bebê, vira de ponta a cabeça, dá um tapa em suas costas. Imaginem a cena no noticiário, sem o contexto...

Viram só. Acho que o não escrito era mesmo melhor... que a nova década traga mais e melhor inspiração. Feliz 2011.