terça-feira, 11 de janeiro de 2011

WikiLeaks é a pedra no sapato da democracia?











Os políticos norte-americanos sempre proferiram uma crença muito grande no poder da liberdade de informação como não apenas um dos pilares a garantir o sistema democrático, mas como importante ferramenta para construir a própria democracia. Nos tempos da guerra fria entre capitalismo e comunismo, no século passado, os manda-chuvas de Washington sempre usaram ativamente veículos de comunicação para ajudar a derrubar regimes autoritários. Assim foi, por exemplo com a “Radio Free Europe”, estação que transmitia para os países socialistas da antiga Europa Oriental, divulgando informações contrárias aos regimes apoiados por Moscou.

O advento da internet ampliou esta prática. Se canais tradicionais como o rádio já, na visão norte-americana, aviam contribuído ativamente para derrubar o muro de Berlin, imagine o poder dos e-mails, sites, blogs e redes sociais? Em junho de 2009 o governo Obama teria pedido aos responsáveis pelo Twitter para que postergassem uma pausa de manutenção para não esfriar os protestos contra a reeleição supostamente fraudulenta de Ahmadinejad no Irã.

Tudo muito bonito quando estamos lutando juntos por um mundo melhor (sobe a trilha sonora melosa e entra a imagem da bandeira norte-americana tremulando e crianças sorrindo em ruas ricamente arborizadas com grandes casas sem muros e carros zero na garagem). Mas, e o WikiLeaks?

O serviço na internet que ficou famoso por revelar segredos militares e diplomáticos do governo norte-americano (e, por tabela, de outros países) pode ser avaliado como o cúmulo da liberdade de informação. Afinal, ele está permitindo que o cidadão comum conheça o que seus governantes fazem sem revelar em público, nos bastidores de quartéis e embaixadas. Os bastidores das decisões de líderes democraticamente eleitos e que, por isso mesmo, devem satisfações aos eleitores finalmente vieram à luz.

O grande paradoxo é que, diante deste excesso de claridade democrática, o governo dos Estados Unidos, que sempre defendeu a liberdade de imprensa, agora quer repreender e punir. Terá a liberdade encontrado seu limite? Será o discurso norte-americano uma falácia? O WikiLeaks realmente ultrapassou a justa barreira que os governos, mesmo os mais democráticos, precisam para proteger algumas informações justamente confidenciais? Talvez a verdade seja uma mistura de tudo isso e muito mais.

Mas, ideologias à parte, este caso é ótimo para nos levar à reflexão sobre o modelo de liberdade sem limites da internet, seus ganhos e suas perdas. Se, por um lado, temos como nunca acesso a informação em tempo real, por outro nossa privacidade muitas vezes fica ameaçada e a fonte ou veracidade dos dados se torna cada vez mais questionável. Será que conseguiremos nos auto-regular e encontrar sozinhos o equilíbrio ou, como na crise financeira de 2009, a “bolha” vai estourar? Façam suas apostas...

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