terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Tudo o que não sei sobre 2010

Eu estava escrevendo um texto super complexo, que poderá se desdobrar em pelo menos dois posts, quando me dei conta de que o ano está realmente acabando. É só olhar a redução na quantidade de tweets. Ou o trânsito finalmente um pouco melhor de São Paulo. Alguns sortudos já pararam, muitos estão com a cabeça nos preparativos para as festas e outros, como este escriba, alucinados de tanto trabalho para compensar a breve pausa de Natal e Ano Novo.

Então deixei o material sério para 2010, quando espero que haja leitores com paciência, e arriscarei um breve texto de final de ano – faltam menos de 10 dias e me pergunto se vou conseguir escrever de novo antes da virada.

Sou fã de listas e, por conta disto, sempre me pego lendo todo tipo de material sobre os melhores, os piores, os mais vistos, etc. etc. etc. E é isso mesmo que meus colegas das redações (e, acredito, dos blogs também) vão usar para ocupar o espaço normalmente dedicado às notícias que não acontecerão e aos artigos que ninguém quer ler (ou escrever).

Não sei quais as melhores, mais vistas, mais importantes etc. e tal de 2009. Também não me arrisco a afirmar o que vai acontecer no ano que chegará em breve (mesmo sabendo que nós, brasileiros, provavelmente iremos esquecer e ninguém me cobrará depois pelas bobagens ditas como sérias). Só tenho perguntas. E são elas que deixo para quem ainda estiver lendo este texto.

Será que o ego é mesmo o grande motor do mundo corporativo (para o bem e para o mal)?

O que queremos, no fundo, é ter razão ou saber a verdade?

O peso que o medo tem nas decisões, em especial as empresariais, estaria superestimado?

A cultura (no sentido antropológico) é a próxima fronteira da comunicação?

É possível o equilíbrio entre nosso impulso por conteúdo gratuito e a necessidade de remunerar quem gera material de qualidade?

As empresas perceberão que já estão nas novas mídias (e que agora é uma questão de lidar com esta realidade)?

A repulsa ao transporte público, à carona e às caminhadas é necessidade de auto(móvel)-afirmação? Ou é mesmo preguiça pura e simples?

O consumo consciente vai passar de tendência à atitude?

A tecnologia irá nos libertar ou finalmente nos libertaremos dela?

Todos seremos veículos de comunicação de massa?

Seguimos fazendo tudo igual, mas por caminhos diferentes?

Estamos questionando (ou preferimos a ilusão de nossas certezas pétreas enquanto o mundo continua a se mover)?

Estamos fazendo as perguntas certas? Ou apenas aquelas que justificam nossas respostas?

Na desesperada busca por certezas que talvez simplesmente não existam, continuaremos nos deixando levar por modas, profetas e gurus ou vamos aprender a pensar por nos mesmos?

O Santos será campeão brasileiro?

Que 2010 nos traga novas perguntas.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

"Você é escravo do trânsito"*



*frase grafitada na avenida Faria Lima, quase esquina com a JK, sentido Vl Olímpia






Juro que foi sem querer, mas pareceu aposta, competição. Ontem combinei de me encontrar, no final da tarde, com minha esposa num supermercado próximo a nossos escritórios, na rua Clodomiro Amazonas, Itaim. Como era rodízio de nosso carro, que estava com ela, acertamos que eu iria a pé até o local.

Minha mulher saiu de seu escritório, na Juscelino Kubitschek sentido Marginal, quase na esquina com a Henrique Chamma, às 19h45. Foi de carro, pela rua Leopoldo Couto de Magalhães Junior, para fugir da fiscalização do rodízio (!!!!). Dei 15 minutos de vantagem (rs) e sai do meu escritório na rua Gomes de Carvalho, quase esquina com a Lourenço Marques, às 20h02. Fui andando. Exatamente 20h17 cheguei ao destino e liguei para Adriana. Tinha certeza de que ela já estava com o carrinho cheio de guloseimas natalinas. Ela não atendeu. Tentei de novo. Nada. Comecei a procurar o carro no estacionamento (queria guardar minha bolsa) e não achei. Sim. Ela ainda não estava lá. Dois minutos depois nosso carro (por uma questão de ecologia e economia fazemos questão de ter um só) apontou na entrada do Pão de Açúcar. Levei 15 minutos e ela mais de meia hora.

Na saída do meu escritório, desci no elevador com um colega de trabalho. Contei para onde ia e como. A reação do moço foi uma síntese de como pensamos: mas vais a pé? (ele é gaúcho). Bah! Espera alguém sair de carro e pegas uma carona. Ainda bem que optei por seguir caminhando.

A infeliz realidade de nossa cidade é que, em muitas situações, caminhar é mais rápido (e econômico, e saudável etc etc etc) que ir de carro. E enquanto todos ainda tivermos nossa mentalidade voltada ao automóvel como primeira (e única) opção para nos locomovermos, isto tende a piorar. E muito.

Minha opinião (e como não sou pesquisador ou antropólogo é apenas isto, uma opinião) é de que o pano de fundo deste fenômeno é cultural. O brasileiro super valoriza a hierarquia. Cargos, status, condição social importam sim. E muito. Desde a cadeia, onde quem tem diploma de ensino superior tem direito a tratamento diferenciado, até a mais simples de nossas relações, nossa posição determina o quanto de cidadania temos acesso. E o carro é mais um indicador claro de quem é quem. “Dotor” anda de carro, “mane”, a pé. Simples assim.

Só isso explica porque uma cidade onde, como levantou a Raquel Rolnik, 40% dos deslocamentos acontecem à pé (dados oficiais), os semáforos para pedestres de grandes avenidas são regulados para liberar o fluxo de veículos por diversos minutos e depois concede 20 segundos (sim, você leu certo, 20 segundos) para os transeuntes.

Acho que precisamos sair da nossa zona de conforto (falsa, pois ficar preso no trânsito esta cada vez menos confortável) e pensar em outras saídas. Uma grande amiga postou outro dia no Twitter que está impossível chamar um rádio táxi em São Paulo. Você fica 20 minutos esperando para a atendente falar com você e avisar que a unidade mais próxima levará meia hora para chegar. Preciso de um carro, disse ela. Você tem que levantar da cadeira e pegar um táxi na rua, disse eu. Numa época onde os confortos estão cada vez mais desconfortáveis, é hora de se mexer e pensar diferente.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

e-crise. Sete dicas para blindar sua marca nas redes sociais



No post de segunda escrevi sobre como algumas tecnologias estão mudando (para pior) o cenário das crises de imagem corporativa. As redes sociais se tornam um canal rápido e extremamente poderoso para a divulgação de queixas, críticas e, como mostra o recente caso do cantor Dinho Ouro Preto, boatos. A proliferação de celulares com câmeras embutidas cria um contingente, como diria nosso presidente, nunca antes visto de fotógrafos e cinegrafistas se esgueirando em cada esquina.

Mas como as empresas devem lidar com esta nova realidade? Somando minhas experiência profissional no gerenciamento de crises mais os casos bem sucedidos de empresas como a Dominos’s Pizza, tenho algumas pistas:

1. O nome do jogo é agilidade – a dinâmica das redes sociais é a da viralização, onde uma mensagem se espalha de alguns poucos emissores para redes cada vez maiores e complexas. Quanto antes se agir para interromper este fluxo, menor o impacto.

2. Monitoramento – simples: se você desconhece quando uma e-crise começa, como poderá agir rapidamente. Certamente esperar que uma situação destas saia do universo das redes sociais para cair na mídia tradicional será tarde demais. Monitorar sua marca nas redes sociais é mandatório. Ponto.

3. Você tem que estar preparado – mais um reflexo do primeiro item. Só tem agilidade na resposta quem está pronto para levantar informações, desenhar cenários e tomar decisões a toque de caixa. Para isto não é necessário ser um super-homem, mas uma preparação prévia com a instalação e de um comitê de crises, desenvolvimento de um manual com processos para as mais diversas situações possíveis e o contínuo treinamento de todos os envolvidos.

4. Espere o pior – desde a fase de preparação, é importante prever o pior cenário possível e trabalhar com ele como uma possibilidade real. Em especial no que se trata do controle da informação/imagens, hoje a probabilidade da situação rapidamente se tornar crítica é muito maior do que há alguns meses atrás. E ficara ainda maior no futuro próximo.

5. Fortaleça suas conexões – quem já conhece o ambiente das redes sociais, está estabelecido e com um contingente razoável de seguidores/fãs sai em franca vantagem numa situação de crise. Além de já conhecer a linguagem e contas com um canal de comunicação dentro da web 2.0, as pessoas com quem sua marca interage de forma positiva podem se tornar defensores da empresa.

6. Cultive sua credibilidade – este é um dos principais ativos de qualquer marca, seja online ou off-line. E o momento de crise é um dos que mais exigem que a empresa/produto utilize esta munição em seu favor. Uma boa reputação nas redes sociais, cumprindo promessas, seguindo a “ética” e “etiqueta” do universo 2.0 vai abrir espaço para que a empresa seja, no mínimo, ouvida numa situação adversa.

7. Primeira pessoa – o ambiente das redes sociais é marcado pela desconfiança. Nem todos são quem parecem e muitos assumem perfis falsos. Apesar disto – ou provavelmente por isto mesmo – seus usuários valorizam a pessoa física em detrimento da jurídica. Não que marcas e empresas não possam participar ativamente, mas numa situação de crise, é a hora de uma pessoa de carne e osso, um executivo (de preferência bem colocado hierarquicamente) assumir o discurso. O poder da mensagem cresce consideravelmente.