sábado, 25 de setembro de 2010

A nova fronteira do compartilhamento na Internet








Duas grandes tendências parecem hoje apontar o nosso futuro: a massificação do uso da tecnologia digital, em especial a baseada na troca de dados por meio da internet, e uma maior conscientização sobre a importância de se conservar nosso planeta e preservar seus recursos naturais. Tomara.

É interessante notar que as duas podem se unir e gerar uma forte sinergia. As redes sociais tem sido forte fator de divulgação de conceitos inovadores no que se trata de buscar uma relação mais sadia com nosso meio ambiente. A tecnologia tem permitido desenvolver produtos como os leitores digitais que, no médio prazo, podem reduzir drasticamente o corte de árvores para produção de livros e revistas.

Mas talvez uma das possibilidades mais interessantes a ainda menos aproveitadas deste casamento seja o compartilhamento de bens físicos.

Na Wired de Setembro, Clive Thompson (sempre ele) conta o caso do francês Gary Cige que precisavam de uma furadeira para um trabalho rápido. Comprar uma para usar apenas por meia hora parecia desperdício (além do que, era domingo e as lojas estavam fechadas). Então ele percebeu que estava cercado de furadeiras, guardadas nas garagem das casas a seu redor, mas nenhuma delas estava a seu alcance. Nasceu assim o Zilog, serviço que, usando a dinâmica das comunidades digitais permite o aluguel rápido e barato de quinquilharias que compramos para usar de vez em quando – ou mesmo do carro que o vizinho vai deixar na garagem.

Pelos números apresentados por Clive, a ideia pegou. O Zilog tem mais de 150 mil itens disponíveis para aluguel e registra media de seis mil transações por mês. Mais, é o serviço de aluguel de carros de maior crescimento na internet francesa.

Mas o ponto aqui, para mim, não é apenas de empreendedorismo, ou de conseguir alguns trocados a mais alugando as coisas que você tem e não usa todos os dias. A grande questão é que ações como esta permitem um passo à frente no tal consumo consciente. Já parou para pensar no tanto de coisas que você compra e ficam paradas na sua casa? A web é uma ótima maneira de fazer estes objetos circularem e atenderem a necessidade de outras pessoas.

O formato das redes sociais, onde podemos conhecer a reputação de um desconhecido ou mesmo encontrar algum amigo em comum que possa fazer a “ponte” virtual ajuda a quebrar a barreira da desconfiança. Quem já usou o Mercado Livre, por exemplo, percebe o quanto estas ferramentas permitem aproximar e gerar negócios entre estranhos.

Na XPress, onde trabalho, estamos construindo, com base na intranet, um serviço interno que permitirá aos colegas emprestarem DVDs, Livros e Cds. Cada um lista seus itens e quem quiser ver determinado filme simplesmente pede. O sistema vai ajudar o dono a saber com quem está o material e desde quando. A proposta é dividir cultura e conhecimento pela agência, matéria prima básica da criatividade. E colocar para circular o material que fica parado na estante.

Este é apenas um exemplo do muito que pode ser feito para, inovando um pouco, aproveitar as redes digitais e gerar uma nova postura de dividir, não apenas informação, mas o acesso a produtos e serviços. Seu bolso e a natureza agradecem.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Desliga este micro e vai pensar












Ia deixar o assunto de lado por um tempo, mas ele veio ao meu encontro. Então correrei o risco de ser repetitivamente chato. Mas o motivo compensa. Quinta passada, em sua coluna semanal na Folha, o escritor e psicólogo Contardo Calligris, uma de minhas referências, abordou a importância da divagação para inovar. Vale citar: “Usando apenas o ‘controle executivo’ focado, conseguiremos cumprir adequadamente (mesmo assim, à condição de que não haja imprevistos), mas não inventaremos nada. A própria invenção científica (não só a criação artística) pede um uso simultâneo de controle executivo e divagação”.

No texto, Contardo lembra que o próprio Freud recomendava que, numa sessão de psicanálise, “os pacientes fossem escutados com atenção flutuante”. Segundo ele, a chave que leva nossa mente a encontrar a solução inovadora normalmente está em contexto diferente do problema a ser solucionado. Sim, as grandes invenções juntam elementos e conceitos que normalmente não estariam juntos. Ao focar apenas na questão, estaríamos barrando “pensamentos estrangeiros” onde pode estar o gatilho da criação.

O artigo oferece ainda links para duas pesquisas científicas sobre o tema (um aqui, outro aqui). A ciência, vale dizer, está mesmo enveredando pelo tema. Ainda na Folha, mas no seu encarte do The New York Times de 23 de agosto, que publicou como principal artigo reportagem sobre um grupo de neurocientistas dos Estados Unidos que decidiram experimentar na pratica os benefícios de desligar o cérebro do mundo digital.

Eles ficaram uma semana sem qualquer equipamento eletrônico no meio de um parque natural para entender como o excesso de estímulos digitais está mexendo com nossa atenção. Como um computador, temos um espaço aparentemente limitado em nossa mente para as atividades conscientes, a memória de trabalho. A tese destes pesquisadores é de que a ansiedade gerada pelos impulsos digitais – muitos ficam nervosamente esperando o que trará o próximo e-mail – estaria tomando parte significativa do espaço que poderia ser destinado ao raciocínio.

Ainda não há conclusões mas, segundo o texto os estudiosos perceberam na prática a diferença depois da semana que passaram desligados e estariam “aptos a recomendar um pouco de tempo ocioso como sendo o caminho para um pensamento mais ordenado”.

Voltando ao Contardo, ele encerra o texto dele sugerindo que se reveja nossa “hipervalorização da atenção focada”. Sugere o equilíbrio (sempre ele) entre foco e devaneio. Já eu sugiro que você desligue este computador e vá tomar um café.







Ah, te peguei. O que você ainda está fazendo aqui? Bom teimoso(a), se não vai desligar, aproveite e leia outros textos do CoffeeBreak sobre o tema:

Excesso de foco tira criatividade
Teorias CoffeeBreak: perder o foco é deixar a mente preencher as lacunas
Pesquisadores comprovam: CoffeeBreak pode ter razão

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Pensar é moer, moer é pensar



O cinema nacional parece finalmente acordar para os novos tempos. Fiquei muito bem impressionado com “Reflexões de um Liquidificador” não apenas pelo filme em si (uma bela e curta comedia de costumes falsamente despretensiosa) mas por toda a ação desenvolvida em torno dele. Pelo menos aqui em São Paulo.

Como costuma acontecer, meu primeiro contato com o filme foi o trailer que, preciso confessar, não me fez colocar a película (ainda se pode chamar um filme de película?) na lista de próximas a serem assistidas. Minha mulher, que estava comigo, se entusiasmou ainda menos. É importante notar que costumamos dar preferência às produções nacionais e que temos em casa, por exemplo, o DVD do ótimo “Saneamento Básico”.

“Reflexões” tinha tudo para cair no esquecimento até que um dia, checando novos seguidores no Twitter, dei de cara com o perfil @oliquidificador . Sim era ele, o personagem principal do filme, levando suas reflexões insólitas às redes sociais. Percebi então que havia algo mais naquela história.

Numa tarde de emenda de feriado decidi finalmente assistir “Reflexões de um Liquidificador”. Saltei do metro na Paulista e desci até o Espaço Unibanco da rua Augusta. Enquanto esperava na fila da bilheteria, outra surpresa: todo o cinema estava “vestido” com o tema da fita. Mais que isso: um cartaz apresentava a programação paralela do filme: curta-metragens abrindo as sessões, descontos para os horários da tarde e apresentações diárias de stand-up comedy no final do último horário.

Bingo! Transformaram a exibição num evento maior, agregando outros elementos, inclusive do teatro, gerando conteúdo para divulgação e ampliando a visibilidade do filme. Para complementar, o trabalho no Twitter busca causar estranhamento e gerar o boca-a-boca entre os formadores de opinião (sem cair no lugar comum de ficar divulgando horários e endereços das sessões etc.). Finalmente uma estratégia abrangente e inteligente de comunicação para o cinema nacional.

E os resultados? Bom, depende da expectativa. “Reflexões de um Liquidificador” não é o novo “Se eu fosse Você” e está longe dos primeiros postos da bilheteria brasileira. Mas está a várias semanas em cartaz em São Paulo e, no dia em que fui, com a sala cheia. O perfil do Twitter tem pouco mais de 300 seguidores, mas acho que o foco é mais qualidade do que quantidade.

Minha opinião, vendo de fora, é de que faltou um pouco de verba para divulgar melhor este trabalho. Pesquisando na Internet, por exemplo, não achei em lugar nenhum informações sobre a programação paralela no Espaço Unibanco. Se eu não tivesse ido ao local, talvez jamais tomasse conhecimento disso. Também acho que o liquidificador poderia ser mais ousado. Pedi a eles uma entrevista para o blog da XPress e, depois de aceitarem receber os dados sobre quem iria falar com “ele” jamais entraram em contato. Uma pena, pois uma estratégia tão diferenciada não merece morrer na praia. Afinal, “pensar é moer, moer é pensar”.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A TV do futuro tem cauda longa










A TV mudou. Mas continua a mesma. Nesta época em que tantos profetas garantem que as novas tecnologias baseadas na internet e no maior poder de processamento de dados de nossos equipamentos eletrônicos vai eliminar todos os veículos de mídia, sobrou até para a velha e boa telinha.

Com o crescimento da banda larga em países como os Estados Unidos, diversos serviços prometem entregar, nos computadores, conteúdo e entretenimento que pode substituir as emissoras tal qual as conhecemos hoje. Boxee, Google TV, Apple's iTV e mesmo a pirataria via BitTorrent oferecem filmes, séries e especiais a preços módicos ou simplesmente de graça. Além disso, agregam a comodidade de serem assistidos no momento em que o telespectador desejar, e não dentro de uma grade de horários definida pela emissora.

Em seu blog no Estadão.com, Rodrigo Martins cita pesquisa do instituto norte-americano PEW que aponta queda de importância da TV para o público daquele país. Segundo a enquete, a caixinha mágica é prioridade de consumo para 42% das pessoas. Este índice era de 64% há quatro anos. Após rápida enquete em seu Facebook, o Rodrigo avalia que muitos estão trocando a TV por vídeos no YouTube ou mesmo pelo velho e bom rádio. Interessante notar que, nos últimos anos, a audiência geral da TV no Brasil (número de aparelhos ligados) vem caindo de forma contínua.

Outra pesquisa norte-americana, porém, indica outro caminho. Segundo o site Gizmodo, pesquisa conduzida pelo New York Times e CBS News apontaram que 88% dos entrevistados no país do norte ainda são assinantes de TV a Cabo. Para o Gizmodo, o que fideliza o telespectador são programas esportivos ao vivo, o desejo de assistir os capítulos de algumas séries em primeira mão, a diversão gerada por simplesmente mudar de canais aleatoriamente e a (ainda) falta de qualidade nos vídeos longos acompanhados ao vivo na internet.

Talvez o que estejamos testemunhando seja a chegada da era da abundância à comunicação audiovisual. Ok, a TV a cabo já entrega mais de 500 canais hoje aos telespectadores norte-americanos. Mas a web não está se configurando como um competidor e sim como uma fonte de ainda mais opções. E, na média, o que o público está fazendo é ficando com tudo – mesmo que dividindo seu tempo entre as diversas possibilidades.

O fenômeno atinge a ponta da produção. Seguindo o roteiro do efeito “cauda longa” descrito por Chris Anderson, a possibilidade de distribuição barata e ilimitada amplia o leque de conteúdos ofertados. E, seguindo esta tendência, diversas marcas se adiantam para gerar ou patrocinar conteúdo relevante para seus públicos.

O encarte do The New York Times na Folha de S.Paulo da semana passada relata o caso de uma série criada para ser exibida na web sobre o cotidiano de uma trabalhadora comum que é patrocinada pela rede Ikea (aonde trabalha a personagem principal). Os episódios são um sucesso, com mais de 1,5 milhões de acessos mês. Aqui mesmo no Brasil, mas na TV aberta, a Nestlé patrocina e participa do conteúdo da inovadora série “Tô Frito”, exibida na Band e MTV.

Os otimistas olharão o copo meio cheio e dirão que teremos cada vez mais conteúdo disponível quando e onde desejarmos. Os pessimistas dirão que vai haver cada vez mais lixo circulando, num tipo de “poluição cultural” que vai gerar idiotas digitais. E os inseguros continuarão ligando na mesma emissora aberta de sempre. Bom ou ruim, o futuro já começou. Faça bom proveito.