quarta-feira, 21 de julho de 2010

Teorias CoffeeBreak: perder o foco é deixar a mente preencher as lacunas?






Atenção. Aviso ao leitor. Este é um post “ligando os pontos”. Informações e conceitos de fontes diferentes convergindo numa conclusão deste autor que pode (e provavelmente estará) completamente equivocada. Pior. Como diria a amiga Viviane Deeke, é um texto assumidamente cabeção. Enfim, você foi alertado, se passar deste parágrafo é por sua conta e risco.

Num loooonngo e interessante artigo de Atul Gawande, a Piauí de março último fala sobre alguns casos raros de coceira. O fenômeno intriga cientistas pois pode ser gerado tanto por fatores externos (a picada de um mosquito, por exemplo) como psicológicos. Vamos lá, um rápido exercício. Pense em dor. Ok, vc não sentiu nenhuma dor, certo. Mas é só pensar em coceira e, automático, a grande maioria de nos vai começar a se coçar. Vc já não está se coçando?

Enfim, algumas pessoas que perderam membros (pernas, braços) sofrem com coceiras terríveis nas partes que já não integram seu corpo. Chamada de sensação fantasma, este efeito ainda carece de explicação concreta pela ciência. Alguns acreditam que os nervos onde estes membros estariam ligados não cicatrizou direito. Outra teoria, defendida pelo artigo de Atul, é a de que boa parte dos nossos sentidos é gerada no nosso cérebro, unindo dados parciais gerados pelos nossos órgãos sensoriais (em sua minoria) e da nossa memória (a maior parte).

Estudos recentes identificaram que apenas 20% das fibras que chegam ao córtex visual primário (onde o cérebro “processa” as imagens) vem da retina e os demais 80% se originam na região onde fica a memória. Em resumo, recebemos informações pobres e incompletas sobre o ambiente onde estamos e nosso cérebro completa as lacunas gerando uma sensação bastante completa. É só pensar nos sonhos, onde vemos e sentimos de forma bastante real algo que não está acontecendo. Ou o comichão que sentimos ao pensar em coceira.

Se a teoria de preencher os espaços em brando não é realidade para nossas mentes, é para as máquinas. Reportagem da Wired de março deste ano mostra como uma nova tecnologia está criando equipamentos de ressonância magnética que conciliam altíssima definição e utlra-velocidade. Antes, imagens detalhadas necessitavam que o paciente ficasse imóvel por até dois minutos, o que era possível apenas com anestesia e tornava o exame inacessível para quem tinha restrições médicas aos sedativos.

O segredo é uma fórmula matemática que consegue preencher automaticamente os espaços em branco. Ele capta apenas cerca de 10% dos pixels que formam uma imagem, distribuídos por várias partes do original e deixa para um algoritmo completar os 90% restantes.Será que o processo utilizado pelo equipamento de ressonância magnética é o mesmo que temos em nosso cérebro? Se uma máquina consegue fazer isso, nossa mente não teria a mesma habilidade?

Um estudo com crianças de cinco anos de idade, relatado por Malcolm Gladwell em “O Ponto da Virada – The Tipping Point”, da outra pista de como nossa mente pode trabalhar. Estudiosos norte-americanos colocaram dois grupos de crianças para assistir ao mesmo episódio de Vila Sésamo. A diferença é que, enquanto o primeiro grupo ficou numa sala onde a única atração era a TV, o segundo foi para um espaço cheio de brinquedos. Claro que o primeiro grupo ficou muito mais tempo olhando para a tela que o segundo (87% do tempo no grupo 1 contra 47% no grupo 2). O surpreendente, porém, é que, perguntados sobre questões específicas relacionadas ao roteiro do programa, os dois grupos tiveram o mesmo nível de acerto. Ou seja, o grupo 2, mesmo dividindo sua atenção entre a TV e os brinquedos, absorveu todo o conteúdo. Comparando com o equipamento de ressonância magnética, eles captaram uma parte relevante e preencheram as lacunas do resto.

Talvez, e isto é uma teoria não comprovada de CoffeeBreak, seja mesmo mais produtivo, em algumas situações, ter menos foco e buscar uma visão mais ampla do todo. Será que é por isso que, exatamente quando não estamos pensando nas grandes questões, é que temos uma idéia de suas respostas?

2 comentários:

  1. Putz, XEQUE MATE! Ahhhhhhhhhhhhhh. Não tenho o que comentar.

    Tchau.

    Mateus
    @ocappuccino

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  2. Eu acho que é quando a mente relaxa que ela viaja mais. Sempre que faço mil coisas ao mesmo tempo, com a mente ocupada e em plena atividade é que as coisas "saem".
    Talvez, olha eu viajando em cima da tua teoria, o espaço em branco que precise ser completado force o cérebro a vasculhar a memória em busca de respostas e daí venha o nosso sucesso! =P

    Muito legal o post!
    :)

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