segunda-feira, 26 de julho de 2010

Os grandes também erram. Por isso são grandes












A semana passada terminou com sabor de vitória para os que sempre torcem pela derrota dos “poderosos”. Afinal, finalmente dois dos maiores ícones da nova economia foram notícia por escorregões públicos. Sim, eles também fazem besteira.

A mais celebrada foi a da Apple. O próprio Steve Jobs teve que sair do seu Olimpo particular em Cupertino, Califórnia, para assumir que errou. O novo e celebrado iPhone foi lançado com um defeito. E, apesar das tentativas de Jobs de minimizar o caso, um defeito bastante grave. O telefone (sim, o iPhone também tem esta função) simplesmente para de funcionar quando o dono toca a borda lateral inferior do aparelho, onde fica sua antena.

Simples. É só colocar a mão ali e o sinal desaparece. Jobs se defendeu atacando a concorrência, pois smartphones rivais também tem áreas sensíveis que, obstruídas, interrompem a conexão. Acontece que, ao contrário do iPhone 4, nos demais a antena está na parte superior do aparelho, onde dificilmente o usuário irá manusear. Já segurar um celular sem tocar na sua lateral...

Mas Jobs não está só. Quase passou desapercebido, mas o Google também errou. Ou, pelo menos, assumiu publicamente o erro. Também esta semana a empresa divulgou que irá descontinuar a produção e venda de seu smartphone, o Nexus One. Motivo: foi um fracasso de vendas. Ponto. A empresa que centraliza a informação no mundo digital e, até por conta disto, deveria ter como conhecer e entender exatamente o que o consumidor quer, lançou um produto que ninguém quer.

O que isto significa: nada. Pelo menos no médio prazo, Apple e Google continuarão dando a luz para novos e revolucionários produtos e serviços que seguirão encantando consumidores como eu e você.

O importante, porém, é que eles erraram – e provavelmente continuarão a fazer bobagens, simplesmente porque é impossível inovar sem correr riscos, sem permitir o erro, sem ao menos tentar o novo. Por mais perfeccionista que Steve Jobs seja, sem se permitir imperfeições ninguém consegue revolucionar o mercado. E o iPhone 4 é simplesmente a prova disto.

Então, meu caro, trate de tirar da cara este risinho invejoso de quem pensa “olha só, os feras também se dão mal” e siga o exemplo de se permitir o risco do erro, caminho único para o novo. Sem falha.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Teorias CoffeeBreak: perder o foco é deixar a mente preencher as lacunas?






Atenção. Aviso ao leitor. Este é um post “ligando os pontos”. Informações e conceitos de fontes diferentes convergindo numa conclusão deste autor que pode (e provavelmente estará) completamente equivocada. Pior. Como diria a amiga Viviane Deeke, é um texto assumidamente cabeção. Enfim, você foi alertado, se passar deste parágrafo é por sua conta e risco.

Num loooonngo e interessante artigo de Atul Gawande, a Piauí de março último fala sobre alguns casos raros de coceira. O fenômeno intriga cientistas pois pode ser gerado tanto por fatores externos (a picada de um mosquito, por exemplo) como psicológicos. Vamos lá, um rápido exercício. Pense em dor. Ok, vc não sentiu nenhuma dor, certo. Mas é só pensar em coceira e, automático, a grande maioria de nos vai começar a se coçar. Vc já não está se coçando?

Enfim, algumas pessoas que perderam membros (pernas, braços) sofrem com coceiras terríveis nas partes que já não integram seu corpo. Chamada de sensação fantasma, este efeito ainda carece de explicação concreta pela ciência. Alguns acreditam que os nervos onde estes membros estariam ligados não cicatrizou direito. Outra teoria, defendida pelo artigo de Atul, é a de que boa parte dos nossos sentidos é gerada no nosso cérebro, unindo dados parciais gerados pelos nossos órgãos sensoriais (em sua minoria) e da nossa memória (a maior parte).

Estudos recentes identificaram que apenas 20% das fibras que chegam ao córtex visual primário (onde o cérebro “processa” as imagens) vem da retina e os demais 80% se originam na região onde fica a memória. Em resumo, recebemos informações pobres e incompletas sobre o ambiente onde estamos e nosso cérebro completa as lacunas gerando uma sensação bastante completa. É só pensar nos sonhos, onde vemos e sentimos de forma bastante real algo que não está acontecendo. Ou o comichão que sentimos ao pensar em coceira.

Se a teoria de preencher os espaços em brando não é realidade para nossas mentes, é para as máquinas. Reportagem da Wired de março deste ano mostra como uma nova tecnologia está criando equipamentos de ressonância magnética que conciliam altíssima definição e utlra-velocidade. Antes, imagens detalhadas necessitavam que o paciente ficasse imóvel por até dois minutos, o que era possível apenas com anestesia e tornava o exame inacessível para quem tinha restrições médicas aos sedativos.

O segredo é uma fórmula matemática que consegue preencher automaticamente os espaços em branco. Ele capta apenas cerca de 10% dos pixels que formam uma imagem, distribuídos por várias partes do original e deixa para um algoritmo completar os 90% restantes.Será que o processo utilizado pelo equipamento de ressonância magnética é o mesmo que temos em nosso cérebro? Se uma máquina consegue fazer isso, nossa mente não teria a mesma habilidade?

Um estudo com crianças de cinco anos de idade, relatado por Malcolm Gladwell em “O Ponto da Virada – The Tipping Point”, da outra pista de como nossa mente pode trabalhar. Estudiosos norte-americanos colocaram dois grupos de crianças para assistir ao mesmo episódio de Vila Sésamo. A diferença é que, enquanto o primeiro grupo ficou numa sala onde a única atração era a TV, o segundo foi para um espaço cheio de brinquedos. Claro que o primeiro grupo ficou muito mais tempo olhando para a tela que o segundo (87% do tempo no grupo 1 contra 47% no grupo 2). O surpreendente, porém, é que, perguntados sobre questões específicas relacionadas ao roteiro do programa, os dois grupos tiveram o mesmo nível de acerto. Ou seja, o grupo 2, mesmo dividindo sua atenção entre a TV e os brinquedos, absorveu todo o conteúdo. Comparando com o equipamento de ressonância magnética, eles captaram uma parte relevante e preencheram as lacunas do resto.

Talvez, e isto é uma teoria não comprovada de CoffeeBreak, seja mesmo mais produtivo, em algumas situações, ter menos foco e buscar uma visão mais ampla do todo. Será que é por isso que, exatamente quando não estamos pensando nas grandes questões, é que temos uma idéia de suas respostas?

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Pesquisadores comprovam: CoffeeBreak pode ter razão




Discretamente, CoffeeBreak completou em junho seu primeiro ano de vida. Para comemorar, um balanço diferente. Afinal, mês passado algumas publicações trouxeram pontos de vista alinhados com nosso blog. Não que tenhamos qualquer “culpa” – o poder de influência de CoffeeBreak ainda é limitado, mas é bom não se sentir tão.

A Wired de junho junta dois pensadores, Daniel Pink e Clay Shirky, que poderiam ter escrito posts aqui. O primeiro está lançando um livro (Drive: The Surprising Truth About What Motivates Us) sobre pesquisas que mostram que a motivação das pessoas, inclusive a profissional, está muito além do medo da punição ou do “estimulo” da recompensa (ou o binômio chicote/cenoura, como ele coloca). Segundo ele, existe uma questão de estímulo pessoal, de engajamento com uma causa que hoje é subestimado no mundo corporativo. Já Shirky escreveu Cognitive Surplus: Creativity and Generosity in a Conected Age, sobre como a internet levou milhões de pessoas migrarem da postura passiva de assistirem televisão em seu tempo livre para ações mais ativas como escrever um blog ou contribuírem para a Wikipedia.

Segundo Shirky, todo o conteúdo da Wikipedia representa mais de 100 milhões de horas de trabalho. Detalhe: sem qualquer remuneração! Para Pink, esta é uma das provas de sua tese de que a motivação pode ser muito mais ligada à satisfação pessoal de estar contribuindo efetivamente para a construção de algo positivo e que possa representar um avanço social do que a simples recompensa monetária. Os dois trabalhos citam uma pesquisa do psicólogo Edward Deci, da Universidade de Rochester que mostrou que se você passa a oferecer uma recompensa por algo que uma pessoa espontaneamente achava interessante, o interesse pelo assunto diminui. Já a punição pode ser mais libertadora do que castradora. Em creches israelenses, a implantação de multa para os pais que se atrasavam para retirar os filhos teve efeito contrário e aumentou os índices de demora.

Na Época de 28 de junho, o assunto é o trabalho em casa. Em entrevista, o empreendedor norte-americano Jason Fried, dono de uma empresa de aplicativos para a internet, afirma que o trabalho tradicional, com reuniões, telefones tocando e o chefe rondando para a cada dois minutos perguntar como os tarefas progridem é improdutivo. Em seu livro, Rework, ele prega que os profissionais devem ter ambientes mais calmos e, como alternativa, recomenda pelo menos um dia de semana de trabalho em casa (se o lar, claro, oferecer a tranqüilidade necessária).

Finalmente, entrevista com Christopher Meyer, especialista em tendências, para a edição de junho da Época Negócios mereceria ser reproduzida na integra (uma vez que a revista bloqueia o conteúdo para não assinantes). Além de cunhar o ótimo termo Worknets, para identificar uma nova classe de profissionais independentes que irá se organizar e trabalhar em redes conforme a demanda, abrindo as empresas para o mundo exterior, ele critica as empresas que teimam em tratar as redes sociais como se fossem mídias tradicionais, se fechando para o diálogo e fugindo de críticas que poderiam ser construtivas.

Enfim, se já não bastasse você, querido leitor, é sempre bom se sentir em tão qualificada companhia. Ainda mais em plena festa de aniversário.