quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Medo de errar? Então você já errou!





Converse com qualquer profissional cuja carreira já passou dos estágios iniciais e o discurso será, com pequenas variações, o mesmo: “estou em busca de novos desafios, de aprender mais, a remuneração é secundária, resultado do trabalho, blá-blá-blá”.

Pois vivemos um paradoxo. Ou esta postura é absolutamente hipócrita, conversa para boi dormir, ou, pior, ainda não entendemos que o aprendizado passa, necessariamente, pelo erro. Afinal, se estamos todos aqui trabalhando com foco no nosso desenvolvimento, como justificar nossa cultura de medo em assumir erros e aprender com eles?

Fred Brooks, uma lenda viva da engenharia de software dos EUA, resumiu recentemente o conceito na Wired. Para ele, você pode aprender muito mais com a falha do que com o sucesso. Enquanto o primeiro te obriga a encarar a realidade e rever ideias, processos e atitudes, o segundo pode mascarar várias pequenas imperfeições. Poderia ser melhorado mas, como está funcionando, você acha que está bom.

Não, a ideia não é ser desleixado ou errar propositadamente. Mas assumir mais riscos, sem cair na armadilha imobilista do perfeccionismo. E, quando errar, encarar a situação como uma rica oportunidade de aprender, sem medo de enxergar a verdade. No lugar da busca por culpados, de tentar simplesmente se isentar, avaliar o cenário, buscar os fatores envolvidos na falha e mudar efetivamente a atitude e processos.

Vamos nos inspirar nos chineses. No início desta semana estava, por razões profissionais, no Salão do Automóvel de São Paulo. Dezenas de chineses andavam por todos os lados, fotografando e anotando tudo, do Buffet oferecido nas coletivas de imprensa à decoração dos stands. Estão aprendendo. Os primeiros carros de suas marcas ainda são toscos, quebram a toa e, mesmo baratos, vão encalhar nas lojas. Em quanto tempo eles vão transformar estes erros crassos em um caso de sucesso avassalador?

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

“Como é bom estar vivo”





Este texto é uma homenagem a um grande amigo. Como não há muito não posto nada no CoffeeBreak e não terei tempo de esperar que ele leia isto e consinta, opto por não citar seu nome – quem o conhece vai saber na hora de quem se trata, ou já matou pelo título do post. Vamos chamar-lo apenas de Cé.

Convivi muito pouco com meu pai. Assim, meus principais mentores foram chefes, autores, clientes (sim, convivi, mesmo que rapidamente, com grandes executivos e líderes de todos os tipos), minha mulher e colegas. Entre estes últimos, o Cé é daqueles que cada dia fazem mais diferença.

Trata-se de uma pessoa peculiar, diferenciada, o que em si já é um exemplo. Também por isso, o Cé não é unanimidade. Não. Acho mesmo que, neste nosso universo corporativo muitas vezes tão atrasado quando o debate sobre homofobia e aborto na atual campanha para presidente, o Cé é um incompreendido. Um outsider. Pena.

Criativo e bem humorado, ele estava a maior parte do tempo rindo, feliz. Cumprimenta todos que encontra e não perde uma oportunidade de começar uma nova conversa, uma nova amizade. O Cé é daquelas pessoas que a moça que pesa o prato no restaurante a quilo conhece pelo nome – juro, já testemunhei uma delas discutir com ele se deveria ou não terminar com o namorado.

O Cé é inventor de piadas que, muitas vezes, não tem a menor graça para a maioria dos ouvintes. Não importa. Ele a conta de novo e, sem esperar a reação da platéia, começa a rir com tanta graça que logo todos o acompanham. E a repetição do tema, em si, se torna a grande piada.

Entre as milhares de histórias em torno de seu nome, há a das tiradas de humor junto a clientes corporativos em reuniões de trabalho. Alguns o criticam por isso, e não dá para dizer que ele sempre se deu bem. Mas acho que ele sacou algo mais profundo sobre as relações pessoais. Corajoso, não tem medo de se passar por tolo, pois sabe o valor de um sorriso. Já o vi desarmar executivo feroz e virar o jogo depois de uma piada.

De manhã, animado, dá bom dia a todos. E, quando percebe que o clima não está nenhuma maravilha, solta seu “como é bom estar vivo”, tentando lembrar que há um mundo lá fora e coisas mais importantes que a importância que damos a nós mesmos e nossos medíocres problemas profissionais.

Não. O Cé não é perfeito. Já o vi de mal humor, inseguro e achando que as coisas não iriam dar certo. Disse que estava ficando velho e impaciente com a bagunça dos filhos no apartamento, com as coisas fora do lugar. Mas, na maior parte do tempo, ele estava com seu sorriso de garoto acreditando que, apesar de tudo, no final podemos rir, então valeu a pena.

Um dia, perguntei a ele de onde vinha tanto otimismo e cordialidade. E então ele me revelou seu segredo: “não é natural não Gui! Me dá um trabalho danado levantar de manhã e colocar este sorriso no rosto, superar o mal humor e tentar pegar leve.”

Foi então que percebi que todos podemos ser um pouco Cé, com mais leveza, alegria e inspiração em nossas vidas, não permitir que a loucura do trabalho apague nossa vida. Não. Colocar vida no trabalho e se divertir com isso.

Infelizmente não trabalho mais com o Cé – ele recebeu uma proposta irrecusável para voltar para a redação. Há alguns meses, me encontrei com ele num café e fiz questão de agradecer tudo o que aprendi com ele e, ainda hoje, tento colocar em prática na minha vida. Hoje achei que deveria dividir isto com quem perde seu tempo lendo este texto. Que o exemplo do Cé nos inspire.

domingo, 3 de outubro de 2010

Inovação dentro da caixa?




Primeiro aos fatos:

1. Na edição de setembro da Wired norte-americana, seu editor-chefe, Chris Anderson, levanta a tese, fundamentada em dados, de que a internet como a conhecemos está em crise. Aplicações fechadas em aparelhos como iPhone, iPad, televisores e outros já registram maior uso de banda na rede do que os convencionais endereços www. Isto significa que, ao invés de navegar livremente pela web, estamos usando serviços baseados na internet mas fechados. O Facebook, maior rede social do mundo é um exemplo. Twitter, Skype e YouTube são outros. Quanto mais gente tem acesso à internet, mais buscam serviços fáceis e práticos, porém restritos e cobrados. O conteúdo editorial de jornais e revistas, que quase faliram com os sites grátis e que agora correm em debandada para os leitores digitais como Kindle e iPad são o melhor exemplo. O sonho geek de tudo de graça para todos numa rede sem limites está perdendo terreno para o sistema convencional de pagar pelo que se quer. A culpa? Nossa mesmo, pois queremos rapidez, segurança e qualidade.

2. Na sua edição de setembro, a Época Negócios apresenta sua segunda lista de empresas mais inovadoras do Brasil. Desta vez, porém, houve uma mudança na metodologia. Adotaram parceria com a consultoria A.T. Kearney e trouxeram para cá o prêmio Best Innovator. O resultado foi uma lista radicalmente diferente da anterior. Afinal, o Best Innovator dá grande peso a como as empresas se estruturam para criar processos de inovação e quantos destes projetos chegam ao consumidor com retorno financeiro. Em linhas gerais, são premiadas empresas que conseguem transformar inovação em lucro. Ou seja, criar novidades se torna um processo, como a qualidade e o controle de estoque. As frases de Alfred Hackenberger, presidente da BASF (cuja divisão de tintas ficou em segundo na lista) para a América do Sul são emblemáticas desta forma de pensar inovação: “Ideia que não gera lucro é invenção” e “inovar não significa ter liberdade total”, disse ele na reportagem.

Agora as análises:

1. Copo meio cheio: este é o processo tradicional do capitalismo que acaba incorporando seus críticos. Quantos artistas radicais e rebeldes de ontem não se tornaram os novos campeões de vendas de hoje? A troca de músicas via pirataria está perdendo espaço para a venda barata de faixas no iTunes. A criação de novidades se tornou tão importante no mundo corporativo que hoje já se organizam formas para incorporar este procedimento, de forma padronizada, aos demais fluxos organizacionais e gerenciais das grandes empresas. E com bons resultados. Não há mais volta. A sociedade é digital, quer melhorias constantes, novidades e serviços que funcionem de forma simples e pratica sem pagar muito por isto. Ótimo.

2. Copo meio vazio: preconceitos à parte, tenho um pouco de medo de tornar a criação um processo. Não que inovar seja simplesmente lidar com o caos em estado bruto. Mas acredito que ao se organiza demais a geração de novidades e seus filtros, pode-se dar um tiro no pé. Inovar depende de um olhar novo, de uma mistura de concentração com divagação, da busca de referências em outros campos, de experiências diversas. Vai ser preciso muito esforço para encontrar um equilíbrio entre o processo corporativo e a manutenção deste frescor, desta vontade de pensar alem. Estamos colocando a inovação dentro da caixa?