domingo, 3 de outubro de 2010

Inovação dentro da caixa?




Primeiro aos fatos:

1. Na edição de setembro da Wired norte-americana, seu editor-chefe, Chris Anderson, levanta a tese, fundamentada em dados, de que a internet como a conhecemos está em crise. Aplicações fechadas em aparelhos como iPhone, iPad, televisores e outros já registram maior uso de banda na rede do que os convencionais endereços www. Isto significa que, ao invés de navegar livremente pela web, estamos usando serviços baseados na internet mas fechados. O Facebook, maior rede social do mundo é um exemplo. Twitter, Skype e YouTube são outros. Quanto mais gente tem acesso à internet, mais buscam serviços fáceis e práticos, porém restritos e cobrados. O conteúdo editorial de jornais e revistas, que quase faliram com os sites grátis e que agora correm em debandada para os leitores digitais como Kindle e iPad são o melhor exemplo. O sonho geek de tudo de graça para todos numa rede sem limites está perdendo terreno para o sistema convencional de pagar pelo que se quer. A culpa? Nossa mesmo, pois queremos rapidez, segurança e qualidade.

2. Na sua edição de setembro, a Época Negócios apresenta sua segunda lista de empresas mais inovadoras do Brasil. Desta vez, porém, houve uma mudança na metodologia. Adotaram parceria com a consultoria A.T. Kearney e trouxeram para cá o prêmio Best Innovator. O resultado foi uma lista radicalmente diferente da anterior. Afinal, o Best Innovator dá grande peso a como as empresas se estruturam para criar processos de inovação e quantos destes projetos chegam ao consumidor com retorno financeiro. Em linhas gerais, são premiadas empresas que conseguem transformar inovação em lucro. Ou seja, criar novidades se torna um processo, como a qualidade e o controle de estoque. As frases de Alfred Hackenberger, presidente da BASF (cuja divisão de tintas ficou em segundo na lista) para a América do Sul são emblemáticas desta forma de pensar inovação: “Ideia que não gera lucro é invenção” e “inovar não significa ter liberdade total”, disse ele na reportagem.

Agora as análises:

1. Copo meio cheio: este é o processo tradicional do capitalismo que acaba incorporando seus críticos. Quantos artistas radicais e rebeldes de ontem não se tornaram os novos campeões de vendas de hoje? A troca de músicas via pirataria está perdendo espaço para a venda barata de faixas no iTunes. A criação de novidades se tornou tão importante no mundo corporativo que hoje já se organizam formas para incorporar este procedimento, de forma padronizada, aos demais fluxos organizacionais e gerenciais das grandes empresas. E com bons resultados. Não há mais volta. A sociedade é digital, quer melhorias constantes, novidades e serviços que funcionem de forma simples e pratica sem pagar muito por isto. Ótimo.

2. Copo meio vazio: preconceitos à parte, tenho um pouco de medo de tornar a criação um processo. Não que inovar seja simplesmente lidar com o caos em estado bruto. Mas acredito que ao se organiza demais a geração de novidades e seus filtros, pode-se dar um tiro no pé. Inovar depende de um olhar novo, de uma mistura de concentração com divagação, da busca de referências em outros campos, de experiências diversas. Vai ser preciso muito esforço para encontrar um equilíbrio entre o processo corporativo e a manutenção deste frescor, desta vontade de pensar alem. Estamos colocando a inovação dentro da caixa?

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