quarta-feira, 20 de outubro de 2010

“Como é bom estar vivo”





Este texto é uma homenagem a um grande amigo. Como não há muito não posto nada no CoffeeBreak e não terei tempo de esperar que ele leia isto e consinta, opto por não citar seu nome – quem o conhece vai saber na hora de quem se trata, ou já matou pelo título do post. Vamos chamar-lo apenas de Cé.

Convivi muito pouco com meu pai. Assim, meus principais mentores foram chefes, autores, clientes (sim, convivi, mesmo que rapidamente, com grandes executivos e líderes de todos os tipos), minha mulher e colegas. Entre estes últimos, o Cé é daqueles que cada dia fazem mais diferença.

Trata-se de uma pessoa peculiar, diferenciada, o que em si já é um exemplo. Também por isso, o Cé não é unanimidade. Não. Acho mesmo que, neste nosso universo corporativo muitas vezes tão atrasado quando o debate sobre homofobia e aborto na atual campanha para presidente, o Cé é um incompreendido. Um outsider. Pena.

Criativo e bem humorado, ele estava a maior parte do tempo rindo, feliz. Cumprimenta todos que encontra e não perde uma oportunidade de começar uma nova conversa, uma nova amizade. O Cé é daquelas pessoas que a moça que pesa o prato no restaurante a quilo conhece pelo nome – juro, já testemunhei uma delas discutir com ele se deveria ou não terminar com o namorado.

O Cé é inventor de piadas que, muitas vezes, não tem a menor graça para a maioria dos ouvintes. Não importa. Ele a conta de novo e, sem esperar a reação da platéia, começa a rir com tanta graça que logo todos o acompanham. E a repetição do tema, em si, se torna a grande piada.

Entre as milhares de histórias em torno de seu nome, há a das tiradas de humor junto a clientes corporativos em reuniões de trabalho. Alguns o criticam por isso, e não dá para dizer que ele sempre se deu bem. Mas acho que ele sacou algo mais profundo sobre as relações pessoais. Corajoso, não tem medo de se passar por tolo, pois sabe o valor de um sorriso. Já o vi desarmar executivo feroz e virar o jogo depois de uma piada.

De manhã, animado, dá bom dia a todos. E, quando percebe que o clima não está nenhuma maravilha, solta seu “como é bom estar vivo”, tentando lembrar que há um mundo lá fora e coisas mais importantes que a importância que damos a nós mesmos e nossos medíocres problemas profissionais.

Não. O Cé não é perfeito. Já o vi de mal humor, inseguro e achando que as coisas não iriam dar certo. Disse que estava ficando velho e impaciente com a bagunça dos filhos no apartamento, com as coisas fora do lugar. Mas, na maior parte do tempo, ele estava com seu sorriso de garoto acreditando que, apesar de tudo, no final podemos rir, então valeu a pena.

Um dia, perguntei a ele de onde vinha tanto otimismo e cordialidade. E então ele me revelou seu segredo: “não é natural não Gui! Me dá um trabalho danado levantar de manhã e colocar este sorriso no rosto, superar o mal humor e tentar pegar leve.”

Foi então que percebi que todos podemos ser um pouco Cé, com mais leveza, alegria e inspiração em nossas vidas, não permitir que a loucura do trabalho apague nossa vida. Não. Colocar vida no trabalho e se divertir com isso.

Infelizmente não trabalho mais com o Cé – ele recebeu uma proposta irrecusável para voltar para a redação. Há alguns meses, me encontrei com ele num café e fiz questão de agradecer tudo o que aprendi com ele e, ainda hoje, tento colocar em prática na minha vida. Hoje achei que deveria dividir isto com quem perde seu tempo lendo este texto. Que o exemplo do Cé nos inspire.

10 comentários:

  1. "Olha, Manuel Bandeira: a casa demoliram, mas o menino ainda existe", de Sergio Porto. Ouvi isso hoje cedo, é isso aí...

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  2. Eu tive o prazer de aprender com ele na vida...

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  3. Lindo post! Cezin torna a nossa vida mais leve. Tão bom conviver com pessoas como ele.
    Ass: Tucho.

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  4. Que saudade deste moço e do bem que ele faz! E pensar que parecia tão simples para ele simplesmente ser assim!Cinthia

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  5. é humor refinado, gui. pra poucos. cé é um mestre. gênio incompreendido. continuo na campanha para mudarem o nome da rua funchal para o nome dele. sou, com orgulho, um adepto do "cé" way of life

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  6. A verdade é que tem pessoas que são assim... iluminadas, inspiradoras....que lindo o texto..que linda lembrança do alegre convívio com todos vocês!

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  7. Eu sempre achei graça nas piadas, tive até o prazer de ensinar algumas das minhas piadinhas para ele incluir no repertório dele! Todo mundo precisa ter um Cé dentro de si.
    Evelyn

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  8. Tive o prazer de conhecer o "Cé" e aprender que a vida fica mais leve com um simples sorriso e uma pitada de bom humor! Hoje, tenho o privilégio de trabalhar ao seu lado! Esse texto o descreve muito bem e nos faz pensar o quão sortudos somos de o termos ao nosso lado!
    Parabéns Guilherme! Lindas palavras!

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  9. Obrigado por compartilhar este belo texto, Guilhermo.

    Celsinho, vamos mandar o abaixo-assinado "Cé na Funchal!"

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  10. Obrigado a todos pelos comentários e elogios. A homenagem ao nosso querido Cé só fica completa com a participação de vocês. Vamos espalhar o exemplo de nosso amigo. A vida ficaria bem mais leve com outros como ele por ai.

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