quarta-feira, 7 de abril de 2010

Audácia Militar Fashion - A defesa de Jobim para Piauí Herald














Audaciosa ou suicida? Uma das mais ousadas estratégias reativas de comunicação não vem do ‘inovador’ setor privado, e sim do poder público. Mais especificamente do conservador e altamente hierarquizado Ministério da Defesa, ou seja, das Forças Armadas.

Em sua edição de fevereiro, a Piauí aumentou o tom das citações jocosas ao ministro Nelson Jobim. Com chamada de capa, a revista dedicou quatro páginas de sua Piauí Herald (uma fake publicação dentro da publicação) para um especial fashion militar estrelado pelo comandante civil de nossas tropas. Jobim aparece vestido de gladiador, viking, centurião romano e cruzado, entre outras versões. Sempre com impagáveis comentários no melhor estilo fashionista fake.

Nos tempos da Revolução, tamanha falta de respeito a um líder de nossas forças armadas seria motivo de grande crise institucional. (isto é, se chegasse a ser publicada, diante da censura daqueles dias). Sisudos, nossas lideranças fardadas jamais admitiriam ver o Ministro da Defesa ridicularizado. As fotos seriam motivo de revolta nos quartéis. O orgulho nacional estaria ameaçada.

Mas estamos numa democracia e os veículos de comunicação, ainda mais os que misturam humor e informação, tem liberdade para criticar e mesmo ironizar nossas autoridades. O problema saiu da esfera político-militar para os colegas da comunicação social do ministério. Pense bem. O que você faria nesta situação se fosse o responsável pela área?

Uma postura possível é ficar quieto. Simplesmente ignorar e não alimentar a polêmica. Como não se trata de uma reportagem, e sim de uma veiculação humorística, não há espaço para pedir uma errata. Provavelmente 80% dos assessores de imprensa iria escolher este caminho. Me incluo entre eles.

Outros 10% iriam tentar convencer o cliente a um encontro de relacionamento. O que aquele povo da Piauí tem contra nós? Vamos almoçar com o Mario Sergio Conti e tentar uma aproximação? Dependendo do perfil do cliente, poderia funcionar.

Os 10% restantes se deixariam levar pelos argumentos enfurecidos do cliente e fariam o que não deveriam: uma carta mal humorada e agressiva acusando a publicação de ser parcial, partidária e mal amada. Imprensinha marrom.

Mas ainda há quem pense e aja “fora da caixa”. Para minha imensa surpresa, a edição deste mês tem na capa a chamada “Jobim contra-ataca. Piauí Herald capitula diante das pressões do ministro maragato”. Pensei que eles voltariam à carga e, folheando a publicação, descobri que não havia reportagem, e sim um box na sessão de cartas. Nela um texto do José Ramos, coordenador de comunicação social do Ministério da Defesa informava que o ministro Jobim cumprimentava a revista pelo artigo.

Ainda mais. Segundo o texto, Jobim teria avaliado que “a revista conseguiu tratar da questão dos uniformes militares, sob perspectiva histórica, de forma muito criativa, bem-humorada e com o altíssimo bom gosto que a caracteriza” (grifo nosso). Ainda mais. Para fechar, a nota informa que o ministro sentiu falta de incluírem os “bravos guerreiros Maragatos” (????) e os “contemporâneos guerreiros Colorados”.

Óbvio que a revista publicou os perfis sugeridos e num texto bem humorado brincou com o ministro. E eu, como leitor, fiquei com uma imagem muito mais próxima do Jobim. Cara legal, pensei. Entrou na brincadeira, não se levou a sério. Não deixou o cargo ser maior que o Homem.

Será que nossos executivos de comunicação do setor privado se permitiram esta exposição descontraída?

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