segunda-feira, 7 de junho de 2010

CoffeeBreak na estrada: Lima, no Peru, cria a verdadeira publicidade verde



Oscar Wilde poderia ter dito: “não confie numa cidade à beira mar onde nunca chove”. Mas isto não se aplica a Lima. A capital do Peru é cheia de contrastes e fatos interessantes. Na opinião de James Cimino, jornalista da Folha que passou alguns dias aqui e adorou, a cidade está nos anos 90.

Lojas de revelação de fotos dividem espaço com mercados populares onde se pode comprar um iPad wi-fi 32G por U$ 800. Nas ruas, o novo Hunday Tucson, ainda não lançado no Brasil, divide espaço com o Gol quadrado da primeira geração. Belos prédios com varandas e grandes janelas de vidro em Miraflores (bairro rico à beira mar) fazem o contraponto aos barracos mal acabados próximo ao Centro.

Nas bancas, chama a atenção a quantidade de jornais diários, em especial os populares. São pelo menos 10 títulos, sendo dois esportivos e um grande jornal, El Comércio. Ao mesmo tempo, lojas e até mesmo redes de rádio taxi estão no facebook.

Os taxis são provavelmente os mais baratos do mundo. Uma corrida do Centro a Miraflores, trajeto de cerca de 20 minutos, sai por cerca de R$ 7,50. Isso mesmo. Por outro lado, nenhum carro tem taxímetro e você tem que negociar direto com o motorista. Cada viagem, para um mesmo trajeto, tem preço diferente.

O trânsito, perto do brasileiro, é excelente. Mas pelo visto o peruano médio dirige de forma caótica e o que sobressai é um festival de buzinas enquanto motoristas param no meio da avenida para convergir à esquerda ou ficam cinco minutos falando com alguém na calçada segurando todo o fluxo. E, apesar de nunca chover (é sério) e da cidade ser muito plana, quase não se vêm bicicletas. São raras. Mais fácil ver jovens circulando de skate no meio dos carros.

O clima é um caso à parte. As casas não tem telhado pois o máximo que acontece aqui são chuviscos esporádicos. Chuva chuva mesmo é tão raro quanto terremoto em São Paulo. Em compensação, o sol também raramente dá as caras por aqui. O que mais se vê é um céu cinza, melancólico, uma névoa eterna que circunda a cidade. Nos oito dias aqui, vi o Sol uma única e afortunada vez. No mais, cinza, cinza, cinza.

Para os turistas, a atração são as ruínas de civilizações que ocupavam a cidade antes da chegada dos espanhóis. Grupos organizados e com uma arquitetura capaz de resistir aos terremotos, que adoravam a deusa Lua e eram dominados pelas Mulheres, rivalizando com os Incas, nos Andes, onde mandavam os Homens que rezavam para o deus Sol. O ponto alto de Lima, porém, além da simpatia do povo, é a culinária, onde o ceviche, as dezenas de variedades de batatas e os frutos do mar fazem a delícia dos visitantes.

E foi aqui também que vi a primeira publicidade realmente ecológica do mundo. Perguntei a jornalistas que conhecem outros países com preocupação ecológica como Alemanha, por exemplo, e eles também nunca haviam visto algo parecido. A geografia peculiar de Lima ajudou. Apesar de litorânea, a cidade está num planalto há 150 metros do mar, sobre falésias de pedra vulcânica. Algumas depressões neste planalto, que parecem mais com o que antes foi o leito de um rio, cortam a cidade. Mas, no lugar de água, o que hoje há são grandes avenidas. Uma delas, a “via expresa” liga o centro aos bairros mais próximos ao mar, como Miraflores e San Isidro.

E é na via expressa que se deu a inovação. Nas laterais da avenida, escarpas em 90º, foi plantada grama. E nela, foi feita a publicidade, usando grama em cores e formatos diferentes para desenhar marcas e slogans. Claro, com critério e espaçamento entre cada “inserção”. O resultado é uma solução agradável e discreta para os transeuntes, ao mesmo tempo em que ajuda a pagar a conta da obra do novo corredor de ônibus na via. Lições da cidade sem telhados.

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