sábado, 26 de junho de 2010

Melhor jogo da Copa até aqui: Dunga X Globo




Como a Copa é assunto em todo lado, numa destas conversas, em final de reunião de trabalho, uma das gestoras de comunicação corporativa que mais admiro se virou e disse: “e o Dunga ein, arrumando briga com jornalista, com a Rede Globo? Alguém precisa treinar melhor o moço”.

Do ponto de vista técnico e formal do profissional de gestão de relacionamento com a imprensa, ela tem toda a razão. Quando ministro treinamento para porta-vozes, uma das primeiras instruções em o que não fazer é: nunca brigue com um profissional de imprensa. Se ele tiver por trás dele a maior rede de TV do país, pior ainda. Se for no meio da cobertura do evento mais esperado pela população inteira, que mobiliza agendas, conversas e paixões... bom, melhor nem comentar.

Mas algo interessante está acontecendo. E merece atenção. Dunga foi flagrado pelas câmeras xingando um jornalista da Globo que, numa conversa paralela com seus chefes por celular, durante a coletiva depois do jogo contra Costa do Marfim, reclamava da dificuldade de entrevistar os jogadores. O “causo” ganhou repercussão por conta da própria Globo que se colocou no papel de vitima, levou ao ar as cenas de Dunga soltando impropérios contra o profissional e colocou o apresentador do Fantástico daquele dia, Tadeu Schmidt, para ler editorial em que afirmava que o treinador da seleção canarinho tinha comportamento não compatível com seu desempenho esportivo.

Pronto, o circo estava armado. Se, pelas regras do treinador, a TV Globo estava com dificuldade para cobrir mais profundamente o cotidiano da seleção (o que estarão fazendo os 300 profissionais da rede deslocados para a África do Sul), agora tinha conteúdo para deitar e rolar. Na falta de futebol, vamos falar mal do autoritarismo do técnico.

A emissora só não contava (será) com a reação do público via redes sociais. Depois de emplacar mundialmente o Cala a Boca Galvão, o brasileiro colocou o Cala Boca Tadeu Schmidt como novo líder do Trending Topics do Twitter. Interessante sinal de que, apesar de todas as criticas da imprensa com relação às barreiras que o Dunga colocou a seu trabalho (e não foi só a Globo que chiou não), das reclamações por conta da escalação questionável e ao futebol que ainda não convenceu, a população está mais para Dunga que para Globo.

Será uma reação a forma muitas vezes truculenta com que a emissora trabalha, exigindo, por conta de sua força no IBOPE, privilégios, exclusividades e afins? São muitas as histórias de coletivas paradas no meio por conta do horário em que a Globo precisava entrar ao vivo no ar (importante ressaltar que eu, pessoalmente, nunca presenciei algo assim). Acho difícil. São conversas que ficam nos bastidores do jornalismo e não são conhecidas pelo grande público.

Talvez a esperança de ganhar o titulo e de que, apesar dos pesares, o Dunga esteja certo é maior do que o ouvido que se dá à grande imprensa. Talvez Galvão, Tadeu e Globo tenham, no fim, menos poder do que acreditam. Talvez a opinião pública tenha resistência a opiniões e pontos de vista com interesse certo (e seja mais esperta do que se avalia para entender estes interesses). Talvez a própria imprensa e os jornalistas com sua postura de questionar tudo e todos esteja desgastada. Enfim, vale a pena acompanhar de perto.

Outro ponto interessante é o quanto ferramentas de redes sociais como o Twitter estão se tornando um canal independente de expressão da opinião pública, sem os filtros da imprensa – e inclusive criticando a mídia tradicional. A democracia agradece. Mas vale lembrar que a voz da maioria nem sempre é a fala da verdade – mitos, boatos e fantasias costumam ganhar corpo e se tornarem “verdade” para muitos, às vezes para a maioria.

E, voltando a Dunga, estamos agora num jogo de xadrez. Se o Brasil ganhar a Copa, ele manda um Cala Boca Globo gigante. Só que a emissora e sua voz oficial para o esporte, Galvão Bueno, não podem torcer abertamente contra ele – afinal, é o Brasil na copa do mundo. Se perder, Dunga nunca será perdoado e a culpa, infelizmente, será mais de sua postura com a imprensa do que do futebol em campo. Futebol?

4 comentários:

  1. Guilherme. Quando fala de opinião pública, não sei se o termo se encaixa bem. Pois, para mim para que haja a construção da opiniao pública as partes devem estar totalmente informadas e possuir o mesmo alcance ao fatos. O que parece que não aconteceu. Por isso os boatos da briga Dunga X Fátima Bernardes, Dunga X Alex Escobar. Na verdade não sabemos o verdadeiro motivo destas 'brigas', por isso não acredito que possamos construir uma opinião pública sobre estes fatos. O que podemos é opinar e também especular.

    Mas acho que as redes/mídias sociais são hoje o meio sim para construir a opinião pública, mas é preciso que toda informação esteja disseminada a todos.

    Parabéns pelo excelente texto.

    Abraços
    Mateus

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  2. Mateus, excelente texto. Acredito que neste momento inicia-se um novo olhar a tão poderosa Rede Globo.

    As instituições poderosas em algum dia vêem sua estrutura (imagem) abalada por alguém ou alguma situação. Com Dunga ou sem ele fica deflagrada à todas as pessoas que o uso do poder, leia-se dinheiro e manipulação, nem sempre acontece como planejado.
    O Brasil não é o mesmo de 4 anos atrás, não temos o mesmo treinador e nem a mesma equipe.
    Da mesma maneira que os jornalistas querem trabalhar o Dunga também.

    Agora é espera pelos resultados.

    Abraços
    Teresa

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  3. Grande Mateus, cuja troca de tuítes sobre o Dunga inspirou este post: acho que bem ou mal formada, a opinião pública (muitas vezes palpite público) tem força amplificada com as redes sociais. Para o bem ou para o mal.

    Teresa, como você bem aponta, o questionamento a instituições antes tidas como acima do bem ou do mal, como a Globo, é um dos aspectos positivos deste momento.

    Obrigado pela leitura e comentários.

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  4. Não vou aqui defender o sistema de trabalho tecnico e pessoal que o Dunga escolheu no comando da seleção...mas pergunto! Ele escolheu sozinho? E teria tanto poder para tal???Baseado no que deu errado na Alemanha 2006 me parece mais uma ideia oriunda da CBF que precisou de um testa de ferro a frente de uma "nova estrategia", que acabou fazendo agua...mas algo é certo, num país que se diz de regime "Democratico" (piada neh)a imprensa pode fazer e desfazer qualquer coisa dojeito que eles bem entendem !! Porque ninguem ate agora questionou ou abordou toda essa situação tambem por esse prisma??? Nem todo mundo no Brasil é tão cego assim amigos...

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