quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Um post de amor a São Paulo


Foto de Rodrigo Dionísio, outro amante da São Paulo real

Fiquei impressionado. Hoje de manhã tive uma reunião profissional num moderno edifício comercial na Leopoldo Couto de Magalhães Junior, rua tão pomposa quanto o nome, em pleno Itaim Bibi. A edificação ainda cheira a nova. Mas o que realmente me chamou a atenção foi que o prédio simplesmente não possui nenhum acesso para pedestres. Isso mesmo.

Construído num nível cerca de um metro mais alto do que a rua, o edifício conta com três rampas de acesso para veículos. E só. Qualquer incauto passante que esteja na calçada e tenha a vontade ou, como no meu caso, a necessidade de entrar se vê obrigado a dividir espaço com os carros que sobem e descem. Senti-me um extraterrestre. Será que sou o único que ainda caminha pela cidade?

O mais triste é que o tal prédio é emblemático de como esta cidade está se estruturando. Cada vez mais os locais elegantes, refinados, destinados às pessoas de fino trato, passam a segregar os pedestres. Ou você chega de carro ou não chega. Um analista mal humorado afirmaria que se trata de algo pensado. Em sua necessidade de preservar a segurança dos bem nascidos e deixar os menos favorecidos longe de sua visão – afinal, é tão deprimente lembrar que ainda existem pobres – ampliam-se as barreiras físicas e a posse de um veículo passa a ser mais um diferencial entre quem pode e quem não pode entrar no clube (era melhor quando esta seleção era feita por uma calça de marca, uma conversa sobre esqui ou uma sacola da mega-loja chique entre a Marginal Pinheiros e a favela da Vila Olímpia).

Mas eu não acredito nisto. Acho que é burrice mesmo. Por qualquer ângulo que se veja, seja o da preservação do meio ambiente, seja do trânsito, seja da alegria de ver as ruas cheias de gente interessante e se alegrar ao desejar a alguém bom dia (lembra disso??), uma cidade construída para ocupantes solitários de carros blindados é uma deprimente estupidez. O crítico mal humorado do parágrafo de cima diria que nossa elite é imbecil (sem lembrar que todo pseudo-intelectual, neste país, também é parte desta mesma elite). Prefiro achar que está perdida, aprisionada em seu medo.

Porque não mudamos de atitude? Quando vamos começar a dar carona? A ir a pé se o endereço é próximo? A pegar o metro, o trem, o ônibus? Quando vamos andar de bicicleta pelas ruas da cidade – não só como lazer, mas como meio de transporte? Quando vamos perder o receio de olhar o outro por receio de ver refletido nele nossa falta de atitude?

2 comentários:

  1. A boa (ótima) notícia foi a ciclovia que fizeram para ligar os parques Villa Lobos e do Estado, você viu? Achei super bacana...

    Mas realmente acho que é menos uma questão de medo do que um hábito social mesmo, viu? Talvez pelas próprias dimensões da cidade. Nisso, o Rio é bem diferente. E olha que lá tem medo e violência para dar e vender!! Mas o carioca tem por hábito andar a pé, inclusive a 'elite'. Tanto que um dos bairros mais valorizados, o Leblon, é próprio para o pedestre...

    Por uma razão ou outra, o paulistando associa carro à status. Então menos que uma questão de conforto, é mesmo uma questão social.

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  2. A ciclovia é um passo, Anaik, mas acho que muito tímido ainda para nossas necessidades. Mas, enfim, é um passo.
    E o exemplo carioca mostra o quanto estamos sendo retrógrados em São Paulo. Pessoalmente acho que a violência é desculpa - e sim, já fui assaltado andando a pé aqui na Vila Olímpia. Mas continuo caminhando.
    Se é uma questão de status, vamos mudar o ponto de vista e valorizar quem tem a bicicleta com mais penduricalhos trazidos da Suiça, por exemplo...

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