sábado, 1 de maio de 2010

Ergam as barreiras, o metrô chegou

Não é verdade, comprovadamente. Mas, depois que ouvi mais que uma vez, de fontes diferentes, a mesma afirmação, percebi que, por trás dela existe outro fato que, este sim, parece ser infelizmente verídico.

Pesquisa recente, que refletiu em diversos meios de comunicação, mostrou que a inauguração ou mesmo o anúncio de novas estações de metrô faz a festa do mercado imobiliário. Atraídos pela facilidade, novos moradores se oferecem a pagar valores maiores para habitar estas regiões. O fenômeno, registrado recentemente em São Paulo e Rio de Janeiro, preocupa alguns urbanistas como a Raquel Rolnik, pois estaria afastando de bairros consolidados parte de seus moradores tradicionais, impossibilitados de bancar o aumento do metro quadrado.

Criticas a parte, faz todo o sentido, certo? Em megametrópoles onde ninguém em sã consciência quer conviver com o trânsito caótico, viver perto do metrô é valor agregado. Em minha incansável busca pela liberdade do carro, pesquisei alguns imóveis próximos às estações paulistanas. E foi então que tomei um susto. Mais de uma vez, ao visitar apartamentos mais distantes do que o esperado do metrô, ouvi o argumento: ah, mas imóvel perto da estação desvaloriza.

Contrariado, tentei entender o argumento por trás desta afirmação que, num primeiro momento, me pareceu puro nonsense. Piorou. A desvalorização ocorreria pela aglomeração de “pessoas esquisitas” nas redondezas. Gente simples, menos favorecida, que teria acesso ao local pelo transporte público, além de profissionais liberais que aproveitam o maior transito de pessoas para oferecer seus serviços (taxistas, ambulantes, camelôs, etc.).

Mesmo tendo pesquisas que provam o contrário, o fato desta falácia ser dita abertamente comprova que há muita gente em São Paulo que acredita nisto, ou para quem esta demonstração de discriminação explícita faz sentido. São pessoas para quem o ideal de cidade é pensada a partir de seu próprio umbigo, com espaço apenas para meus iguais, permitindo que eu me sinta membro de um espaço de privilegiados.

Até ai é triste mas cada um que faça sua terapia. O que “pega” mesmo é mais uma mostra de que a posse do carro é, para estes paulistanos, divisão entre quem pode e quem não pode, entre os eleitos para esta cidade perfeita e os invasores, bárbaros que deveriam ficar restritos à periferia. Para estes, o metrô não é uma solução de transporte – até porque não irão jamais se misturar com o populacho no aperto dos trens. Mas sim um portal que transporte para seu bairro uma horda de gente estranha.

Se continuarmos pensando assim, mais do que construirmos prédios sem entradas de pedestres, como denunciado aqui no CoffeeBreak ou termos um trânsito eternamente comprometido, em breve estaremos erguendo muros em torno de nossas ilhas urbanas e assim defendendo nossas mulheres e crianças sadias da barbárie das ruas. Pensando bem, já estamos fazendo isso faz um bom tempo, não é mesmo?

2 comentários:

  1. Pois é Guilhermo.

    Idêntico ao que falaram aqui no Rio quanto ao metrô em Ipanema e agora no Leblon. Não entendo como essa pessoas achem que é melhor restringir o acesso ao bairro - que acaba acontecendo de qualquer forma - do que ter mais uma opção de transporte urbano simples e barata.

    Bom post.

    Abraço.

    ResponderExcluir
  2. O problema é que megalópoles como São Paulo, Rio e outras são pensadas, ou não pensadas, para crescer, fazer dinheiro. Não tem espírito comunitário como em cidades médias ou até grandes, em outras regiões do País. Este espírito de apego ao local onde nasceu ou vive, se por um lado traz bairrísmo, faz cada morador/cidadão ser um vigilante para que o ambiente onde ele existe tenha bem estar coletivo. Quando apreendemos que a cidade é sua e não só um ajuntamento de pessoas, o conceito muda. O transporte público, a saúde pública, a educação gratuita passa a ser sua responsabilidade també. Cuidar que seja bom e seja para todos fica evidente.

    ResponderExcluir