sexta-feira, 31 de julho de 2009

Quem lê tanta notícia?

Para terminar a semana com um tom otimista (apesar do tempo hoje em São Paulo). Em comentário ao post “A Internet já revolucionou seu negócio hoje?” a Anaik von der Weid, autora do blog sobre literatura Melhores Palavras http://melhorespalavras.blogspot.com/ escreveu sobre o self-publishing. Repito suas ‘melhores palavras’: “Virtualmente, qualquer um pode ser autor. Bom ou ruim? Estímulo à criatividade ou banalização de conteúdo?”.

Excelente reflexão. Para Anne Trubeck, professora de escrita do Oberlin College, citada no Idea of the Day, blog de ideias do The New York Times http://ideas.blogs.nytimes.com/ , a atual enxurrada de textos nas mídias sociais é positiva. Mesmo considerando a enormidade de bobagens inomináveis, erros gramaticais e falta declinante de estilo, o ponto, para Trubeck, é que nunca antes se escreveu e leu tanto. E que é exatamente o ato de treinar que permite que as pessoas melhorem sua escrita. Mais do que isto: Trubeck acha que a concisão necessária em mídias sociais como o Twitter podem ajudar muitos a desenvolver um estilo literário e a pensar no que (e como) escrevem. Veja o posto original em http://ideas.blogs.nytimes.com/2009/07/29/we-are-all-writers-now/

Emendo com mais otimismo: pesquisa da University os Sussex citado em artigo da Marie Claire inglesa que achei em tweet da Anaik (só dá ela hoje ein?) indica que ler é a melhor maneira de relaxar – na frente de caminhar, ouvir música ou parar para tomar uma xícara de chá (pesquisa inglesa, lembrem). Este hábito seria capaz de reduzir os níveis de estresse em cerca de 68%.

Lindo não? Pode ser... mas não esqueçam que nunca antes a humanidade criou tanto conhecimento (se é que se pode classificar assim tudo o que geramos) e, como efeito, milhares de pessoas começam a sofrer de angustia e ansiedade pela simples incapacidade de acompanhar a mínima parte de tudo isto (desculpem, mas não dava para passar sem esta provocação). Enfim, mais uma vez, felizmente, ninguém tem a resposta.

2 comentários:

  1. Obrigada pelas menções :)

    Mas voltando à vaca fria, se não há resposta, há no mínimo uma contradição sobre o fato de que a enxurrada de informações estimula a leitura. A última pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, encomendada pelo Instituto Pró-Livro ao Ibope, apontou que existem nada menos do 77 milhões de brasileiros não-leitores, considerando como não-leitores aqueles que não leram NENHUM livro no ano anterior à pesquisa.

    O triste (ou não?) é que desse total, apenas 33% são analfabetos, o que significa dizer que há mesmo falta de interesse. Mais de 54% das alegações dizem respeito ao desinteresse pela leitura (falta de tempo; outras preferências; desinteresse total). No dia a dia de jovens e adultos entre 15 e 39 anos, a leitura aparece em 4º ou 5º lugar, atrás de ver televisão, ouvir música, às vezes rádio, e, inclusive, Twitter, Orkut, Blogs, etc etc etc.

    Posso testemunhar, com muito pesar, que vários colegas se formaram comigo (em Jornalismo, na UFRJ, teoricamente entre as melhores do Brasil) sem ter lido um livro sequer. Não estou dizendo que os livros superem qualquer outro tipo de conteúdo. Pelo contrário. Graças às inúmeras ferramentas, adolescentes podem ter acesso a ideias tão estimulantes quanto as postadas aqui, neste blog. Mas será o que eles buscam? E mais: sem uma formação de base, o quanto eles conseguem aproveitar do que tem contato? Se você vai ao cinema assistir Woody Allen no século XXI e estão lá inúmeras referências ao Dostoievski do século XIX, eu pergunto: o quanto é possível construir sem uma formação intelectual básica?

    O que aconteceu com a velha máxima Standing on the shoulders of giants?

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  2. Acho que o ponto aqui (e vamos frisar, acho) é diferenciar leitura e literatura.
    Pelo que entendi, o ponto de Trubeck é que a enxurrada on-line incentiva a leitura ponto. Seria melhor que estas pessoas estivessem lendo Dostoievsk para entender o Allen (ele continua citando Crime e Castigo filme sim e outro também??)? Provavelmente. Mas talvez não estivessem lendo nada.
    Quantos leitores virtuais se animam a passar aos livros? Talvez nenhum, não sei.
    Mas o buraco, provavelmente, está mais embaixo. Meu chute é de que o elo entre brasileiros e a literatura se quebra na escola. Conheço muita gente que só redescobriu a leitura quando descobriu que havia temas mais próximos de suas vidas e interesses que os clássicos. Algum tempo depois, estavam até arriscando um autor menos popular.
    Eterno otimista, me pergunto se a interatividade da internet não pode revolucionar a educação, abrir portas, mentes, informações, democratizar a informação e permitir que o jovem escolha livros que ofereçam paixão ao ler.
    Eterno pessimista, me pergunto se a enxurrada de informações curtas, rápidas, não está criando uma geração de leitores anciosos que não conseguem se concentrar nas 800 páginas de Guerra e Paz.
    Talvez ambos. Ou nenhum. Viva o depate, que faz pensar. Inclusive o debate sobre os gigantes sobre os quais deveriamos nos apoioar.

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