quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Medo: muitos efeitos e alguns caminhos alternativos

Há alguns dias participei de um curso sobre finanças com o consultor Roberto Cunha. Depois de ser executivo de grandes empresas como Odebrecht e Vale, sempre cuidando da vida financeira, ele concluiu que, mesmo na sua árida área de trabalho, tudo é comportamento, atitude. Os números, o balanço contábil de uma empresa ou de uma pessoa, é apenas o resultado de nossas escolhas. Achei algumas se suas colocações muito interessantes.

Para Roberto, o medo é o freio da mudança. Ele diz ter visto isso em inúmeras empresas, que acabam perdendo o bonde da história por receio de testar novos caminhos ou de mudar posturas sedimentadas. Indo a um nível mais profundo e falando de “Finanças Comportamentais”, ele explicou que todos somos neurologicamente programamos a agir de forma repetitiva e, a parti do momento em que se encontra um caminho relativamente confiável, evitar a mudança. Isso nos dá a sensação de tranqüilidade, de segurança. Só que o mundo continua se transformando lá fora... O medo é o aviso natural de que estamos saindo de nossa zona de conforto. Mas talvez a única forma de evoluirmos seja exatamente vivendo o diferente.

Outra ponderação do nosso consultor é sobre o risco. Viver é correr riscos. Temos a ilusão de uma estrutura que nos protege. Bobagem. Todos nos vivemos momentos de desafiadores, por mais que os evitemos. Uns maiores, outros menores. Mas é a nossa reação à adversidade que vai determinar o nosso sucesso (afinal, é bem mais fácil fazer o certo quando tudo vai bem).

“Todos especulamos”. Para Roberto, sempre que planejamos algo, seja a compra de um imóvel ou um final de semana na praia, estamos pensando sobre algo que foge de nosso controle (e se chover? E se houver um acidente e fecharem a estrada?). Logo, estamos fazendo uma especulação. Assim, o melhor seria aproveitar o conhecimento acumulado destas experiências para aplicar em coisas maiores, como nosso projeto de vida.

Finalmente, Roberto acha que todo erro é uma tentativa. Parte do medo que imobiliza pessoas e empresas vem do fato de que nosso cérebro é naturalmente orientado para super-valorizar o que é negativo. O medo de repetir a atitude que gerou dor ou desconforto é maior do que o prazer gerado pelos acertos. Assim, no médio prazo, nos deixamos enredar por uma atitude defensiva. Não erramos mais. A opinião de Roberto é de que deveríamos ter uma postura mais positiva com o erro. De aprender com ele sem buscar culpados. E de, ao avaliar uma operação mal-sucedida, tentar entender o que deu certo e focar nisto. Este poderia ser um caminho para, com planejamento e inteligência, vencer o medo e buscar o novo.

Este post é dedicado ao Mateus, do blog Ocappuccino, que ao comentar sobre um post do CoffeeBreak sobre a dificuldade das agências de comunicação corporativa em se lançar sobre a comunicação digital de seus clientes, diagnosticou (acertadamente, a meu ver) que a causa é o medo.

2 comentários:

  1. Medo, medo e que medo! vivo com medo, e tenho certeza de que não sou a única. Naquele eterno papo de nós com nós mesmos, me digo que o medo é "prudência", e muitas vezes pode ser sim. Como bem colocado pelo Roberto Cunha, passamos a vida especulando - especulo o tempo inteiro, sob a doce ilusão de que isso me prepara para o impreparável.

    Concordo que deveríamos mesmos deslocar o foco desta especulação para as grandes decisões. Afinal, estas pequenas coisas são ou incontroláveis ou insignificantes. Vamos à casa de praia amanhã. E se chover? Bom, primeiro eu não posso controlar o tempo e, segundo, também não é o fim do mundo.

    Mas... em minha (e a de quem mais se identificar) defesa, é muito mais difícil especular em relação às coisas REALMENTE importantes. Sobretudo por uma razão: porque a conclusão óbvia seria que desconhecemos as variáveis.

    bjs,
    Anaik

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