terça-feira, 13 de outubro de 2009

Comentários públicos e silêncios privados

Se alguém ainda tinha dúvida, a privacidade importa sim para quem usa a internet. Pesquisa realizada pela UC Berkeley and Annenberg School of Communications que li no MinOnline.com
relata que até 86% dos norte-americanos rejeitam anúncios quando são informados que foram utilizadas ferramentas de tecnologia para saber quais seus interesses e assim endereçar a proposta a elas diretamente. O suposto benefício que os desenvolvedores desta nova publicidade on-line advogam, de entregar ao consumidor exatamente o que ele precisa, não foi suficiente para justificar que qualquer sistema eletrônico rastreie dados de navegação para este fim, invadindo a esfera privada do cidadão.

Mas esta confusão entre o público e o privado ainda vai dar muito o que falar nestes novos tempos digitais. Pelo menos entre boa parte dos profissionais de imprensa, a fronteira entre estes dois ambientes ficou, digamos, fluida. Anaik (de novo ela) me passou um post do jornalista norte-americano James Poniewozik no blog da Times discutindo a determinação do The Washington Post de criar uma política restringindo o que seus jornalistas podem ou não comunicar nas redes sociais, em especial o Twitter. Resumindo, os profissionais do TWP não podem escrever sobre nenhum tema polêmico ou que reflita posicionamento político ou social. O ponto dos chefes do jornal é que qualquer comentário que revele uma opinião sobre, digamos, religião ou sexo, pode levar os leitores a questionar a isensão jornalística do profissional na cobertura do tema.

Poniewozik preconiza o contrário. Acha que o conhecimento do ponto de vista pessoal do jornalista sobre determinado tema ajuda o leitor a ter uma visão mais clara do fato e honesta sobre o que está lendo. Para a cultura jornalística dos EUA, isso faz diferença. Tanto que, naquele país, durante as eleições, os veículos de comunicação tradiconalmente assumem editorialmente o apoio a um ou outro candidato, exatamente para permitir que o leitor tenha este parâmetro na cobertura da campanha.

Mas o principal ponto de Poniewozik é que, claro, o jornalista que não tem opinião não é isento. É idiota. E que é uma tolice dos veículos querer iludir seus leitores do contrário, uma vez que o bom profissional vai sempre buscar a isenção, independente de suas crenças pessoais. Para piorar, o TWP é tido nos EUA como um veículo liberal, ou seja, democrata, e a política foi vista como uma oportunidade para os republicanos, ainda doloridos com o cenário político pos-Bush, "cairem de pau".

Aqui no Brasil a moda também pegou. A Folha de São Paulo, por exemplo, também criou regras parecidas. Além de "exortar" a seus profissionais que se isentem de comentar sobre política, políticos e partidos, proibiu a redação de usar o Twitter e demais ferramentas para divulgar fatos ou notícias antes de sua publicação (o que, pessoalmente, até considero adequado, ou os jornais começarão a ser furados pelos próprios jornalistas).

Na publicidade, temos o caso do profissional que trabalhou para uma das agências contratadas para fazer a campanha pela candidatura de Chicago às Olimpíadas de 2016 e que depois criou um blog irônico onde dizia que os moradores da cidade norte-americana estavam engajados na candidatura... do Rio de Janeiro.

Nestes tempos em que todos podem se tornar pessoas públicas, até onde podemos manter a liberdade de expressar nossa opinião? Os profissionais de comunicação vendem seu direito de opinar quando passam a trabalhar para um veículo ou agência? Conheço a história de um profissional de comunicação corporativa que comprou um carro zero com problemas na documentação (número incorreto do chassis) que tornava o veículo ilegal, mas não podia reclamar pois a montadora era cliente de sua agência. Teremos que criar pseudonimos para expressar publicamente o que pensamos de verdade? Ou simplesmente nos calamos?

Nenhum comentário:

Postar um comentário