quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Balão de perna curta: o ciclo de vida da mentira nas mídias sociais


Terça fiz, meio de brincadeira, meio a sério, um comentário na introdução no post escrito sexta passada onde, entre outros assuntos, a história do ballonboy. Para quem estava em marte entre o final da semana passada e o hoje, é o “causo” da família do Colorado, nos EUA, que mobilizou polícia, exército, mídia e redes sociais por conta de um balão caseiro que escapou e que poderia estar transportando um menino de seis anos.

O assunto virou hit instantâneo no Twitter, que os norte-americanos usaram para tentar mobilizar pessoas na busca ao objeto voador. Mais ainda depois que o artefato foi recuperado sem o garoto dentro. Notícia em todo o planeta, aumentou ainda mais quando, pelo serviço de microblog, se revelou que a criança estava escondida no porão de sua própria casa.

Surpreendente mesmo (ou não) foi o desfecho da história. Depois de algumas entrevistas na TV dos EUA, repercutindo o fato, se descobriu que tudo não passou de uma armação. O “desaparecido” foi orientado pelos pais a ficar oculto. E foi ele mesmo quem fez a revelação, durante reportagem para a CNN, quando, ao ser perguntado pelo pai pelo motivo de não ter respondido aos chamados da família, ele disse “vocês me disseram para fazer isto por causa do show”.

Segundo a polícia do Colorado, depois de ter participado de dois reality shows, família teria inventado a história para ganhar notoriedade e participar de mais um. Voltando ao comentário, comparei a farsa a uma ação de comunicação “fora da caixa”. Um exagero? O resultado foi invejável para os maiores criativos da área. A imprensa mundial abriu espaço para falar do “drama” - como jornalista, acho que foi a repercussão do tema na mídias sociais, em especial no Twitter, quem pautou as mídias convencionais, pois a história em si não era para ser (como foi) a manchete do JN.

Se você colocar na balança a relação custo/benefício, o tal do ROI (retorno sobre investimento na sigla em inglês) é de fazer qualquer gestor de comunicação corporativa se morder de inveja (isso se você, claro, não considerar a punição com que as autoridades dos EUA estão ameaçando a família: multa de meio milhão de dólares e até seis anos de cadeia).

Mas, para mim, a grande lição deste caso é o que deu errado. A farsa, a desconexão com a realidade, destruíram completamente a ação. A família ficou conhecida sim, mas como grandes mentirosos, capazes de instruir o próprio filho a mentir publicamente pela busca da fama. Bela fama.

Nestes tempos de realidade digital, onde muitos criam imagens públicas imaginarias, há a tentação de inventar simulacros para atingir os objetivos da comunicação corporativa. Que me delete da sua lista de following no Twitter o comunicador que nunca ouviu do cliente uma sugestão destas. Sem falso moralismo, minha avó já dizia que mentira tem perna curta. E quem acha que pode se proteger da verdade por meio de um avatar está no passado digital. As novas mídias chegaram para acelerar e difundir a informação. É matemático: o tempo de vida de uma mentira é inversamente proporcional à sua exposição em massa.

2 comentários:

  1. Bem legal o texto. Um dos melhores sobre o caso do menino no balão e a relação das mídias sociais e mídias de massa. É interessante ver qeu alguns fenomenos conseguem transpor esta barreira e viram pauta de grandes meios.

    MATEUS

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  2. Mateus,

    Obrigado pelo seu feedback. Acho que este fenômeno deve se repetir cada vez mais. Ao mesmo tempo, a necessidade de se checar a veracidade das informações nas redes sociais também vai crescer.

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