E eis que começa 2010. Apenas uma data ou começo de um novo ciclo, o fato é que, seja lá por quais motivos, muitos de nós estamos perguntando o que nos reserva o futuro próximo. Embalado por este espírito, leio que a Apple se prepara para oferecer um novo serviço (inicialmente nos EUA) que permitirá o armazenamento virtual de arquivos musicais. Chega de baixar músicas no computador, sincronizar iPhone e iPod, gravar CDs... melhor ainda: não vamos mais ter que nos preocupar com a capacidade de armazenamento de dados dos nossos aparelhos, uma vez que o conteúdo estará na rede.
Alguns serviços assim já existem nos EUA – o usuário paga uma taxa mensal e tem acesso a um portfólio gigantesco de músicas que pode ouvir e gravar em outras mídias na hora que desejar. A diferença aqui é a integração com o iTunes e os equipamentos Apple on line, permitindo ouvir suas listas a qualquer momento – contanto que tenha banda larga disponível no local.
Parece mesmo irreversível. A tendência, pelo menos no que se trata de fruição de conteúdos culturais, é o minimalismo. Quando era jovem, guardava meus LPs como tesouros de guerra (ainda tenho muitos!!). Logo vieram os CDs, menores, mais práticos e com maior capacidade de armazenamento. Hoje olho com nostalgia para a enorme pilha de caixinhas plásticas no armário da sala. Virou uma tralha inútil depois que transferi as músicas favoritas (e muitas não tão votadas assim) para meu iBook e fiz cópia em um HD externo. Isso sem falar nos diversos trabalhos que só tenho em forma digital.
O mesmo aconteceu com minhas fotos (cada vez imprimo menos). Serviços como o Netfix, hoje ainda só nos EUA, ameaçam também tornar minha coleção de DVDs peça de museu. Para que ter a mídia física se poderei assistir ao filme que eleger no momento em que quiser?
Prefiro não pensar no dia em que o mesmo se dará com meus livros e revistas. Sou daqueles que tem uma ligação afetiva com estes objetos de papel. Suas cores, formatos, cheiro... mas não duvido que em breve estarei também usando algum leitor de e-books (ainda resisto bravamente mas sei que a guerra é perdida: enquanto escrevo este post, vejo um tweet informando que a venda de livros eletrônicos já superou a de físicos na Amazon).
Não é mais futurologia falar que todos os objetos antes utilizados para conter/armazenar conteúdos culturais deixarão de existir, ou serão nicho (como os LPs hoje). Ecologicamente falando, é muito melhor, muito mais próximo do tal consumo consciente, com muito menos lixo e preservando árvores e matérias primas não renováveis. Socialmente falando também. A redução nos custos de produção e distribuição destes objetos torna os conteúdos (que são o que importa) mais baratos e acessíveis – a partir do momento em que o acesso à banda larga e aos computadores se expandir, o que parece ser um caminho sem volta.
Finalmente, do ponto de vista cultural, esta revolução abre um horizonte nunca antes imaginado de possibilidades, seja para a fruição ou para a produção de música, literatura, cinema, artes visuais etc. Quebradas as barreiras de produção e distribuição, todos somos livres para criar e dividir cultura (se é ou não arte, bem, deixemos a questão para os críticos). Claro que estamos em meio da crise da mudança de paradigma, com as empresas organizadas para comercializar os antigos objetos que continham cultura estão tendo que se reinventar (ou quebrar) e a pirataria ameaçando desestimular financeiramente a produção. Mas acho que tudo é uma questão de encontrar um novo ponto de equilíbrio.
E tudo isto sem ter que colocar mais prateleiras na sala para pendurar livros, discos e CDs. Sem ter que carregar essa tralha para todo canto. Que esta visão nos inspire a um futuro minimalista em termos de consumo em geral, onde menos (quinquilharias) seja mais (conteúdo, qualidade, possibilidades). E que, nestas férias de verão, possamos todos viajar com uma mochila mais leve.
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