terça-feira, 30 de março de 2010

Tão perto, tão longe

Meu trabalho me permite viajar com certa freqüência. No começo deste ano, por exemplo, tive a grata oportunidade de visitar, com poucas semanas de diferença, Londres e Miami. E fiquei assombrado com a diferença com que ingleses e norte-americanos tratam a questão do respeito ao meio ambiente.

Na capital do Reino Unido me senti um ogro destruidor da natureza. Entre profissionais indo ao trabalho de bicicleta, transporte público funcional e ruas com poucos carros, o destaque, para mim, foi o total desaparecimento das sacolas plásticas.

Como todo bom viajante, comprei alguns badulaques para a família. Um brinquedo aqui, um chá acolá. Mas em momento algum os produtos foram acondicionados em embalagens plásticas. Alguns comerciantes me entregaram os itens em sacos de papel. Outros apenas devolveram a compra da mesma forma que eu a entreguei no caixa, ou seja, sem qualquer embalagem. Nas ruas, chamava a atenção a grande quantidade de pessoas passeando com pequenas sacolas de pano, para acondicionar compras miúdas.

Em Miami, bom, lá eu me senti um eco-chato. Ao contrário de Londres, a cidade norte-americana prioriza o transporte em veículos motorizados individuais. Com gasolina (ainda) barata e carros idem, o transporte público fica resumido a turistas teimosos que não alugaram um automóvel, pré-adolescentes (até os 16), imigrantes ilegais e trabalhadores mais humildes. Bicicletas? Só em regiões restritas como Miami Beach – apesar de plana, Miami e região se ‘espalha’ na horizontal por quilômetros e quilômetros (ou seriam milhas e milhas?), tornando difícil o deslocamento sem um meio motorizado.

Um grande centro de consumo, com seus shoppings e mega outlets de preços tentadores, a capital da Flórida parece bem distante de qualquer preocupação com o meio ambiente também no que se trata do destino do lixo. Praticamente impossível sair das milhares de lojas sem sacolas e mais sacolas plásticas. E, em quatro dias circulando pela cidade, não vi um único recipiente para separação de detritos recicláveis.

O mais assustador, porém, foi o passeio no final da tarde de uma terça-feira em Miami Beach. Não entendi nada. O belo mar com tons de azul claro estava lá, assim como as coloridas tendas de madeira dos salva-vidas. Mas aquele festival de lixo na faixa de areia não fazia o menor sentido. Por algum motivo bizarro, os banhistas norte-americanos simplesmente não recolhem seu lixo na praia. Latas de cerveja e refrigerante, copos de papelão, embalagens de lanches e salgadinhos se espalham pela praia, num deprimente espetáculo de falta de pudor e educação.

Claro que, em algum momento, alguém aparece e limpa tudo, pois de manhã cedo a paia esta limpinha, linda, reluzente. Mas será que eles nunca vão passear na praia no final da tarde? Curtir o por do sol então, nem pensar. Talvez haja um motivo, uma razão qualquer. Mas não parece nada coerente. Um gasto de dinheiro púbico (ainda bem que não é o meu) e um desrespeito com o ambiente, que merece um tratamento mais adequado.

Dois paises que dividem não apenas o mesmo idioma, mas a mesma base de pensamento anglo-saxão. De onde se origina tamanha diferença? Não tenho a menor ideia e nem mesmo a pretensão de, com a visão simplista de um viajante, responder a esta pergunta. A única pista que tenho é a cena que registrei em Londres, a beira do Tâmisa, bem em frente ao Tate Modern, onde um grupo decidiu enforcar pingüins e ursos polares (de plástico, ufa!) como alerta ao aquecimento global, dando uma mostra da distancia do engajamento popular das duas cidades. Enquanto isto, num final de tarde em Miami Beach...

Um comentário:

  1. Que pena que no brasil absorvemos muito mais a cultura norte americana e o serviço público não é tão eficiente para limpar nossas praias.

    Trabalho bom este hein. Qnd crescer quero um destes.

    MATEUS

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