quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Atolados na zona de conforto




Estava na XPress discutindo a repercussão do filme publicitário dos pôneis da Nissan (cliente da casa) quando um amigo comentou sobre a nova campanha da Bradesco Seguros. Com o mote “Vai que..” ela usa um humor bastante peculiar (por isto a associação com os pôneis da Frontier) para falar dos benefícios de segurar seus bens. Numa das peças, um ladrão desiste de levar o carro quando, no meio da fuga, o cantor Biafra (lembra?) surge dentro do carro cantando o “hit” O Sonho de Ícaro.

Ao ver o filme, minha primeira reação, óbvio, foi rir muito. A segunda foi pensar na coragem do Biafra de se expor desta forma. Por mais que todos nós gostemos dos que sabem rir de si mesmos, esta postura ainda está muito distante do que esperamos ver de pessoas públicas (marcas então, nem pensar). Discursos muito bem pensados, planejados e treinados (quase sempre por um de nós, profissionais de comunicação corporativa). Postura impecável de vencedor (ou, no mínimo, de quem está no caminho certo da vitória). Com exceção de cenários de crise, onde é de bom tom ter a humildade de pedir desculpas pelo mal feito, todos estão sempre vendendo sucesso e alegria. Tudo dentro do script.

Se esta é a regra, então o Biafra, que aparece ridicularizando sua própria imagem está acabado, certo? Não. Além de colocar seu nome de volta nas conversas (e nas mídias sociais), leio na Sonia Raci que a campanha ressuscitou a carreira do moço – os convites para shows triplicaram! O surto de Charlie Sheen ao não renovar seu contrato para “Two and a half man”, quando começou a disparar os maiores disparates no Twitter, incluindo bastidores picantes do show business, é outro bom exemplo de conduta fora da curva que cativou o público (ele lotou teatros por um bom tempo nos EUA, até implodir em chatice explícita).

Será que não estamos todos um pouco cansados destes discursos cuidadosamente perfeitos? Será que não há espaço (em algumas situações, por exemplo) para uma postura com um pouco mais de personalidade? Humor? Auto-crítica? A coragem de ser diferente (como a da Nissan, por exemplo) precisa ficar limitada à publicidade? Não seria o caso de pensar se nós, na comunicação corporativa, não estamos atolados em nossa zona de conforto de fórmulas prontas?

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