quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Inovação meia boca (It's Only Rock'n'Roll But I Like It)










Parece totalmente contraditório. Por que motivo, numa época em que se tornou absurdamente fácil adquirir, armazenar, transportar e até mesmo ouvir música – e não qualquer música, mas sim a música que realmente te interessa, estamos assistindo o retorno de uma tecnologia dos anos 50, que “prende” as notas musicais em grandes placas redondas de plástico negro?

Sim, o velho e bom disco de vinil está na moda. Suas vendas cresceram 55% no Reino Unido nos últimos 12 meses e devem aumentar em mais de 25% nos Estados Unidos até o final deste ano. Para variar ainda não há dados no Brasil mas é bastante provável que este movimento deságüe por aqui também – desde o ano passado já é possível encontrar LPs novos em lojas como a FNAC.

O mais espantoso é que isto ocorre no exato momento em que as vendas de CDs mínguam. É só entrar na mesma FNAC e comparar o espaço que havia para os disquinhos há, digamos, cinco anos atrás, e hoje. Afinal, com a pirataria e as lojas virtuais de arquivos musicais em MP3, por que comprar um CD? E um LP então?

A primeira resposta que vêm à mente é o saudosismo. Tiozinhos que querem manter um charme analógico seriam os responsáveis por comprar os “bolachões”. Faz sentido. Então teríamos também um ressurgimento das máquinas de escrever e câmeras fotográficas analógicas, certo? Não! Em abril deste ano a última fábrica de máquinas de escrever do mundo, na Índia, fechou as portas por falta de encomendas.

Será então um fenômeno passageiro, um último soluço antes do cadafalso. Não é o que os números indicam. Pelo menos nos Estados Unidos o crescimento de venda de LPs segue constante, na casa dos dois dígitos, nos últimos três anos. Ok. Então se trata de uma questão econômica, por conta da crise, os consumidores do ainda primeiro mundo estariam buscando uma opção antiga e mais barata? Também não, pois os LPs atuais são mais caros que CDs ou arquivos digitais.

Fiquei matutando isso, pensando o que este fenômeno aparentemente contrário a toda tendência tecnológica atual significaria. Foi então que minha ficha caiu. Minha aposta é bem mais simples do que especulava anteriormente: o LP não morreu porque, quando pensamos em qualidade, ainda é a melhor tecnologia para reprodução de música. Ponto. É só comparar com a fotografia. Quando surgiram os primeiros equipamentos digitais, os profissionais continuaram usando filme pois a qualidade, para quem se importa com ela, era superior. Com tempo e investimento da industria, a tecnologia das fotografias digitais avançou ao ponto de tornar o filme substituível (mesmo profissionalmente) em 90% dos casos. E foi isso o que aconteceu.

Já com a música ocorreu o oposto. Depois do CD, que apesar de mais prático nunca entregou a mesma qualidade de som do vinil (pelo menos aos ouvidos mais bem treinados), o que surgiu foi o arquivo MP3 (barato e mega prático), que comprime e achata o som. Na falta de melhor tecnologia (até por conta da crise da industria fonográfica) os apaixonados por música com alguns tostões a mais voltaram ao que há de mais avançado: o velho LP.

Moral da história: inovação tem que entregar praticidade + qualidade para se firmar como definitiva e suplementar a prática anterior.

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