Na capital do Reino Unido me senti um ogro destruidor da natureza. Entre profissionais indo ao trabalho de bicicleta, transporte público funcional e ruas com poucos carros, o destaque, para mim, foi o total desaparecimento das sacolas plásticas.
Como todo bom viajante, comprei alguns badulaques para a família. Um brinquedo aqui, um chá acolá. Mas em momento algum os produtos foram acondicionados em embalagens plásticas. Alguns comerciantes me entregaram os itens em sacos de papel. Outros apenas devolveram a compra da mesma forma que eu a entreguei no caixa, ou seja, sem qualquer embalagem. Nas ruas, chamava a atenção a grande quantidade de pessoas passeando com pequenas sacolas de pano, para acondicionar compras miúdas.
Em Miami, bom, lá eu me senti um eco-chato. Ao contrário de Londres, a cidade norte-americana prioriza o transporte em veículos motorizados individuais. Com gasolina (ainda) barata e carros idem, o transporte público fica resumido a turistas teimosos que não alugaram um automóvel, pré-adolescentes (até os 16), imigrantes ilegais e trabalhadores mais humildes. Bicicletas? Só em regiões restritas como Miami Beach – apesar de plana, Miami e região se ‘espalha’ na horizontal por quilômetros e quilômetros (ou seriam milhas e milhas?), tornando difícil o deslocamento sem um meio motorizado.
Um grande centro de consumo, com seus shoppings e mega outlets de preços tentadores, a capital da Flórida parece bem distante de qualquer preocupação com o meio ambiente também no que se trata do destino do lixo. Praticamente impossível sair das milhares de lojas sem sacolas e mais sacolas plásticas. E, em quatro dias circulando pela cidade, não vi um único recipiente para separação de detritos recicláveis.
O mais assustador, porém, foi o passeio no final da tarde de uma terça-feira em Miami Beach. Não entendi nada. O belo mar com tons de azul claro estava lá, assim como as coloridas tendas de madeira dos salva-vidas. Mas aquele festival de lixo na faixa de areia não fazia o menor sentido. Por algum motivo bizarro, os banhistas norte-americanos simplesmente não recolhem seu lixo na praia. Latas de cerveja e refrigerante, copos de papelão, embalagens de lanches e salgadinhos se espalham pela praia, num deprimente espetáculo de falta de pudor e educação.
Claro que, em algum momento, alguém aparece e limpa tudo, pois de manhã cedo a paia esta limpinha, linda, reluzente. Mas será que eles nunca vão passear na praia no final da tarde? Curtir o por do sol então, nem pensar. Talvez haja um motivo, uma razão qualquer. Mas não parece nada coerente. Um gasto de dinheiro púbico (ainda bem que não é o meu) e um desrespeito com o ambiente, que merece um tratamento mais adequado.
Dois paises que dividem não apenas o mesmo idioma, mas a mesma base de pensamento anglo-saxão. De onde se origina tamanha diferença? Não tenho a menor ideia e nem mesmo a pretensão de, com a visão simplista de um viajante, responder a esta pergunta. A única pista que tenho é a cena que registrei em Londres, a beira do Tâmisa, bem em frente ao Tate Modern, onde um grupo decidiu enforcar pingüins e ursos polares (de plástico, ufa!) como alerta ao aquecimento global, dando uma mostra da distancia do engajamento popular das duas cidades. Enquanto isto, num final de tarde em Miami Beach...