Eu estava escrevendo um texto super complexo, que poderá se desdobrar em pelo menos dois posts, quando me dei conta de que o ano está realmente acabando. É só olhar a redução na quantidade de tweets. Ou o trânsito finalmente um pouco melhor de São Paulo. Alguns sortudos já pararam, muitos estão com a cabeça nos preparativos para as festas e outros, como este escriba, alucinados de tanto trabalho para compensar a breve pausa de Natal e Ano Novo.
Então deixei o material sério para 2010, quando espero que haja leitores com paciência, e arriscarei um breve texto de final de ano – faltam menos de 10 dias e me pergunto se vou conseguir escrever de novo antes da virada.
Sou fã de listas e, por conta disto, sempre me pego lendo todo tipo de material sobre os melhores, os piores, os mais vistos, etc. etc. etc. E é isso mesmo que meus colegas das redações (e, acredito, dos blogs também) vão usar para ocupar o espaço normalmente dedicado às notícias que não acontecerão e aos artigos que ninguém quer ler (ou escrever).
Não sei quais as melhores, mais vistas, mais importantes etc. e tal de 2009. Também não me arrisco a afirmar o que vai acontecer no ano que chegará em breve (mesmo sabendo que nós, brasileiros, provavelmente iremos esquecer e ninguém me cobrará depois pelas bobagens ditas como sérias). Só tenho perguntas. E são elas que deixo para quem ainda estiver lendo este texto.
Será que o ego é mesmo o grande motor do mundo corporativo (para o bem e para o mal)?
O que queremos, no fundo, é ter razão ou saber a verdade?
O peso que o medo tem nas decisões, em especial as empresariais, estaria superestimado?
A cultura (no sentido antropológico) é a próxima fronteira da comunicação?
É possível o equilíbrio entre nosso impulso por conteúdo gratuito e a necessidade de remunerar quem gera material de qualidade?
As empresas perceberão que já estão nas novas mídias (e que agora é uma questão de lidar com esta realidade)?
A repulsa ao transporte público, à carona e às caminhadas é necessidade de auto(móvel)-afirmação? Ou é mesmo preguiça pura e simples?
O consumo consciente vai passar de tendência à atitude?
A tecnologia irá nos libertar ou finalmente nos libertaremos dela?
Todos seremos veículos de comunicação de massa?
Seguimos fazendo tudo igual, mas por caminhos diferentes?
Estamos questionando (ou preferimos a ilusão de nossas certezas pétreas enquanto o mundo continua a se mover)?
Estamos fazendo as perguntas certas? Ou apenas aquelas que justificam nossas respostas?
Na desesperada busca por certezas que talvez simplesmente não existam, continuaremos nos deixando levar por modas, profetas e gurus ou vamos aprender a pensar por nos mesmos?
O Santos será campeão brasileiro?
Que 2010 nos traga novas perguntas.
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
"Você é escravo do trânsito"*
*frase grafitada na avenida Faria Lima, quase esquina com a JK, sentido Vl Olímpia
Juro que foi sem querer, mas pareceu aposta, competição. Ontem combinei de me encontrar, no final da tarde, com minha esposa num supermercado próximo a nossos escritórios, na rua Clodomiro Amazonas, Itaim. Como era rodízio de nosso carro, que estava com ela, acertamos que eu iria a pé até o local.
Minha mulher saiu de seu escritório, na Juscelino Kubitschek sentido Marginal, quase na esquina com a Henrique Chamma, às 19h45. Foi de carro, pela rua Leopoldo Couto de Magalhães Junior, para fugir da fiscalização do rodízio (!!!!). Dei 15 minutos de vantagem (rs) e sai do meu escritório na rua Gomes de Carvalho, quase esquina com a Lourenço Marques, às 20h02. Fui andando. Exatamente 20h17 cheguei ao destino e liguei para Adriana. Tinha certeza de que ela já estava com o carrinho cheio de guloseimas natalinas. Ela não atendeu. Tentei de novo. Nada. Comecei a procurar o carro no estacionamento (queria guardar minha bolsa) e não achei. Sim. Ela ainda não estava lá. Dois minutos depois nosso carro (por uma questão de ecologia e economia fazemos questão de ter um só) apontou na entrada do Pão de Açúcar. Levei 15 minutos e ela mais de meia hora.
Na saída do meu escritório, desci no elevador com um colega de trabalho. Contei para onde ia e como. A reação do moço foi uma síntese de como pensamos: mas vais a pé? (ele é gaúcho). Bah! Espera alguém sair de carro e pegas uma carona. Ainda bem que optei por seguir caminhando.
A infeliz realidade de nossa cidade é que, em muitas situações, caminhar é mais rápido (e econômico, e saudável etc etc etc) que ir de carro. E enquanto todos ainda tivermos nossa mentalidade voltada ao automóvel como primeira (e única) opção para nos locomovermos, isto tende a piorar. E muito.
Minha opinião (e como não sou pesquisador ou antropólogo é apenas isto, uma opinião) é de que o pano de fundo deste fenômeno é cultural. O brasileiro super valoriza a hierarquia. Cargos, status, condição social importam sim. E muito. Desde a cadeia, onde quem tem diploma de ensino superior tem direito a tratamento diferenciado, até a mais simples de nossas relações, nossa posição determina o quanto de cidadania temos acesso. E o carro é mais um indicador claro de quem é quem. “Dotor” anda de carro, “mane”, a pé. Simples assim.
Só isso explica porque uma cidade onde, como levantou a Raquel Rolnik, 40% dos deslocamentos acontecem à pé (dados oficiais), os semáforos para pedestres de grandes avenidas são regulados para liberar o fluxo de veículos por diversos minutos e depois concede 20 segundos (sim, você leu certo, 20 segundos) para os transeuntes.
Acho que precisamos sair da nossa zona de conforto (falsa, pois ficar preso no trânsito esta cada vez menos confortável) e pensar em outras saídas. Uma grande amiga postou outro dia no Twitter que está impossível chamar um rádio táxi em São Paulo. Você fica 20 minutos esperando para a atendente falar com você e avisar que a unidade mais próxima levará meia hora para chegar. Preciso de um carro, disse ela. Você tem que levantar da cadeira e pegar um táxi na rua, disse eu. Numa época onde os confortos estão cada vez mais desconfortáveis, é hora de se mexer e pensar diferente.
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
e-crise. Sete dicas para blindar sua marca nas redes sociais
No post de segunda escrevi sobre como algumas tecnologias estão mudando (para pior) o cenário das crises de imagem corporativa. As redes sociais se tornam um canal rápido e extremamente poderoso para a divulgação de queixas, críticas e, como mostra o recente caso do cantor Dinho Ouro Preto, boatos. A proliferação de celulares com câmeras embutidas cria um contingente, como diria nosso presidente, nunca antes visto de fotógrafos e cinegrafistas se esgueirando em cada esquina.
Mas como as empresas devem lidar com esta nova realidade? Somando minhas experiência profissional no gerenciamento de crises mais os casos bem sucedidos de empresas como a Dominos’s Pizza, tenho algumas pistas:
1. O nome do jogo é agilidade – a dinâmica das redes sociais é a da viralização, onde uma mensagem se espalha de alguns poucos emissores para redes cada vez maiores e complexas. Quanto antes se agir para interromper este fluxo, menor o impacto.
2. Monitoramento – simples: se você desconhece quando uma e-crise começa, como poderá agir rapidamente. Certamente esperar que uma situação destas saia do universo das redes sociais para cair na mídia tradicional será tarde demais. Monitorar sua marca nas redes sociais é mandatório. Ponto.
3. Você tem que estar preparado – mais um reflexo do primeiro item. Só tem agilidade na resposta quem está pronto para levantar informações, desenhar cenários e tomar decisões a toque de caixa. Para isto não é necessário ser um super-homem, mas uma preparação prévia com a instalação e de um comitê de crises, desenvolvimento de um manual com processos para as mais diversas situações possíveis e o contínuo treinamento de todos os envolvidos.
4. Espere o pior – desde a fase de preparação, é importante prever o pior cenário possível e trabalhar com ele como uma possibilidade real. Em especial no que se trata do controle da informação/imagens, hoje a probabilidade da situação rapidamente se tornar crítica é muito maior do que há alguns meses atrás. E ficara ainda maior no futuro próximo.
5. Fortaleça suas conexões – quem já conhece o ambiente das redes sociais, está estabelecido e com um contingente razoável de seguidores/fãs sai em franca vantagem numa situação de crise. Além de já conhecer a linguagem e contas com um canal de comunicação dentro da web 2.0, as pessoas com quem sua marca interage de forma positiva podem se tornar defensores da empresa.
6. Cultive sua credibilidade – este é um dos principais ativos de qualquer marca, seja online ou off-line. E o momento de crise é um dos que mais exigem que a empresa/produto utilize esta munição em seu favor. Uma boa reputação nas redes sociais, cumprindo promessas, seguindo a “ética” e “etiqueta” do universo 2.0 vai abrir espaço para que a empresa seja, no mínimo, ouvida numa situação adversa.
7. Primeira pessoa – o ambiente das redes sociais é marcado pela desconfiança. Nem todos são quem parecem e muitos assumem perfis falsos. Apesar disto – ou provavelmente por isto mesmo – seus usuários valorizam a pessoa física em detrimento da jurídica. Não que marcas e empresas não possam participar ativamente, mas numa situação de crise, é a hora de uma pessoa de carne e osso, um executivo (de preferência bem colocado hierarquicamente) assumir o discurso. O poder da mensagem cresce consideravelmente.
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
Dinho não morreu, mas a imagem da sua marca está por um triz
Sou otimista por natureza. Daqueles que acham que tudo vai dar certo no final. Mesmo. E o último “papel” que me vejo fazendo é o de arauto do apocalipse. Mas será que estamos todos atentos a quanto os avanços tecnológicos mudaram, para pior, o desafiante trabalho do gerenciamento de crise em comunicação? Pelo pequeno número de empresas que hoje monitoram sua imagem nas redes sociais, acho que não.
Sou um dos maiores defensores de ferramentas como o Twitter. É por ele que me atualizo todas as manhãs e mantenho contato com amigos queridos. Mas estava demorando para usarem a rede social para a botaria. Sexta-feira passada alguém soltou uma mensagem de que o Dinho Ouro-Preto, vocalista da banda de rock Capital Inicial havia falecido. Como toda boa mentira, ela se baseava numa verdade: Dinho está internado num hospital de São Paulo. O boato cresceu - cheguei a ver uma mensagem de alguém que oferecia, no Twitter, convites para o funeral - e só não ficou maior porque os veículos de comunicação formais, escaldados, foram checar na fonte (o hospital) e informaram que o músico estava vivo.
Este é apenas um exemplo recente, e com uma celebridade. Mas dos cadeados Kryptonite à Domino’s Pizza, são inúmeros os casos de crises corporativas sérias que nascem e se desenvolvem nas mídias sociais (nestes dois casos especificamente, no You Tube). Pesquisa na Inglaterra divulgada no Brasil pelo Blue Bus mostra que o 50% dos consumidores ingleses infelizes com uma marca divulgam isto pelo Twitter. E ficam ainda mais frustrados por não terem resposta! Ou seja, aquele cenário em que a maioria dos consumidores primeiro buscava o atendimento ao consumidor e, só depois, se não tivesse sua questão respondida, tornava sua queixa pública, buscando os meios de comunicação, mudou radicalmente.
Mas este “SAC 2.0” é apenas a ponta do iceberg. O boato do Dinho é um bom exemplo de como o antigo (e já precário) conceito de controle da informação virou fumaça. Por muito tempo, empresas achavam que podia impedir dados de se tornarem públicos, o que permitiria que elas evitassem crises de imagem. Agora esta ilusão virou fumaça. Para começo de conversa, 90% dos cidadãos hoje é um repórter em potencial. Há algumas semanas ouve um acidente sério no Shopping Vila Olímpia, então em obras. Dois operários se feriram gravemente e o helicóptero da PM foi envolvido no resgate. Pois bem, o Shopping fica bem em frente ao escritório da agência em que trabalho e um de meus colegas (publicitário, não jornalista) não teve dúvidas em registrar, com a câmera de seu celular, o momento em que o helicóptero baixou em pleno bairro. A imagem de @raphaelgonzalez foi publicada no Terra.
Sim, com a proliferação dos aparelhos celulares com câmeras fotográficas é como se tivéssemos fotógrafos em cada canto do país. Li em algum lugar que a primeira imagem do acidente com o avião que pousou no rio Hudson, em Nova York, viralizada na internet, foi de um cidadão comum que passava próximo com seu telefone portátil. Ou seja, hoje não basta tentar limitar o acesso de repórteres à área do acidente. Você deve contar que boa parte dos que lá estão podem registrar o fato. São mais variáveis no gerenciamento de uma crise.
Além de imagens, informações, documentos e relatos hoje circulam rapidamente pelas redes sociais, criando boatos e derrubando reputações – pelo menos de quem não está atento e pronto para agir com rapidez. Mais uma vez (e desculpem a insistência, mas o caso é grave): estamos prontos para uma e-crise?
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Sua comunicação corporativa precisa de um vestido curto? – parte 2
O post desta segunda teve como “gancho” um comentário de minha mulher sobre a cobertura massiva que a imprensa deu a Geisy Arruda, a moça do róseo vestido curto da Uniban. A Adriana se impressionou com a forma e rapidez com que ela foi alçada à categoria de celebridade, enquanto nós, profissionais de comunicação corporativa, temos que trabalhar com afinco para levar as mensagens de nossos clientes à mídia.
Depois de pensar com calma, acho que o trabalho de comunicadores como minha mulher e eu segue justificado mesmo com a tentação do factoide do fenômeno Geisy (o vertido curto do título deste texto). Marcas e corporações precisam de reputação efetiva, positiva e duradoura. E tudo isso só se conquista com um trabalho de longo prazo (pois, como tratamos no post anterior, a verdadeira comunicação demanda constância, consistência e paciência – não exatamente nesta ordem).
Indo um pouco além, a reputação de uma marca, de uma corporação, precisa de conteúdo. A Época Negócios de outubro trouxe matéria de capa sobre como recentes estudos sobre o funcionamento da mente humana nos permitem entender melhor a economia. O material incluía entrevista com o consultor Martin Lindstrom, um dos pioneiros do Neuromarketing, que usa pesquisas científicas para entender como o cérebro do consumidor reage à publicidade e todo o conjunto de comunicação de uma empresa. Uma de suas descobertas mais interessantes é que as áreas da mente afetadas pela experimentação de uma marca ícone (Ferrari, por exemplo) são exatamente as mesmas que se ativam no momento de devoção de pessoas religiosas.
Ou seja, uma marca precisa ser mais que um nome e uma logomarca. Para se destacar no longo prazo e se diferenciar da massa, ela precisa ter uma fé, um conjunto de valores que seja real, que tenha fundamentos efetivos e motive não apenas seus consumidores, mas todos o conjunto de pessoas e instituições envolvidas em seu entorno. Mais do que um produto ou serviço, as marcas hoje devem falar de conceitos consistentes que possam ter eco nas emoções do seu público. Deve interagir com a cultura (no sentido antropológico) e provoca-la. E deve ser diferente, única. E principalmente, verdadeira.
E a construção deste tipo de marca não acontece por acaso. Trata-se de um conteúdo que deve unir razão e emoção. Sua comunicação se torna muito mais efetiva se feita por meio indireto, com a geração do tão famoso buzz, o boca-a-boca onde os formadores de opinião de um segmento (blogueiros, jornalistas, celebridades) endossam e justificam seus fundamentos. Paralelamente, especialistas isentos devem justificar racionalmente o que o coração quer acreditar.
É exatamente este tipo de conteúdo que o profissional de comunicação corporativa deve não apenas divulgar, agindo com o evangelizador-mor por trás das mensagens que circulam pelas diversas mídias, mas criar, buscando informações, pesquisas e gerando a experimentação efetiva destes conceitos por seu público alvo.
Bom, com todo respeito à nossa cara Geisy e a situação vexaminosa da qual, até onde sabemos, foi vítima, isto é muito mais do que colocar um vestido curto na aula da faculdade (até porque, pelo menos no meu caso, nem ia cair bem).
terça-feira, 24 de novembro de 2009
Sua comunicação corporativa precisa de um vestido curto?
Minha doce Adriana não se conteve. Ao assistir na TV a décima entrevista de Geisy Arruda (para quem não associa o nome ao personagem, trata-se da moça que virou notícia internacional após ter sido vaiada e ameaçada de estupro por usar um vestido curto numa aula da Uniban) ela desabafou: “somos os criativos da comunicação corporativa mas foi ela que teve a grande sacada. Eu ganharia um prêmio se conseguisse metade desta exposição para um dos meus clientes.”
O comentário da minha mulher me lembrou a família do balão nos Estados Unidos, que criou um fato falso para virar notícia (veja post do CoffeeBreak sobre o caso aqui). Conseguiram, se tornaram manchete em todo o mundo, especialmente depois que foram desmascarados e tiveram de confessar ter inventado a história com o objetivo de conquistar um espaço num reality show. Claro que o caso de Geisy é diferente. Até onde se sabe ela não fez nada de caso pensado e foi vítima de um grupo de estudantes, digamos, bastante exaltados (e depois das decisões equivocadas dos diretores da universidade).
Mas o ponto não é este. Será que este tipo de estratégia faz sentido? Buscar a notoriedade a qualquer custo, criar um fato isolado que repercuta na mídia (mesmo que seja na grande mídia e num número grande de veículos) cria imagem para uma marca ou produto? E aqui não falamos de quebra de paradigmas ou de “evangelizar”, trabalhar novos conceitos, para mim o grande diferencial da comunicação corporativa, mas sim da divulgação pura e simples, de tornar um nome conhecido.
Pessoalmente acredito que não. E justifico. Minha experiência profissional mostra que comunicar é algo de médio prazo. De ex-BBBs a pequenos heróis do cotidiano, é praticamente infinita a lista que se poderia produzir de celebridades efêmeras, que vivem intensamente seus 15 segundos de fama e somem tão rapidamente quanto surgem. Com as marcas ocorre o mesmo (ou pior, pois normalmente, por melhor que seja o trabalho de divulgação, empresas e produtos conseguem uma visibilidade muito menor, no curto prazo, do que os personagens de carne e osso).
Este é um erro básico de muitos clientes e mesmo alguns profissionais de comunicação corporativa. O ser humano precisa de tempo e constância para absorver informações e então transforma-las em conhecimento (a diferença entre informar e comunicar). Ouvi de um profissional da área uma história que ilustra bem isto: estavam fazendo um media training com um colunista de um grande jornal, um profissional famoso. Em determinado momento, o cliente falava de um projeto de sua empresa e o jornalista em questão reclamou que a empresa precisava melhorar sua comunicação, pois era uma iniciativa interessante e que ele, como jornalista, não havia tomado conhecimento. Até que os profissionais da agência que estava organizando o treinamento trouxeram um recorte de jornal com uma coluna daquele jornalista onde o tal projeto era citado com destaque.
A culpa não é do jornalista. Nem da assessoria de imprensa. Vivemos soterrados em uma quantidade de informações simplesmente impossível de digerir. Então temos que escolher poucas mensagens e leva-las em frente muitas e muitas vezes, buscando novas abordagens, caminhos e momentos. É necessário ter consistência, paciência e constância.
Mas não é só na forma, no como falar, que a comunicação deve ser cuidada. Para tornar um nome relevante, e não uma onda passageira, também faz toda a diferença o conteúdo, o que falar. Mas isto fica para o próximo post.
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
As redes sociais podem aumentar a sua produtividade?
Todos os grandes veículos da mídia tradicional deram com destaque. Uma pesquisa internacional calculou o tempo médio que os profissionais ficam nas redes sociais quando estão no escritório e decretou: ferramentas como o Twitter estão gerando prejuízos milionários às empresas. Será mesmo?
Corte. Mudança de cena. Vicente Falconi é um ícone da “velha guarda”. O “pai” dos consultores, Falconi aprendeu com os japoneses todos os segredos do método cartesiano de gestão. Como colocar tudo no papel, buscar o máximo de eficiência com o mínimo de custo. Trouxe o método ao Brasil e ganhou merecida fama e alguma fortuna. Estou lendo seu novo livro, “O Verdadeiro Poder” (editado por sua empresa, o INDG) e nele descobri que Falconi hoje questiona o valor da experiência. Não que ela não seja necessária, ao contrario, mas, num momento de grandes revoluções tecnológicas, a busca do contínuo conhecimento, sua permanente renovação, tem tanto ou mais peso no sucesso das empresas. Humm, busca permanente do conhecimento que está sempre se renovando. Ok.
Agora outro pensador, da “nova guarda”. Em seu artigo para a Wired de novembro, Clive Thompson questiona toda a cultura corporativa de valorização do foco no ambiente de trabalho (CoffeeBreak também já discutiu isto nos testos “Humano 2.0” e “Quer inovar, crescer e liderar? Perca o foco!”). O ponto de Thompson são recentes pesquisas sobre o funcionamento do cérebro que estariam mostrando a importância de divagar para a solução de problemas pessoais e profissionais. Um estudo de 2007 mostrou que, em média, passamos um terço do tempo “sonhando acordados”. É muito tempo. Tanto que alguns cientistas começaram a acreditar que esta atitude tão condenada poderia ter alguma função prática ainda desconhecida.
Exames de imagens identificaram que, enquanto alguém divaga, ativa regiões cerebrais associadas às memórias de longo termo e, mais interessante, à resolução de problemas. Baseado nestes resultados, alguns estudiosos como o norte-americano Jonathan Schooler começam a crer que, enquanto foge das tarefas cotidianas, a mente na verdade busca se concentrar em atividades criativas e em saídas para questões mais profundas. Muitas “sacadas” podem surgir exatamente nestes momentos (agora pense, você mesmo já não achou a solução que buscava, como que vinda do nada, numa situação destas de total distração, quando nem pensava na questão?).
Meu ponto é: se, como diz Falconi, vivemos numa época em que a busca constante pelo conhecimento é chave para o sucesso e, como suspeitam os cientistas citados por Thompson, a falta de foco eventual pode ser crucial para alcançarmos soluções criativas, então o uso da internet nos escritórios, e das redes sociais em especial, deveria ser incentivado como ferramenta de produtividade, não o contrário. É óbvio que isto não se aplica a funções basicamente operacionais. Mas se o seu trabalho envolve pensamento, inteligência, busca de soluções – e não apenas o preenchimento de planilhas, então não se sinta culpado ao abrir o Twitter ou Facebook e aprender o que está acontecendo além das quatro paredes do seu cubículo.
Corte. Mudança de cena. Vicente Falconi é um ícone da “velha guarda”. O “pai” dos consultores, Falconi aprendeu com os japoneses todos os segredos do método cartesiano de gestão. Como colocar tudo no papel, buscar o máximo de eficiência com o mínimo de custo. Trouxe o método ao Brasil e ganhou merecida fama e alguma fortuna. Estou lendo seu novo livro, “O Verdadeiro Poder” (editado por sua empresa, o INDG) e nele descobri que Falconi hoje questiona o valor da experiência. Não que ela não seja necessária, ao contrario, mas, num momento de grandes revoluções tecnológicas, a busca do contínuo conhecimento, sua permanente renovação, tem tanto ou mais peso no sucesso das empresas. Humm, busca permanente do conhecimento que está sempre se renovando. Ok.
Agora outro pensador, da “nova guarda”. Em seu artigo para a Wired de novembro, Clive Thompson questiona toda a cultura corporativa de valorização do foco no ambiente de trabalho (CoffeeBreak também já discutiu isto nos testos “Humano 2.0” e “Quer inovar, crescer e liderar? Perca o foco!”). O ponto de Thompson são recentes pesquisas sobre o funcionamento do cérebro que estariam mostrando a importância de divagar para a solução de problemas pessoais e profissionais. Um estudo de 2007 mostrou que, em média, passamos um terço do tempo “sonhando acordados”. É muito tempo. Tanto que alguns cientistas começaram a acreditar que esta atitude tão condenada poderia ter alguma função prática ainda desconhecida.
Exames de imagens identificaram que, enquanto alguém divaga, ativa regiões cerebrais associadas às memórias de longo termo e, mais interessante, à resolução de problemas. Baseado nestes resultados, alguns estudiosos como o norte-americano Jonathan Schooler começam a crer que, enquanto foge das tarefas cotidianas, a mente na verdade busca se concentrar em atividades criativas e em saídas para questões mais profundas. Muitas “sacadas” podem surgir exatamente nestes momentos (agora pense, você mesmo já não achou a solução que buscava, como que vinda do nada, numa situação destas de total distração, quando nem pensava na questão?).
Meu ponto é: se, como diz Falconi, vivemos numa época em que a busca constante pelo conhecimento é chave para o sucesso e, como suspeitam os cientistas citados por Thompson, a falta de foco eventual pode ser crucial para alcançarmos soluções criativas, então o uso da internet nos escritórios, e das redes sociais em especial, deveria ser incentivado como ferramenta de produtividade, não o contrário. É óbvio que isto não se aplica a funções basicamente operacionais. Mas se o seu trabalho envolve pensamento, inteligência, busca de soluções – e não apenas o preenchimento de planilhas, então não se sinta culpado ao abrir o Twitter ou Facebook e aprender o que está acontecendo além das quatro paredes do seu cubículo.
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
Sobre a dificuldade de ser simples
Este post existe para justificar a foto acima. Dei de cara com ela numa reportagem sobre design no jornal espanhol El País e achei genial. É criativo, simples, barato e consegue recriar o pote de Nutella. Por qual motivo é tão difícil pensar o novo sem complicar tudo? Inovar com simplicidade.
O texto do El País, assinado por Anatxu Zabalbescoa, aponta este projeto, que atende pelo nome de corolla (coroa em italiano), como exemplo uma nova tendência do que o jornal chama de “grau zero do desenho”. Soluções oriundas do despojamento.
Outro belo exemplo citado na reportagem é o da loja japonesa Muji, que aposta numa linha de produtos clean/zen sempre bastante funcionais para atrair os consumidores que questionam o consumismo – no texto de introdução em seu site, eles afirmam que não oferecem os melhores produtos, mas sim os que bastam, os necessários, ponto. A Muji faz um concurso mundial de design para novos produtos e um dos vencedores criou um pacote de hashis feitos à moda original, com o talo do trigo. Ou seja, de volta ao futuro.
Esta busca do básico no design não é nova. Trata-se de um ciclo, a velha disputa entre funcionalidade (menos é mais) e emoção (mais é mais). A novidade é que agora parece que o gatilho desta mudança é outro, menos estético e mais prático. A preocupação com nossos excessos e seus efeitos (poluição, destruição, obesidade, desigualdade) está gerando a necessidade de uma nova atitude, menos descartável. Será que um dia cairá a ficha que ser é mais que ter?
O que reforça a percepção de ser uma tendência comportamental e não apenas estética é o fato de diversas grandes empresas estarem demandando este tipo de proposta (e não apenas um ou outro grupo de designers ou marcas de nicho). A própria Apple foi uma das primeiras a trabalhar a simplicidade como base de suas inovações (poucos botões, acionamento intuitivo, quase orgânico). E este tipo de decisão só é tomada nas corporações quando há pesquisas apontando esta demanda por parte do público.
O que fica é o delicioso desafio de buscar o despojamento, a simplicidade. Que é muito mais difícil do que parece. Especialmente enquanto não passarmos a realmente mudarmos nossa relação com o que nos cerca.
terça-feira, 10 de novembro de 2009
Experiências CoffeeBreak: andando por São Paulo
Experimente andar pelas ruas de uma grande cidade como São Paulo. Deixe o carro na garagem, se despeça do trânsito e caminhe. Ê uma experiência singular. Mas cheia de percalços. E o desrespeito de motoristas é apenas um deles.
Não, São Paulo não é Londres. Ninguém vai parar o carro quando você colocar o pé na faixa de pedestres. Ok. Mas o detalhe é que você não vai conseguir atravessar na faixa em momento algum (exceto se houver um semáforo). Carros saindo das garagens também são um risco – como ousa um simples pedestre na calçada atrasar a passagem de um veículo motorizado?
Mas o pior susto que levei em minhas andanças foi com um motociclista que decidiu subir na calçada para chegar mais rápido a uma loja e passou a alguns centímetros deste escriba.
E os veículos não são as únicas barreiras a quem quer se locomover com as próprias pernas na capital paulista. As calçadas, em geral, são pensadas para quase tudo, menos para ser o espaço de pedestres. Buracos, postes, bancas de jornais (que eu adoro), lixeiras e agora, com a ótima lei anti-tabaco, enormes cinzeiros de concreto disputam espaço com o transeunte.
E as obras? Durante meses a construção de um novo prédio de escritórios na avenida Juscelino Kubistchek próximo à esquina com a Faria Lima, no sentido marginal – centro, praticamente obrigava pedestres a dividirem espaço com os carros e ônibus da via. Poucos metros à frente, outro obstáculo: a estrutura de metal e vidro de um ponto de ônibus ocupa todo o pouco espaço da estreita calçada.
Adoro bares, restaurantes. Melhor ainda se tiverem mesas na calçada. Um charme. Mas quando eles ocupam toda a calçada, algo está errado. Lembro que, até algum tempo, um ambulante, vendedor de sanduíches, montou uma verdadeira lanchonete na Vila Olímpia. Um toldo protegia da chuva os consumidores sentados em bancos e com seus refrigerantes apoiados em mesas metálicas. O detalhe é que toda esta estrutura estava na calçada. O toldo saia de uma van, estacionada, e era preso por ganchos numa parede, onde se apoiavam também as mesinhas. Lembro de me sentir incomodando os consumidores ao tentar passar pelo meio da “lanchonete”.
Em resumo: nossa cidade precisa aprender a respeitar seus pedestres. E isso só vai acontecer quando os tais “formadores de opinião” ocuparem suas ruas, quando andar estiver na moda, quando o carro for só um carro, e não uma prova ambulante de status social.
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
A arte de não postar
Humildade é um dom que precisa ser cultivado. Pensei em escrever sobre o que aconteceu na Uniban. Até que, pelo Twitter, recebi o link para este vídeo (que estava no blog do Noblat). Uma paródia vale por mil idéias tortas.
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
O poder das redes sociais para influenciar as pessoas 2
Na terça postei sobre a pesquisa publicada na Wired de outubro que busca comprovar o poder das redes sociais (online e offline) para influenciar os indivíduos. Hábitos, conceitos e práticas cotidianas se espalham como um vírus pelas conexões pessoais. Uma verdadeira epidemia.
O estudo, para mim, explica muito sobre o poder das tais novas mídias. Afinal, elas trazem estas redes para a internet e, se não aumentam seu tamanho (a quantidade de pessoas que realmente te influencia é similar às redes offline, ou seja, entre quatro e sete) multiplicam a velocidade com que as informações se espalham por estas comunidades. E, outro ponto interessante, elas tornam públicas grande parte destas conversas antes reservadas a quatro paredes ou linhas telefônicas.
Pensando em comunicação corporativa, as possibilidades que estas mídias sociais abrem são revolucionárias. Empresas como Amazon e Starbucks, que fazem uso massivo delas, estão ampliando seu conhecimento sobre o que seus consumidores querem, como reagem a seus produtos/serviços e quais suas críticas. Pesquisa que postei em agosto mostra que estas empresas conseguem resultados maiores que as concorrentes que não atuam nas novas mídias. Aqui mesmo no Brasil, a Nokia incentiva diversos fãs da marca (pessoas físicas comuns) a serem seus “embaixadores” nas redes sociais online.
Mas grande parte das empresas ainda se assusta com este ambiente. Ou relega seu uso à publicidade, como ferramenta para trazer consumidores para campanhas digitais. Perdem a oportunidade do trabalho corporativo, de longo prazo, e do branding. Qual o motivo?
Minha opinião é uma só: medo. Optam por utilizar vias de comunicação de mão única para tentar influenciar pessoas, que por sua vez reproduzem isso em suas redes de relacionamento. Na internet é possível fazer o mesmo, mas a diferença é que agora quem fala passa a ouvir também. E isto assusta (com se as críticas não existissem antes, nas redes pessoais offline só porque não as ouvíamos).
Claro, a internet faz com que estas críticas circulem com uma rapidez nunca vista. E cresçam, como uma bola de neve, a partir do momento que cada indivíduo pode comentar e agregar dados novos a um comentário inicial. E se tornem públicos. Acontece que o fato de uma empresa não estar presente ou atuante nas redes sociais não faz com que ela esteja imune às críticas. Elas apenas não serão acompanhadas pelos executivos e talvez nunca cheguem ao CEO (o que os olhos não vem, o coração não sente?). Ao menos até que a e-crise chegue a um ponto de difícil reversão – e isto já aconteceu com algumas empresas mundo afora.
Outro argumento é que a velocidade e exposição pública das redes sociais digitais amplificam qualquer erro cometido por uma empresa na comunicação online. E é verdade. Centenas de artigos já afirmaram que as novas mídias não são para amadores. É preciso planejamento, preparação, jogo de cintura e contínuo aprendizado. E, claro, quem se estruturou e já está interagindo, entendendo as reações e criando suas conexões, sai na frente. Na hora de uma e-crise, estará muito melhor preparado para enfrentar-la do que quem desconhece o ambiente, suas “regras de etiqueta”, códigos e sutilezas.
Num dos melhores textos que já li sobre as redes sociais digitais, Greg Satell, do Digital Tonto, defende que elas reagem e se “organizam” de forma caótica. E talvez seja este caos que tanto fascine e assuste executivos sedentos de controle. A má notícia é que esta nova forma de interação entre as pessoas, com tamanho poder de influência, é uma realidade que veio para ficar. A boa é que mesmo o caos segue algumas “regras” matemáticas (o conceito da “calda longa”, a proporção de 80/20, a interdependência de todas as sub-redes, etc.). E a escolha é simples. Você pode aprender a lidar com esta nova realidade e tirar proveito de suas oportunidades (dos riscos não há como fugir) ou continuar fingindo que ela não existe.
terça-feira, 27 de outubro de 2009
O poder das redes sociais para influenciar as pessoas
Alguns estudos recentes ajudam a entender melhor o fenômeno das mídias sociais e seu funcionamento. Muitos ainda se surpreendem com a rapidez, alcance e poder que as ferramentas de relacionamento on-line tem. Mas a questão, aparentemente, é mais antiga. E offline.
Pesquisa científica descrita em reportagem de Jonah Lehrer na Wired de outubro comprova a surpreendentemente forte influência das redes de relacionamento. Resumo rápido. Em 1948, pesquisadores de Framingham (Massachusetts, EUA) começou a registrar com riqueza de detalhes os hábitos de mais de cinco mil pessoas, buscando rastrear fatores de risco para doenças cardíacas. O detalhe é que eles apontaram também dados sobre familiares e amigos próximos das pessoas acompanhadas.
Com este fantástico material na mão, os pesquisadores Nicholas Christakis e James Fowler analisaram a interferência das ligações pessoais em questões como obesidade e o hábito de fumar. Os dados de Framingham permitiram entender a evolução destas questões no tempo, desde os anos 50 até hoje, e como as redes pessoais interferem no processo. O resultado é surpreendente.
As pessoas que tem amigos obesos, por exemplo, tem 171% (isso mesmo, 171%) a mais de risco de também ganharem sobrepeso em comparação com quem não se relaciona com os mais “gordinhos”. Com o fumo, a pesquisa mostrou que pessoas param juntas de fumar. Se os amigos próximos não param, as chances da pessoa conseguir largar o tabaco são mínimas.
Ou seja, práticas, ideias e conceitos são contagiosos dentro das redes sociais. As conexões entre pessoas tem uma influência sobre o indivíduo maior do que imaginamos. Sem nos darmos conta, muitos de nossos comportamentos simplesmente refletem nosso grupo. Até a felicidade se espalha por meio de associações de pessoas. A pesquisa aponta que cada amigo feliz aumenta em 9% as chances de uma pessoa também ficar sorrindo, enquanto um aumento de salário de U$ 400 por mês (nos EUA) tem apenas 2% de poder sobre seu humor.
O que a internet está fazendo é simplesmente tornar estas redes mais rápidas, abertas e poderosas. Mas não maiores. Na média, cada usuário tem cerca de 110 amigos no Facebook. Ao estudar a ferramenta online e compara-la com as redes offline, Christakis e Fowler perceberam que elas atuam de forma muito similar. A aposta deles é que, como no mundo real, as pessoas que usam mídias sociais na internet possuem dezenas de conhecidos e alguns poucos amigos íntimos, que são quem realmente influem em nossos hábitos e opiniões. Na média, cada usuário do Facebook (pela análise feita pelos pesquisadores) possuí 6,6 amigos próximos, o mesmo número internacionalmente aceito para os camaradas de carne e osso, entre 4 e sete.
Outro ponto importante é que, seja dentro ou fora da internet, o poder de influência se reflete sim em outros níveis de relacionamento (os amigos dos amigos) mas só até o terceiro nível, depois perde força – e aqui estamos falando de influência, não de informação, que consegue se espalhar de maneira viral, muito forte e rápido, no mundo online.
Se o boca a boca é tão forte (a pesquisa mostra que a opinião de amigos pode ser mais relevante que a do marido ou esposa), porque tantas empresas ainda relutam em usar as mídias sociais na internet? Ferramentas como Facebook e Twitter não podem ser portas de entrada para redes que existem desde sempre? Falamos sobre algumas destas barreiras no próximo post.
Pesquisa científica descrita em reportagem de Jonah Lehrer na Wired de outubro comprova a surpreendentemente forte influência das redes de relacionamento. Resumo rápido. Em 1948, pesquisadores de Framingham (Massachusetts, EUA) começou a registrar com riqueza de detalhes os hábitos de mais de cinco mil pessoas, buscando rastrear fatores de risco para doenças cardíacas. O detalhe é que eles apontaram também dados sobre familiares e amigos próximos das pessoas acompanhadas.
Com este fantástico material na mão, os pesquisadores Nicholas Christakis e James Fowler analisaram a interferência das ligações pessoais em questões como obesidade e o hábito de fumar. Os dados de Framingham permitiram entender a evolução destas questões no tempo, desde os anos 50 até hoje, e como as redes pessoais interferem no processo. O resultado é surpreendente.
As pessoas que tem amigos obesos, por exemplo, tem 171% (isso mesmo, 171%) a mais de risco de também ganharem sobrepeso em comparação com quem não se relaciona com os mais “gordinhos”. Com o fumo, a pesquisa mostrou que pessoas param juntas de fumar. Se os amigos próximos não param, as chances da pessoa conseguir largar o tabaco são mínimas.
Ou seja, práticas, ideias e conceitos são contagiosos dentro das redes sociais. As conexões entre pessoas tem uma influência sobre o indivíduo maior do que imaginamos. Sem nos darmos conta, muitos de nossos comportamentos simplesmente refletem nosso grupo. Até a felicidade se espalha por meio de associações de pessoas. A pesquisa aponta que cada amigo feliz aumenta em 9% as chances de uma pessoa também ficar sorrindo, enquanto um aumento de salário de U$ 400 por mês (nos EUA) tem apenas 2% de poder sobre seu humor.
O que a internet está fazendo é simplesmente tornar estas redes mais rápidas, abertas e poderosas. Mas não maiores. Na média, cada usuário tem cerca de 110 amigos no Facebook. Ao estudar a ferramenta online e compara-la com as redes offline, Christakis e Fowler perceberam que elas atuam de forma muito similar. A aposta deles é que, como no mundo real, as pessoas que usam mídias sociais na internet possuem dezenas de conhecidos e alguns poucos amigos íntimos, que são quem realmente influem em nossos hábitos e opiniões. Na média, cada usuário do Facebook (pela análise feita pelos pesquisadores) possuí 6,6 amigos próximos, o mesmo número internacionalmente aceito para os camaradas de carne e osso, entre 4 e sete.
Outro ponto importante é que, seja dentro ou fora da internet, o poder de influência se reflete sim em outros níveis de relacionamento (os amigos dos amigos) mas só até o terceiro nível, depois perde força – e aqui estamos falando de influência, não de informação, que consegue se espalhar de maneira viral, muito forte e rápido, no mundo online.
Se o boca a boca é tão forte (a pesquisa mostra que a opinião de amigos pode ser mais relevante que a do marido ou esposa), porque tantas empresas ainda relutam em usar as mídias sociais na internet? Ferramentas como Facebook e Twitter não podem ser portas de entrada para redes que existem desde sempre? Falamos sobre algumas destas barreiras no próximo post.
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Balão de perna curta: o ciclo de vida da mentira nas mídias sociais
Terça fiz, meio de brincadeira, meio a sério, um comentário na introdução no post escrito sexta passada onde, entre outros assuntos, a história do ballonboy. Para quem estava em marte entre o final da semana passada e o hoje, é o “causo” da família do Colorado, nos EUA, que mobilizou polícia, exército, mídia e redes sociais por conta de um balão caseiro que escapou e que poderia estar transportando um menino de seis anos.
O assunto virou hit instantâneo no Twitter, que os norte-americanos usaram para tentar mobilizar pessoas na busca ao objeto voador. Mais ainda depois que o artefato foi recuperado sem o garoto dentro. Notícia em todo o planeta, aumentou ainda mais quando, pelo serviço de microblog, se revelou que a criança estava escondida no porão de sua própria casa.
Surpreendente mesmo (ou não) foi o desfecho da história. Depois de algumas entrevistas na TV dos EUA, repercutindo o fato, se descobriu que tudo não passou de uma armação. O “desaparecido” foi orientado pelos pais a ficar oculto. E foi ele mesmo quem fez a revelação, durante reportagem para a CNN, quando, ao ser perguntado pelo pai pelo motivo de não ter respondido aos chamados da família, ele disse “vocês me disseram para fazer isto por causa do show”.
Segundo a polícia do Colorado, depois de ter participado de dois reality shows, família teria inventado a história para ganhar notoriedade e participar de mais um. Voltando ao comentário, comparei a farsa a uma ação de comunicação “fora da caixa”. Um exagero? O resultado foi invejável para os maiores criativos da área. A imprensa mundial abriu espaço para falar do “drama” - como jornalista, acho que foi a repercussão do tema na mídias sociais, em especial no Twitter, quem pautou as mídias convencionais, pois a história em si não era para ser (como foi) a manchete do JN.
Se você colocar na balança a relação custo/benefício, o tal do ROI (retorno sobre investimento na sigla em inglês) é de fazer qualquer gestor de comunicação corporativa se morder de inveja (isso se você, claro, não considerar a punição com que as autoridades dos EUA estão ameaçando a família: multa de meio milhão de dólares e até seis anos de cadeia).
Mas, para mim, a grande lição deste caso é o que deu errado. A farsa, a desconexão com a realidade, destruíram completamente a ação. A família ficou conhecida sim, mas como grandes mentirosos, capazes de instruir o próprio filho a mentir publicamente pela busca da fama. Bela fama.
Nestes tempos de realidade digital, onde muitos criam imagens públicas imaginarias, há a tentação de inventar simulacros para atingir os objetivos da comunicação corporativa. Que me delete da sua lista de following no Twitter o comunicador que nunca ouviu do cliente uma sugestão destas. Sem falso moralismo, minha avó já dizia que mentira tem perna curta. E quem acha que pode se proteger da verdade por meio de um avatar está no passado digital. As novas mídias chegaram para acelerar e difundir a informação. É matemático: o tempo de vida de uma mentira é inversamente proporcional à sua exposição em massa.
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
O garoto do balão e a lei seca no Rio – mais dois cases do uso do Twitter
Obs.: Este post foi escrito na sexta, dia 16, antes do mundo saber que o "caso" do balão era uma fraude. Ou poderíamos chamar de ação de comunicação fora da caixa?
Foi a manchete do JN e de boa parte da mídia mundial ontem. Nos EUA, polícia e até o exército se mobilizaram para recuperar um balão caseiro onde estaria um garoto de seis anos. Quando o artefato chegou ao solo, a surpresa: estava vazio. A comunidade se mobilizou para localizar o pequeno até que o mistério foi resolvido: ele estava no porão de sua casa, com medo da bronca que levaria do pai por haver soltado a corda que segurava o balão.
Mas a história aconteceu mesmo nas mídias sociais, mais exatamente no Twitter. Ontem os termos Savetheballonboy, Ballonboy e Colorado (estado onde tudo aconteceu) estavam entre os mais digitados do Twitter. Os norte-americanos usaram a ferramenta para se informar sobre o caso e, mais do que isto, mobilizar pessoas da região para tentar localizar o balão e, depois, o garoto supostamente perdido. Eu e os meus colegas na redação da XPress soubemos do caso e o acompanhamos pelo Twitter.
Mas, enquanto os norte-americanos utilizam o serviço para buscar crianças “voadoras”, os cariocas encontraram outra função digamos, hã, social, para o Twitter. É o Lei Seca RJ, perfil que permite a seus mais de 12 mil seguidores saberem quais pontos da cidade evitar quando estiverem dirigindo após um happy hour. São os próprios usuários quem mandam informações sobre locais onde estão ocorrendo blitze e opções com menor fiscalização. Perfis parecidos já existem para outras cidades (inclusive São Paulo) mas ainda com poucos seguidores. Questões éticas à parte (se eu fosse da fiscalização de trânsito carioca, usaria o Twitter para saber onde os motoristas alcolizados acham que está liberado e faria uma blitz surpresa).
Em um artigo no Wired deste mês, Clive Thompson defende que o Google está ficando velho em relação a ferramentas como o Twitter. Explico. O líder mundial em buscas está programado para encontrar e classificar os endereços na internet que se referem ao histórico de determinados termos. Avalia quantos links estão apontados para o site, o crescimento de sua visitação e em que contexto a palavra buscada está dentro de seu conteúdo. Perfeito. Mas não para saber o que está acontecendo agora. O Google não acompanha (ainda) o que se fala em tempo real nas redes sociais, nos blogs, e nisto começa a perder espaço para serviços como o Twittermeme, OneRiot ou o Topsy.
Aos poucos o Twitter se posiciona como uma “janela” para o que acontece agora. Os casos do garoto do balão e do Lei Seca RJ mostram isto na prática. E esta é uma das características que devem ser consideradas pelos profissionais de comunicação na hora de utilizarem o Twitter, seja para se abastecer de dados em tempo real, seja para criar serviços que possam agregar inovação a clientes e público final.
terça-feira, 13 de outubro de 2009
Comentários públicos e silêncios privados
Se alguém ainda tinha dúvida, a privacidade importa sim para quem usa a internet. Pesquisa realizada pela UC Berkeley and Annenberg School of Communications que li no MinOnline.com
relata que até 86% dos norte-americanos rejeitam anúncios quando são informados que foram utilizadas ferramentas de tecnologia para saber quais seus interesses e assim endereçar a proposta a elas diretamente. O suposto benefício que os desenvolvedores desta nova publicidade on-line advogam, de entregar ao consumidor exatamente o que ele precisa, não foi suficiente para justificar que qualquer sistema eletrônico rastreie dados de navegação para este fim, invadindo a esfera privada do cidadão.
Mas esta confusão entre o público e o privado ainda vai dar muito o que falar nestes novos tempos digitais. Pelo menos entre boa parte dos profissionais de imprensa, a fronteira entre estes dois ambientes ficou, digamos, fluida. Anaik (de novo ela) me passou um post do jornalista norte-americano James Poniewozik no blog da Times discutindo a determinação do The Washington Post de criar uma política restringindo o que seus jornalistas podem ou não comunicar nas redes sociais, em especial o Twitter. Resumindo, os profissionais do TWP não podem escrever sobre nenhum tema polêmico ou que reflita posicionamento político ou social. O ponto dos chefes do jornal é que qualquer comentário que revele uma opinião sobre, digamos, religião ou sexo, pode levar os leitores a questionar a isensão jornalística do profissional na cobertura do tema.
Poniewozik preconiza o contrário. Acha que o conhecimento do ponto de vista pessoal do jornalista sobre determinado tema ajuda o leitor a ter uma visão mais clara do fato e honesta sobre o que está lendo. Para a cultura jornalística dos EUA, isso faz diferença. Tanto que, naquele país, durante as eleições, os veículos de comunicação tradiconalmente assumem editorialmente o apoio a um ou outro candidato, exatamente para permitir que o leitor tenha este parâmetro na cobertura da campanha.
Mas o principal ponto de Poniewozik é que, claro, o jornalista que não tem opinião não é isento. É idiota. E que é uma tolice dos veículos querer iludir seus leitores do contrário, uma vez que o bom profissional vai sempre buscar a isenção, independente de suas crenças pessoais. Para piorar, o TWP é tido nos EUA como um veículo liberal, ou seja, democrata, e a política foi vista como uma oportunidade para os republicanos, ainda doloridos com o cenário político pos-Bush, "cairem de pau".
Aqui no Brasil a moda também pegou. A Folha de São Paulo, por exemplo, também criou regras parecidas. Além de "exortar" a seus profissionais que se isentem de comentar sobre política, políticos e partidos, proibiu a redação de usar o Twitter e demais ferramentas para divulgar fatos ou notícias antes de sua publicação (o que, pessoalmente, até considero adequado, ou os jornais começarão a ser furados pelos próprios jornalistas).
Na publicidade, temos o caso do profissional que trabalhou para uma das agências contratadas para fazer a campanha pela candidatura de Chicago às Olimpíadas de 2016 e que depois criou um blog irônico onde dizia que os moradores da cidade norte-americana estavam engajados na candidatura... do Rio de Janeiro.
Nestes tempos em que todos podem se tornar pessoas públicas, até onde podemos manter a liberdade de expressar nossa opinião? Os profissionais de comunicação vendem seu direito de opinar quando passam a trabalhar para um veículo ou agência? Conheço a história de um profissional de comunicação corporativa que comprou um carro zero com problemas na documentação (número incorreto do chassis) que tornava o veículo ilegal, mas não podia reclamar pois a montadora era cliente de sua agência. Teremos que criar pseudonimos para expressar publicamente o que pensamos de verdade? Ou simplesmente nos calamos?
relata que até 86% dos norte-americanos rejeitam anúncios quando são informados que foram utilizadas ferramentas de tecnologia para saber quais seus interesses e assim endereçar a proposta a elas diretamente. O suposto benefício que os desenvolvedores desta nova publicidade on-line advogam, de entregar ao consumidor exatamente o que ele precisa, não foi suficiente para justificar que qualquer sistema eletrônico rastreie dados de navegação para este fim, invadindo a esfera privada do cidadão.
Mas esta confusão entre o público e o privado ainda vai dar muito o que falar nestes novos tempos digitais. Pelo menos entre boa parte dos profissionais de imprensa, a fronteira entre estes dois ambientes ficou, digamos, fluida. Anaik (de novo ela) me passou um post do jornalista norte-americano James Poniewozik no blog da Times discutindo a determinação do The Washington Post de criar uma política restringindo o que seus jornalistas podem ou não comunicar nas redes sociais, em especial o Twitter. Resumindo, os profissionais do TWP não podem escrever sobre nenhum tema polêmico ou que reflita posicionamento político ou social. O ponto dos chefes do jornal é que qualquer comentário que revele uma opinião sobre, digamos, religião ou sexo, pode levar os leitores a questionar a isensão jornalística do profissional na cobertura do tema.
Poniewozik preconiza o contrário. Acha que o conhecimento do ponto de vista pessoal do jornalista sobre determinado tema ajuda o leitor a ter uma visão mais clara do fato e honesta sobre o que está lendo. Para a cultura jornalística dos EUA, isso faz diferença. Tanto que, naquele país, durante as eleições, os veículos de comunicação tradiconalmente assumem editorialmente o apoio a um ou outro candidato, exatamente para permitir que o leitor tenha este parâmetro na cobertura da campanha.
Mas o principal ponto de Poniewozik é que, claro, o jornalista que não tem opinião não é isento. É idiota. E que é uma tolice dos veículos querer iludir seus leitores do contrário, uma vez que o bom profissional vai sempre buscar a isenção, independente de suas crenças pessoais. Para piorar, o TWP é tido nos EUA como um veículo liberal, ou seja, democrata, e a política foi vista como uma oportunidade para os republicanos, ainda doloridos com o cenário político pos-Bush, "cairem de pau".
Aqui no Brasil a moda também pegou. A Folha de São Paulo, por exemplo, também criou regras parecidas. Além de "exortar" a seus profissionais que se isentem de comentar sobre política, políticos e partidos, proibiu a redação de usar o Twitter e demais ferramentas para divulgar fatos ou notícias antes de sua publicação (o que, pessoalmente, até considero adequado, ou os jornais começarão a ser furados pelos próprios jornalistas).
Na publicidade, temos o caso do profissional que trabalhou para uma das agências contratadas para fazer a campanha pela candidatura de Chicago às Olimpíadas de 2016 e que depois criou um blog irônico onde dizia que os moradores da cidade norte-americana estavam engajados na candidatura... do Rio de Janeiro.
Nestes tempos em que todos podem se tornar pessoas públicas, até onde podemos manter a liberdade de expressar nossa opinião? Os profissionais de comunicação vendem seu direito de opinar quando passam a trabalhar para um veículo ou agência? Conheço a história de um profissional de comunicação corporativa que comprou um carro zero com problemas na documentação (número incorreto do chassis) que tornava o veículo ilegal, mas não podia reclamar pois a montadora era cliente de sua agência. Teremos que criar pseudonimos para expressar publicamente o que pensamos de verdade? Ou simplesmente nos calamos?
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Os invertebrados desconhecidos e as verdades absolutas
Apesar de considerar o jornal espanhol El País um dos melhores do mundo, foi no seu concorrente, o El Mundo, que li sobre o “tesouro dos invertebrados debaixo da terra”. Era a manhã de meu primeiro dia em Málaga depois de encerrado o trabalho e eu tinha que esperar até a saída do ônibus que me levaria a Algeciras, cidade onde vivi com meu pai no final dos 80. O periódico estava dando sopa no hotel em que me hospedei e foi meu companheiro na viagem.
Pois, voltando aos invertebrados, o texto do El Mundo me fez saber que um grupo de cientistas acaba de fazer saber ao mundo a descoberta, na Austrália, de nada menos que 850 nova espécies de invertebrados cuja existência era simplesmente desconhecida para a humanidade. 850! De insetos a crustáceos e aranhas, os pequenos animais estavam todos em covas e águas subterrâneas do interior australiano.
O texto, assinado pela colega espanhola Maria José Puertas, transcreve ainda falas do professor Andy Austin, da universidade de Adelaide. Segundo ele, o número de novas espécies deve aumentar, pois estas 850 seriam apenas a quinta parte dos seres vivos ainda desconhecidos apenas na Austrália. Segundo Austin, para encontrar novas espécies não é necessário buscar em águas profundas, basta olhar com atenção para seu próprio quintal.
Não é incrível o quanto ainda há a descobrir apenas nos “quintais” deste pequeno planeta? Estamos cercados de pequenos mistérios. Lembro de um cientista que conheci e que me explicou que a ciência não lida com certezas, mas com fatos comprovados até aquela data. Uma nova descoberta pode mudar tudo o que até aquele instante era tido como correto.
Mesmo com o avanço cada vez mais rápido de algumas áreas, como a tecnologia e a comunicação, ainda temos um conhecimento limitado. Mas, e isto é o mais interessante, temos certeza de tudo. Cada vez há menos espaço para a dúvida, para o questionamento. Tomamos dados parciais como verdades absolutas. Especialmente quando nos são favoráveis. Enquanto isto, apenas na Austrália, mais de 3000 formas de vida seguem existindo fora do campo de visão de nossas certezas irremovíveis. Melhor não questionar.
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
Humano 2.0
A querida Anaik me mandou mais uma dica. Desta vez um artigo do New York Times onde Farhad Manjoo descreve o teste que fez de diversas ferramentas disponíveis no universo digital para reduzir as distrações de quem usa o computador profissionalmente e melhorar o foco no trabalho.
O ponto de partida de Farhad é cartesiano. Depois de revolucionar a produtividade humana, o computador se tornou uma das maiores fontes de entretenimento da História. Desde noticias em tempo real ao novo e mais interessante vídeo que está “bombando” (ainda se usa esta expressão??) no You Tube, passando pelos comentários de amigos no Twitter e Facebook, estas máquinas estão cheias de apelos para a distração.
Esta demanda gerou diversos programas que podem desde medir o tempo que o usuário destina para cada tipo de aplicativo no computador, alertando o quanto somos “dispersos”, até aplicativos que, simplesmente, bloqueiam total ou parcialmente nosso acesso à internet e programas correlatos. O mais divertido deles promove uma volta ao tempo de duas décadas e gera um processador de textos parecido com o Word dos anos 80 reina sozinho na tela, fazendo “desaparecer” todos os ícones dos demais programas, em especial os que ficam “chamando” para a distração, como o Y!Messenger, por exemplo.
Mas, como quase sempre, o melhor ficou para o final. Depois de bloquear seu acesso às “frivolidades” digitais, Farhad conclui que segue sem continuar focando no trabalho. Apenas troca a distração. No lugar da internet, se vê brincado de cortar frutas enquanto escreve. Nas palavras do colunista no NYT, talvez o cérebro dos que trabalham com criação, caso de jornalistas, precise mesmo ficar fora de foco de tempos em tempos.
Vou além. Já li diversos artigos afirmando que os jovens de hoje, que cresceram com acesso à internet, desenvolveram uma capacidade diferenciada de desenvolver diversas tarefas simultaneamente. Tenho um filho de 17 anos cuja rotina é ouvir música, assistir TV (sem som), jogar seu PS3 e navegar pela internet. Tudo ao mesmo tempo. E, já testei, o pior é que ele sabe, por exemplo, o que está acontecendo no programa de TV no ar naquele momento. Infelizmente para a minha aposentadoria não acredito que meu garoto seja um superdotado.
Mais do que ampliar a “capacidade de processamento” de nossa cabeça, pessoalmente acredito que o acesso a estas diversas atividades e informações simultaneamente aumenta a possibilidade de inovação e incentiva a criatividade. Nunca o Homem produziu tanto conhecimento e jamais esta informação esteve tão disseminada. Minha opinião é de que, ao invés de limitar seu o acesso das pessoas ao Twitter ou Facebook, as empresas deveriam incentivar seu uso. Não me parece coincidência que praticamente todas as companhias brasileiras que receberam a indicação como as mais criativas do país pela Época Negócios tenham ferramentas internas de comunicação digital. É óbvio que a produtividade e os objetivos são importantes para toda organização. Mas não podemos encontrar um ponto de equilíbrio em que haja espaço para buscar e processar outras informações e referências? Será que não estamos desperdiçando boa parte de nosso próprio potencial?
O ponto de partida de Farhad é cartesiano. Depois de revolucionar a produtividade humana, o computador se tornou uma das maiores fontes de entretenimento da História. Desde noticias em tempo real ao novo e mais interessante vídeo que está “bombando” (ainda se usa esta expressão??) no You Tube, passando pelos comentários de amigos no Twitter e Facebook, estas máquinas estão cheias de apelos para a distração.
Esta demanda gerou diversos programas que podem desde medir o tempo que o usuário destina para cada tipo de aplicativo no computador, alertando o quanto somos “dispersos”, até aplicativos que, simplesmente, bloqueiam total ou parcialmente nosso acesso à internet e programas correlatos. O mais divertido deles promove uma volta ao tempo de duas décadas e gera um processador de textos parecido com o Word dos anos 80 reina sozinho na tela, fazendo “desaparecer” todos os ícones dos demais programas, em especial os que ficam “chamando” para a distração, como o Y!Messenger, por exemplo.
Mas, como quase sempre, o melhor ficou para o final. Depois de bloquear seu acesso às “frivolidades” digitais, Farhad conclui que segue sem continuar focando no trabalho. Apenas troca a distração. No lugar da internet, se vê brincado de cortar frutas enquanto escreve. Nas palavras do colunista no NYT, talvez o cérebro dos que trabalham com criação, caso de jornalistas, precise mesmo ficar fora de foco de tempos em tempos.
Vou além. Já li diversos artigos afirmando que os jovens de hoje, que cresceram com acesso à internet, desenvolveram uma capacidade diferenciada de desenvolver diversas tarefas simultaneamente. Tenho um filho de 17 anos cuja rotina é ouvir música, assistir TV (sem som), jogar seu PS3 e navegar pela internet. Tudo ao mesmo tempo. E, já testei, o pior é que ele sabe, por exemplo, o que está acontecendo no programa de TV no ar naquele momento. Infelizmente para a minha aposentadoria não acredito que meu garoto seja um superdotado.
Mais do que ampliar a “capacidade de processamento” de nossa cabeça, pessoalmente acredito que o acesso a estas diversas atividades e informações simultaneamente aumenta a possibilidade de inovação e incentiva a criatividade. Nunca o Homem produziu tanto conhecimento e jamais esta informação esteve tão disseminada. Minha opinião é de que, ao invés de limitar seu o acesso das pessoas ao Twitter ou Facebook, as empresas deveriam incentivar seu uso. Não me parece coincidência que praticamente todas as companhias brasileiras que receberam a indicação como as mais criativas do país pela Época Negócios tenham ferramentas internas de comunicação digital. É óbvio que a produtividade e os objetivos são importantes para toda organização. Mas não podemos encontrar um ponto de equilíbrio em que haja espaço para buscar e processar outras informações e referências? Será que não estamos desperdiçando boa parte de nosso próprio potencial?
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Medo: muitos efeitos e alguns caminhos alternativos
Há alguns dias participei de um curso sobre finanças com o consultor Roberto Cunha. Depois de ser executivo de grandes empresas como Odebrecht e Vale, sempre cuidando da vida financeira, ele concluiu que, mesmo na sua árida área de trabalho, tudo é comportamento, atitude. Os números, o balanço contábil de uma empresa ou de uma pessoa, é apenas o resultado de nossas escolhas. Achei algumas se suas colocações muito interessantes.
Para Roberto, o medo é o freio da mudança. Ele diz ter visto isso em inúmeras empresas, que acabam perdendo o bonde da história por receio de testar novos caminhos ou de mudar posturas sedimentadas. Indo a um nível mais profundo e falando de “Finanças Comportamentais”, ele explicou que todos somos neurologicamente programamos a agir de forma repetitiva e, a parti do momento em que se encontra um caminho relativamente confiável, evitar a mudança. Isso nos dá a sensação de tranqüilidade, de segurança. Só que o mundo continua se transformando lá fora... O medo é o aviso natural de que estamos saindo de nossa zona de conforto. Mas talvez a única forma de evoluirmos seja exatamente vivendo o diferente.
Outra ponderação do nosso consultor é sobre o risco. Viver é correr riscos. Temos a ilusão de uma estrutura que nos protege. Bobagem. Todos nos vivemos momentos de desafiadores, por mais que os evitemos. Uns maiores, outros menores. Mas é a nossa reação à adversidade que vai determinar o nosso sucesso (afinal, é bem mais fácil fazer o certo quando tudo vai bem).
“Todos especulamos”. Para Roberto, sempre que planejamos algo, seja a compra de um imóvel ou um final de semana na praia, estamos pensando sobre algo que foge de nosso controle (e se chover? E se houver um acidente e fecharem a estrada?). Logo, estamos fazendo uma especulação. Assim, o melhor seria aproveitar o conhecimento acumulado destas experiências para aplicar em coisas maiores, como nosso projeto de vida.
Finalmente, Roberto acha que todo erro é uma tentativa. Parte do medo que imobiliza pessoas e empresas vem do fato de que nosso cérebro é naturalmente orientado para super-valorizar o que é negativo. O medo de repetir a atitude que gerou dor ou desconforto é maior do que o prazer gerado pelos acertos. Assim, no médio prazo, nos deixamos enredar por uma atitude defensiva. Não erramos mais. A opinião de Roberto é de que deveríamos ter uma postura mais positiva com o erro. De aprender com ele sem buscar culpados. E de, ao avaliar uma operação mal-sucedida, tentar entender o que deu certo e focar nisto. Este poderia ser um caminho para, com planejamento e inteligência, vencer o medo e buscar o novo.
Este post é dedicado ao Mateus, do blog Ocappuccino, que ao comentar sobre um post do CoffeeBreak sobre a dificuldade das agências de comunicação corporativa em se lançar sobre a comunicação digital de seus clientes, diagnosticou (acertadamente, a meu ver) que a causa é o medo.
Para Roberto, o medo é o freio da mudança. Ele diz ter visto isso em inúmeras empresas, que acabam perdendo o bonde da história por receio de testar novos caminhos ou de mudar posturas sedimentadas. Indo a um nível mais profundo e falando de “Finanças Comportamentais”, ele explicou que todos somos neurologicamente programamos a agir de forma repetitiva e, a parti do momento em que se encontra um caminho relativamente confiável, evitar a mudança. Isso nos dá a sensação de tranqüilidade, de segurança. Só que o mundo continua se transformando lá fora... O medo é o aviso natural de que estamos saindo de nossa zona de conforto. Mas talvez a única forma de evoluirmos seja exatamente vivendo o diferente.
Outra ponderação do nosso consultor é sobre o risco. Viver é correr riscos. Temos a ilusão de uma estrutura que nos protege. Bobagem. Todos nos vivemos momentos de desafiadores, por mais que os evitemos. Uns maiores, outros menores. Mas é a nossa reação à adversidade que vai determinar o nosso sucesso (afinal, é bem mais fácil fazer o certo quando tudo vai bem).
“Todos especulamos”. Para Roberto, sempre que planejamos algo, seja a compra de um imóvel ou um final de semana na praia, estamos pensando sobre algo que foge de nosso controle (e se chover? E se houver um acidente e fecharem a estrada?). Logo, estamos fazendo uma especulação. Assim, o melhor seria aproveitar o conhecimento acumulado destas experiências para aplicar em coisas maiores, como nosso projeto de vida.
Finalmente, Roberto acha que todo erro é uma tentativa. Parte do medo que imobiliza pessoas e empresas vem do fato de que nosso cérebro é naturalmente orientado para super-valorizar o que é negativo. O medo de repetir a atitude que gerou dor ou desconforto é maior do que o prazer gerado pelos acertos. Assim, no médio prazo, nos deixamos enredar por uma atitude defensiva. Não erramos mais. A opinião de Roberto é de que deveríamos ter uma postura mais positiva com o erro. De aprender com ele sem buscar culpados. E de, ao avaliar uma operação mal-sucedida, tentar entender o que deu certo e focar nisto. Este poderia ser um caminho para, com planejamento e inteligência, vencer o medo e buscar o novo.
Este post é dedicado ao Mateus, do blog Ocappuccino, que ao comentar sobre um post do CoffeeBreak sobre a dificuldade das agências de comunicação corporativa em se lançar sobre a comunicação digital de seus clientes, diagnosticou (acertadamente, a meu ver) que a causa é o medo.
domingo, 27 de setembro de 2009
O jogo na imprensa virou para o digital
Tive o prazer de viajar com um grupo de ótimos jornalistas, entre eles Tales Farias, profissional de longa e vitoriosa carreira, dos que ainda se preocupam em investigar e apurar. Pois Tales, depois de alguns anos no Rio, onde estava tentando bravamente salvar o Jornal do Brasil, vai voltar a Brasília, para junto de sua família.
Ele vai engrossar o time de jornalistas consagrados, integrado por nomes como Guilherme Barros e Daniel Castro, que está saindo dos grandes jornais impressos e migrando para a internet, mais especificamente para o IG. Tales vai comandar a sucursal do portal na capital federal, prometendo uma cobertura diferenciada do governo federal.
Em resumo, o futuro chegou. Enquanto ficamos discutindo qual o modelo de negócio para jornais e revistas com o conteúdo on-line, a Oi decidiu apostar pesado para gerar material próprio de grande qualidade e com a assinatura de profissionais reconhecidos dos leitores. A balança começa a pender para o lado digital.
A pergunta agora, é quanto tempo a indústria de comunicação corporativa vai levar para se adaptar a este novo cenário. Hoje assessores de imprensa e clientes estão viciados no papel. Querem pegar o resultado de uma entrevista. Comprar várias cópias da revista e mandar para os chefes, clientes e, porque não, familiares. Como parte do sistema de métrica para o trabalho destes profissionais ainda é baseada no valor da equivalência publicitária (quanto uma reportagem custaria para o cliente se fosse um anúncio), ainda vai levar um tempo para as estratégias de comunicação corporativa mudarem.
O próprio Guilherme, quando ainda estava na Folha, revelou este receio num almoço que acompanhei. Como boa parte do material de suas notas exclusivas vem de assessores de imprensa, estava preocupado em perder relevância na briga pela informação mais quente. Há alguns meses, numa palestra na XPress, a editora da Exame, Cristiane Correa, revelou que nunca havia recebido uma sugestão de pauta para seu blog no portal da Exame – que, segundo ela, tinha um índice de leitura igual ou superior ao da revista impressa.
Definitivamente, está na hora de mudar. Ou os colegas da comunicação corporativa começam a colocar os profissionais e canais de conteúdo da internet em suas estratégias ou podem se surpreender com uma postura nada agradável quando precisarem deles. E este dia vai chegar muito antes do que se imagina. Na verdade, eu acredito que ele inclusive já chegou. A equipe do IG que o diga.
Ele vai engrossar o time de jornalistas consagrados, integrado por nomes como Guilherme Barros e Daniel Castro, que está saindo dos grandes jornais impressos e migrando para a internet, mais especificamente para o IG. Tales vai comandar a sucursal do portal na capital federal, prometendo uma cobertura diferenciada do governo federal.
Em resumo, o futuro chegou. Enquanto ficamos discutindo qual o modelo de negócio para jornais e revistas com o conteúdo on-line, a Oi decidiu apostar pesado para gerar material próprio de grande qualidade e com a assinatura de profissionais reconhecidos dos leitores. A balança começa a pender para o lado digital.
A pergunta agora, é quanto tempo a indústria de comunicação corporativa vai levar para se adaptar a este novo cenário. Hoje assessores de imprensa e clientes estão viciados no papel. Querem pegar o resultado de uma entrevista. Comprar várias cópias da revista e mandar para os chefes, clientes e, porque não, familiares. Como parte do sistema de métrica para o trabalho destes profissionais ainda é baseada no valor da equivalência publicitária (quanto uma reportagem custaria para o cliente se fosse um anúncio), ainda vai levar um tempo para as estratégias de comunicação corporativa mudarem.
O próprio Guilherme, quando ainda estava na Folha, revelou este receio num almoço que acompanhei. Como boa parte do material de suas notas exclusivas vem de assessores de imprensa, estava preocupado em perder relevância na briga pela informação mais quente. Há alguns meses, numa palestra na XPress, a editora da Exame, Cristiane Correa, revelou que nunca havia recebido uma sugestão de pauta para seu blog no portal da Exame – que, segundo ela, tinha um índice de leitura igual ou superior ao da revista impressa.
Definitivamente, está na hora de mudar. Ou os colegas da comunicação corporativa começam a colocar os profissionais e canais de conteúdo da internet em suas estratégias ou podem se surpreender com uma postura nada agradável quando precisarem deles. E este dia vai chegar muito antes do que se imagina. Na verdade, eu acredito que ele inclusive já chegou. A equipe do IG que o diga.
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
Desafio CoffeeBreak: um dia sem carro por semana e sua criatividade de volta 2
Num post há duas semanas soltei a proposta (afinal, algum maluco tem que começar a propor algo). Como sonhar é de graça, se todos aceitassem deixar o carro em casa uma vez por semana teríamos 20% a menos de veículos nas ruas. E não apenas no horário do rodízio, mas o dia inteiro. Quanto tempo nós ganharíamos para coisas muito mais divertidas do que ficar parado num engarrafamento?
Diminuindo não apenas a quantidade de automóveis circulando, mas o tempo que eles ficam ligados, teríamos uma redução ainda maior na poluição. Isto sim é atitude.
Mas estes argumentos meio hippies não comovem mais ninguém, não é verdade? Afinal, ficamos todos esperando que o outro comece a fazer o que não fazemos. Afinal, eu e meus amigos não representamos nada numa cidade com mais de seis milhões de carros, não é mesmo?
Como de hippie não tenho nada, meus argumentos são mais egoístas (apesar de achar que a melhora no trânsito já seja boa o bastante e que minha rinite alérgica agradeceria menos CO2 no ar).
Todos falam em inovação.Todos querem criatividade. Mas ela não vem do nada. É gerada com muito suor e uma bagagem cultural em constante ampliação, na qual uma abertura para diversas mensagens, imagens e pontos de vista tem papel fundamental. Experiências distintas, sair do seu ambiente e conhecer outros sabores, outros odores, outros referenciais é uma estratégia reconhecidamente poderosa para “turbinar” a criatividade.
Para quem, como eu, está viciado no (aparente) conforto do carro na porta, ficar sem ele periodicamente pode ser uma ótima ferramenta para aumentar a criatividade.
Um dos grandes argumentos dos defensores do transporte individual é a liberdade. Você pode sair de onde quiser e ir para onde desejar a qualquer hora. Claro, contanto que não seja seu rodízio ou que não esteja chovendo ou que não seja sexta-feira no final da tarde ou que, como minha mulher, você não leve 30 minutos apenas para sair do estacionamento de seu escritório (sim, é verdade).
Já ficar sem carro proporciona outra liberdade: a de escolher a melhor maneira de se locomover (mesmo que seja um carro, com um táxi ou uma carona). Quando você está de carro, nem pensa: vai e vem com seu possante. No máximo muda o caminho e tem a oportunidade de fica engarrafado num cenário novo. Sem ele, cada viagem abre um leque de possibilidades. Você tem que pensar qual a melhor opção, mesmo que seja não ir a lugar algum. Posso parecer inocente, e talvez esteja sendo, mas acho que estas experiências agregam, alargam os horizontes.
Estou longe de ser radical. Venho de uma família de classe média baixa que faliu nos 80. Na época de faculdade tinha três empregos e meu primeiro filho. Sem carro e economizando cada centavo, após o almoço andava meia hora até a rádio onde trabalhava de tarde. Meu sonho era o carro que só comprei anos depois. Pior, adoro dirigir, melhor ainda na estrada. Hoje, se optar pelo transporte público, levaria cerca de duas horas para chegar ao escritório toda manhã. Sem chance. Mas acho que podemos aprender a dependermos menos deste expediente, a buscar o equilíbrio e utilizar outras formas de locomoção só para variar. Segue o desafio. Que tal um dia sem carro por semana? Eu estou me reeducando.
Diminuindo não apenas a quantidade de automóveis circulando, mas o tempo que eles ficam ligados, teríamos uma redução ainda maior na poluição. Isto sim é atitude.
Mas estes argumentos meio hippies não comovem mais ninguém, não é verdade? Afinal, ficamos todos esperando que o outro comece a fazer o que não fazemos. Afinal, eu e meus amigos não representamos nada numa cidade com mais de seis milhões de carros, não é mesmo?
Como de hippie não tenho nada, meus argumentos são mais egoístas (apesar de achar que a melhora no trânsito já seja boa o bastante e que minha rinite alérgica agradeceria menos CO2 no ar).
Todos falam em inovação.Todos querem criatividade. Mas ela não vem do nada. É gerada com muito suor e uma bagagem cultural em constante ampliação, na qual uma abertura para diversas mensagens, imagens e pontos de vista tem papel fundamental. Experiências distintas, sair do seu ambiente e conhecer outros sabores, outros odores, outros referenciais é uma estratégia reconhecidamente poderosa para “turbinar” a criatividade.
Para quem, como eu, está viciado no (aparente) conforto do carro na porta, ficar sem ele periodicamente pode ser uma ótima ferramenta para aumentar a criatividade.
Um dos grandes argumentos dos defensores do transporte individual é a liberdade. Você pode sair de onde quiser e ir para onde desejar a qualquer hora. Claro, contanto que não seja seu rodízio ou que não esteja chovendo ou que não seja sexta-feira no final da tarde ou que, como minha mulher, você não leve 30 minutos apenas para sair do estacionamento de seu escritório (sim, é verdade).
Já ficar sem carro proporciona outra liberdade: a de escolher a melhor maneira de se locomover (mesmo que seja um carro, com um táxi ou uma carona). Quando você está de carro, nem pensa: vai e vem com seu possante. No máximo muda o caminho e tem a oportunidade de fica engarrafado num cenário novo. Sem ele, cada viagem abre um leque de possibilidades. Você tem que pensar qual a melhor opção, mesmo que seja não ir a lugar algum. Posso parecer inocente, e talvez esteja sendo, mas acho que estas experiências agregam, alargam os horizontes.
Estou longe de ser radical. Venho de uma família de classe média baixa que faliu nos 80. Na época de faculdade tinha três empregos e meu primeiro filho. Sem carro e economizando cada centavo, após o almoço andava meia hora até a rádio onde trabalhava de tarde. Meu sonho era o carro que só comprei anos depois. Pior, adoro dirigir, melhor ainda na estrada. Hoje, se optar pelo transporte público, levaria cerca de duas horas para chegar ao escritório toda manhã. Sem chance. Mas acho que podemos aprender a dependermos menos deste expediente, a buscar o equilíbrio e utilizar outras formas de locomoção só para variar. Segue o desafio. Que tal um dia sem carro por semana? Eu estou me reeducando.
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
Twitter nas empresas: quem leva essa?
Outro dia recebi um tweet da Anaik, colega que escreve o ótimo Melhores Palavras, com um link para um artigo sobre o poder de síntese necessário para escrever no Twitter, por conta dos 140 caracteres. Lendo aquilo, me veio, claro, a lembrança das aulas de redação jornalística, das técnicas para fazer um bom título, do lead, ou seja, que um bom jornalista deve resumir o fato a ser comunicado no mínimo de texto, com estilo, clareza etc.
Ou seja: escrever no Twitter é como fazer um bom título, se possível auto-explicativo. Será então que a nova estrela da internet é território privilegiado para jornalistas? Arriscaria que sim. Afinal, além da necessidade de ser conciso, há o imediatismo, a mensagem chega aos seus seguidores no momento em que você escreve.
Não por acaso diversas empresas jornalísticas utilizam (algumas muito bem) o Twitter. Eu mesmo sigo várias, da CNN à Wired, passando por colunistas como Mônica Bergamo e Lauro Jardim (este último, na minha humilde opinião, ainda muito distante da linguagem do microblog, com seus tweets enigmáticos, que nunca me chamam a buscar seu link).
Resumindo: o Twitter é uma ferramenta de comunicação instantânea e que necessita de poder de concisão ideal para disseminar e discutir notícias, novidades. Perfeito. Mas o grande espanto é que, pensando corporativamente, ela está indo para outras mãos. Explico.
Pense numa empresa que quer estar no Twitter. Quem ela vai procurar? Que tipo de profissional ou agência? Normalmente o que temos visto no Brasil é que esta demanda está caminhando para empresas de publicidade digital, que contratam jovens “ligados nas novidades”. Dependendo do projeto, pode até funcionar. Mas acredito que o mais correto seria que as agências de comunicação corporativa, nossas antigas assessorias de imprensa, assumam este papel.
São profissionais de comunicação que dominam as técnicas jornalísticas – ou seja, vão conseguir se expressar bem em 140 caracteres – conhecem em profundidade as políticas, mensagens e informações da empresa que passará a dialogar na rede social e estão treinados a interagir com públicos exigentes e questionadores como jornalistas e formadores de opinião. Não são tão jovens? Bom, ótimo. Os usuários do Twitter também não são.
Desculpem, mas para mim parece óbvio. Tanto que em outros mercados, como o dos EUA, as agências de comunicação corporativa já estão trabalhando sério neste caminho. E aqui? Enquanto assessoria de imprensa vira commodity, a maioria das empresas continua dando passos tímidos neste caminho sem volta. Por quê?
Ou seja: escrever no Twitter é como fazer um bom título, se possível auto-explicativo. Será então que a nova estrela da internet é território privilegiado para jornalistas? Arriscaria que sim. Afinal, além da necessidade de ser conciso, há o imediatismo, a mensagem chega aos seus seguidores no momento em que você escreve.
Não por acaso diversas empresas jornalísticas utilizam (algumas muito bem) o Twitter. Eu mesmo sigo várias, da CNN à Wired, passando por colunistas como Mônica Bergamo e Lauro Jardim (este último, na minha humilde opinião, ainda muito distante da linguagem do microblog, com seus tweets enigmáticos, que nunca me chamam a buscar seu link).
Resumindo: o Twitter é uma ferramenta de comunicação instantânea e que necessita de poder de concisão ideal para disseminar e discutir notícias, novidades. Perfeito. Mas o grande espanto é que, pensando corporativamente, ela está indo para outras mãos. Explico.
Pense numa empresa que quer estar no Twitter. Quem ela vai procurar? Que tipo de profissional ou agência? Normalmente o que temos visto no Brasil é que esta demanda está caminhando para empresas de publicidade digital, que contratam jovens “ligados nas novidades”. Dependendo do projeto, pode até funcionar. Mas acredito que o mais correto seria que as agências de comunicação corporativa, nossas antigas assessorias de imprensa, assumam este papel.
São profissionais de comunicação que dominam as técnicas jornalísticas – ou seja, vão conseguir se expressar bem em 140 caracteres – conhecem em profundidade as políticas, mensagens e informações da empresa que passará a dialogar na rede social e estão treinados a interagir com públicos exigentes e questionadores como jornalistas e formadores de opinião. Não são tão jovens? Bom, ótimo. Os usuários do Twitter também não são.
Desculpem, mas para mim parece óbvio. Tanto que em outros mercados, como o dos EUA, as agências de comunicação corporativa já estão trabalhando sério neste caminho. E aqui? Enquanto assessoria de imprensa vira commodity, a maioria das empresas continua dando passos tímidos neste caminho sem volta. Por quê?
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
Inovar mais e chorar menos
Há pessoas (e empresas também) que preferem inovar a lamentar as mudanças do mercado. Vem da Men’s Health norte-americana uma boa ideia para aproveitar o que as novas mídias oferecem como oportunidade para gerar novas fontes de renda, fidelizar leitores e divulgar sua marca.
Trata-se de um aplicativo para o iPhone (o que não é novo) mas, aproveitando toda a potencialidade do aparelho da Apple para oferecer aos usuários conteúdo diferenciado e, outro ponto fundamental para o sucesso, totalmente alinhado com a promessa da marca.
Chamado ‘Jimmy the Bartender’, nome de uma das mais populares colunas da publicação nos EUA, o aplicativo usa o GPS do iPhone para indicar os melhores bares da região onde o dono do aparelho estiver. E mais. Indica quais comidas pedir e de quais fugir, alem dos drinks que vale a pena degustar.
Mas como a revista não é um guia gastronômico, ‘Jimmy the Bartender’ também oferece dicas para conquistar a garota que está sendo paquerada (basta identificar qual o seu tipo para ter as informações na hora em que elas são necessárias). Outra área interessante é o Q&A, voltada a divulgar a filosofia de bar (sim, os boêmios gringos também tem sua maneira peculiar de ver a vida) em respostas do Jimmy em pessoa a dúvidas comuns (e outras nem tanto). Finalmente, para garantir o sucesso de qualquer homem no happy hour, o aplicativo ainda oferece as regras, truques e dicas para os principais jogos de botequim.
Alem do arquivo da própria publicação, o programa usa dados fornecidos pelos próprios usuários (uma das grandes vantagens das redes sociais) e, apesar de nova (foi lançada há pouco mais de duas semanas) já é um sucesso de crítica, acumulando ótimas avaliações de sites especializados. A expectativa é que parte dos 30 milhões de usuários do iPhone e iPod Touch nos EUA comprem o programa por míseros U$ 2,99.
Valorizar sua própria marca e sua conexão com um público cativo, usando a tecnologia e a criatividade para criar novas fontes de renda pode ser um dos caminhos para ajudar a imprensa a sair da crise do conteúdo grátis na rede. E também para melhorar a comunicação de diversas empresas e segmentos.
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Desafio CoffeeBreak: um dia sem carro por semana e sua criatividade de volta
Tudo começou por necessidade. Ou quase. Para economizar nossas finanças, o transito de SP e o planeta, minha mulher e eu decidimos ter apenas um carro. Afinal, trabalhamos muito próximos e temos o mesmo horário. Claro que há dias e dias – já tive que esperar em dias que ela teve que ficar até mais tarde e vice-versa. Mas em geral a experiência tem sido positiva e ainda ganhamos mais tempo juntos – afinal levamos cerca de duas horas por dia entre ir e vir do escritório.
Mas o post não é sobre isto, e sim sobre ficar sem o carro. Meus gêmeos nasceram, minha mulher ainda está de licença e, pelo menos uma vez por semana, precisa de nosso carro para resolver uma série de questões. E foi assim que comecei a me organizar para tirar meu dia da semana sem carro – e não apenas sobrevivi a isto, mas acabei gostando.
É incrível como nos acostumamos com saídas que parecem simples e não vemos quantas possibilidades existem. A principal delas é a velha e boa carona. É com ela que consigo chegar ir da Mooca ao escritório na Vila (argh) Olímpia. Afinal, pelo menos três colegas moram próximo de mim e nos revezamos dando carona uns aos outros.
Mas a vida é mais complexa do que chegar ao escritório. Academia, reuniões, almoço com amigos... uma atitude ainda mais antiga que a carona é caminhar. Já que temos que, como uma manada, trabalharmos todos na mesma região, afinal alguém disse que é mais chique (mesmo sendo uma região sem metro, com ruas estreitas e sem estacionamento) alguma vantagem temos que ter com isto. Hoje fui da academia, andando, a uma reunião, da qual voltei da mesma forma. Outros clientes da agencia, localizados na região da Berrini, já visitei usando o trem. Quando tudo falha, há o táxi – cujo preço é mais do que compensado pelo carro a menos que temos em casa (segundo os cálculos de um especialista em finanças, o custo para manter um carro popular, entre combustível, seguro, manutenção, impostos e depreciação do veículo é de mais de R$ 1.200 ao mês).
O que esta experiência me ensinou, porém, é que, mais do que possível, ficar sem carro de vez em quando é uma delícia. Andar permite ver uma cidade diferente. Inúmeros detalhes, invisíveis ao volante, aparecem, sejam pequenas praças, uma casa com um pórtico digno de nota, um pequeno e aparentemente delicioso restaurante, um bar que parou nos anos 50. E as pessoas. Olhar as pessoas, interagir, rir com o rapaz que, sem perceber, desfila pela Vila Olímpia com um colante escrito “este é grátis” preso às costas. Chego ao escritório mais leve, relaxado e com meu estoque de referências, tão importantes para ser criativo, renovado. Porquê não, toda semana, tirar pelo menos um dia para deixar o carro em casa?
Mas o post não é sobre isto, e sim sobre ficar sem o carro. Meus gêmeos nasceram, minha mulher ainda está de licença e, pelo menos uma vez por semana, precisa de nosso carro para resolver uma série de questões. E foi assim que comecei a me organizar para tirar meu dia da semana sem carro – e não apenas sobrevivi a isto, mas acabei gostando.
É incrível como nos acostumamos com saídas que parecem simples e não vemos quantas possibilidades existem. A principal delas é a velha e boa carona. É com ela que consigo chegar ir da Mooca ao escritório na Vila (argh) Olímpia. Afinal, pelo menos três colegas moram próximo de mim e nos revezamos dando carona uns aos outros.
Mas a vida é mais complexa do que chegar ao escritório. Academia, reuniões, almoço com amigos... uma atitude ainda mais antiga que a carona é caminhar. Já que temos que, como uma manada, trabalharmos todos na mesma região, afinal alguém disse que é mais chique (mesmo sendo uma região sem metro, com ruas estreitas e sem estacionamento) alguma vantagem temos que ter com isto. Hoje fui da academia, andando, a uma reunião, da qual voltei da mesma forma. Outros clientes da agencia, localizados na região da Berrini, já visitei usando o trem. Quando tudo falha, há o táxi – cujo preço é mais do que compensado pelo carro a menos que temos em casa (segundo os cálculos de um especialista em finanças, o custo para manter um carro popular, entre combustível, seguro, manutenção, impostos e depreciação do veículo é de mais de R$ 1.200 ao mês).
O que esta experiência me ensinou, porém, é que, mais do que possível, ficar sem carro de vez em quando é uma delícia. Andar permite ver uma cidade diferente. Inúmeros detalhes, invisíveis ao volante, aparecem, sejam pequenas praças, uma casa com um pórtico digno de nota, um pequeno e aparentemente delicioso restaurante, um bar que parou nos anos 50. E as pessoas. Olhar as pessoas, interagir, rir com o rapaz que, sem perceber, desfila pela Vila Olímpia com um colante escrito “este é grátis” preso às costas. Chego ao escritório mais leve, relaxado e com meu estoque de referências, tão importantes para ser criativo, renovado. Porquê não, toda semana, tirar pelo menos um dia para deixar o carro em casa?
terça-feira, 8 de setembro de 2009
Case Wired Vanish: o sucesso de tratar seu público com inteligência
Durou exatos 23 dias. Quando começo a escrever este post, às 9 da noite do dia 8 de setembro, acabo de receber o tweet da revista Wired informando que encontraram seu jornalista perdido. Evan Ratliff estaca andando de bicicleta na cidade de New Orlens quando foi fotografado por Jeff, um dos sócios do Naked Pizza, uma pizzaria natureba da cidade. O empreendedor norte-americano receberá um prêmio de 5 mil dólares e, mais importante, a fama no mundo virtual.
Misto de reportagem, investigação e grande ação de RP, o projeto Vanish – Finding Evan Ratliff desafiou os nerds e geeks norte-americanos a, em menos de 30 dias, encontrarem o jornalista. As regras: ele não iria sair do país nem se esconder em uma cabana no alto das montanhas. Continuaria a fazer atividades normais de sua vida, mas longe de amigos e família, sem manter contato direto com ninguém. Seu único ponto de contato seriam as redes sociais da internet, como Facebook e Twitter. Algumas pistas também foram colocadas no blog que a Wired criou para acompanhar o caso.
A ideia era testar a hipótese de que, por conta da internet, todos hoje somos rastreáveis. O fato é que um grupo, nomeado @Vanishteam no Twitter, rastreou Evan e conseguiu descobrir em que cidade ele estava. Jeff, leitor da revista, foi avisado pois o jornalista poderia pedir a pizza sem glúten que eles entregam.
Para mim, mais interessante do que as técnicas de espionagem digital que o pessoal do @Vanishteam usou é o sucesso do desafio para divulgar a revista. Milhares de leitores nos EUA se envolveram. As pistas, o sumiço e todos os passos do jornalista viraram comentário nas redes sociais. Eu mesmo fiquei sabendo da história por um colega na XPress, o Raphael Gonzales (ou @raphaelgonzales), que leu na internet.
E porque funcionou tão bem? Na minha opinião, há alguns ingredientes importantes: além do próprio apelo de um desafio inteligente, que sempre provoca o ser humano, a Wired colocou o uso das redes sociais como centro da ação, integrando diversas delas. Mais que isto, a própria internet era a grande fonte de pistas para se responder o desafio. Mas acho que o principal ponto é que a ação não foi gratuita, ao contrário, tinha um contexto editorial claro e totalmente alinhado ao DNA da marca. Assim, a inteligência do público não foi subestimada. Um belo case, que pode nos servir de inspiração para tentar inovar na comunicação usando as tais novas mídias.
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
People of Walmart: molecagem bem sucedida ou sacada de comunicação?
Uma nova forma de “viral” está ganhando força nos EUA. Misto de blog com rede social, eles partem de um mote divertido e comum a uma grande parte da população para se tornar sensação na internet. De quebra, critica ou divulga comportamentos, marcas e tendências. Pode servir de inspiração para ações de comunicação neste país que adora as comunidades na web.
Foi no Mashable (http://mashable.com/2009/09/01/people-of-walmart/) que li sobre o People of Walmart, que faz tanto sucesso que foi objeto de matéria na Time . O site foi criado de brincadeira por dois irmãos de 20 e poucos anos, Andrew e Adam (eles não divulgaram o sobrenome), que freqüentam um Walmart na Carolina do Sul. Impressionados com alguns tipos realmente ah, digamos, diferentes que passeavam pelas gôndolas, decidiram fotografar alguns e colocar as imagens na rede. Penteados bizarros, calças com boca de sino com pompons vermelhos, pessoas fantasiada de Tio Sam ou do tigre da Kellogg’s. Os corredores da rede de supermercados parecem atrair mesmo gente de todo tipo.
A ideia primeiro ganhou a rede, depois ganhou a mídia. Antes mesmo de ser tema de reportagens na dita imprensa tradicional, o People of Walmart foi divulgado de blog em blog e se tornou um sucesso de audiência. Centenas de pessoas passaram a postar fotos e o tráfego do site ficou tão grande que ele chegou a ficar fora do ar. O conteúdo passou a ser gerado pelos próprios usuários. Os criadores passaram ao papel de ‘curadores’ do material proposto pelos seus repórteres/leitores. E o Walmart ganhou mais espaço, inclusive neste humilde blog.
A pergunta, que não poderemos responder, é se não foi o próprio Walmart quem deu uma mãozinha na divulgação deste site na imprensa, no mais puro espírito falem bem, falem mal, mas falem de mim. Profissionalmente, espero que sim. Cansado de ver executivos pedindo ideias fora da caixa e depois executando apenas propostas 300% seguras e convencionais, passaria a acreditar um pouco mais na capacidade de ousar (ao menos um pouquinho) dos gestores da comunicação corporativa.
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
Um post de amor a São Paulo
Foto de Rodrigo Dionísio, outro amante da São Paulo real
Fiquei impressionado. Hoje de manhã tive uma reunião profissional num moderno edifício comercial na Leopoldo Couto de Magalhães Junior, rua tão pomposa quanto o nome, em pleno Itaim Bibi. A edificação ainda cheira a nova. Mas o que realmente me chamou a atenção foi que o prédio simplesmente não possui nenhum acesso para pedestres. Isso mesmo.
Construído num nível cerca de um metro mais alto do que a rua, o edifício conta com três rampas de acesso para veículos. E só. Qualquer incauto passante que esteja na calçada e tenha a vontade ou, como no meu caso, a necessidade de entrar se vê obrigado a dividir espaço com os carros que sobem e descem. Senti-me um extraterrestre. Será que sou o único que ainda caminha pela cidade?
O mais triste é que o tal prédio é emblemático de como esta cidade está se estruturando. Cada vez mais os locais elegantes, refinados, destinados às pessoas de fino trato, passam a segregar os pedestres. Ou você chega de carro ou não chega. Um analista mal humorado afirmaria que se trata de algo pensado. Em sua necessidade de preservar a segurança dos bem nascidos e deixar os menos favorecidos longe de sua visão – afinal, é tão deprimente lembrar que ainda existem pobres – ampliam-se as barreiras físicas e a posse de um veículo passa a ser mais um diferencial entre quem pode e quem não pode entrar no clube (era melhor quando esta seleção era feita por uma calça de marca, uma conversa sobre esqui ou uma sacola da mega-loja chique entre a Marginal Pinheiros e a favela da Vila Olímpia).
Mas eu não acredito nisto. Acho que é burrice mesmo. Por qualquer ângulo que se veja, seja o da preservação do meio ambiente, seja do trânsito, seja da alegria de ver as ruas cheias de gente interessante e se alegrar ao desejar a alguém bom dia (lembra disso??), uma cidade construída para ocupantes solitários de carros blindados é uma deprimente estupidez. O crítico mal humorado do parágrafo de cima diria que nossa elite é imbecil (sem lembrar que todo pseudo-intelectual, neste país, também é parte desta mesma elite). Prefiro achar que está perdida, aprisionada em seu medo.
Porque não mudamos de atitude? Quando vamos começar a dar carona? A ir a pé se o endereço é próximo? A pegar o metro, o trem, o ônibus? Quando vamos andar de bicicleta pelas ruas da cidade – não só como lazer, mas como meio de transporte? Quando vamos perder o receio de olhar o outro por receio de ver refletido nele nossa falta de atitude?
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
Política 2.0 não perdoa falta de profissionalismo
Infelizmente daqui há alguns minutos todos teremos esquecido, mas o vexame do senador Aluízio Mercadante, que num dia anunciou a todos os seus seguidores no twitter que havia tomado uma a decisão irrevogável de renunciar à liderança do Partido dos Trabalhadores no Senado por discordar da posição de seu partido de defender a todo custo o senador José Sarney. Para os que, infelizmente, já se esqueceram, dia 20 de agosto, Mercadante postou no microblog sua determinação e, dia 21, subiu à tribuna para dizer que, a pedido do presidente Lula, iria revogar sua decisão irrevogável e se manteria no cargo.
A patuscada de Mercadante, Lula e Sarney mostra que nem todos os políticos estão prontos para adentrar o universo do que alguns chamam de Governo 2.0, inaugurada pelo então candidato a presidente dos Estados Unidos Barack Obama. Não que seja possível recuar – na minha humilde opinião, este movimento não tem retorno. Mas ele exige um grau de transparência e interação hoje inéditos.
Dividir com seus eleitores suas decisões e pontos de vista em tempo real. Abrir um canal de comunicação que permite a todos os interessados não apenas seguir seus os comentários de seu representante como responder a ele e a milhares de outros eleitores. As mídias sociais parecem uma ótima ferramenta para aprofundar a democracia. Num mundo ideal, todos os políticos deveriam ser obrigados a ter um perfil ativo nas mídias sociais e a responder os questionamentos públicos.
Mas, para isso, nossos nobres políticos precisam entender que o twitter e outras ferramentas semelhantes da internet não são um palanque eletrônico. Ao contrário das mídias convencionais, não se trata de um canal para divulgar seu discurso, mas de um espaço para o diálogo. E não adianta se fingir de surdo pois em pouco tempo você terá uma multidão gritando seu nome – só que de forma nada apropriada.
Vejam só todo o barulho que alguns influentes blogueiros (no Twitter: @ninocarvalho, @cnepomucemo e @LeoBragança) já estão fazendo em cima da canhesta proposta de “blog” sem espaço para respostas do Lula. Com toda razão, virou motivo de chacota a proposta do planalto (em minúsculo mesmo) de lançar um blog (afinal se o Obama tem um...) mas onde ninguém pode responder ou comentar nada. Ou seja, um nãoblog.
Será que todos os políticos que entraram nesta nova onda sabiam exatamente o que estavam fazendo? Será que alguém os avisou da responsabilidade do que se escreve e a necessidade de dar respostas a todos os questionamentos dos eleitores? Ou será que apenas seguiram a nova onda para venderem uma imagem de modernos, antenados e na esperança de ser o novo Obama? Não, não quero desencorajar ninguém, muito pelo contrário. Mas que o irrevogável de Mercadante fique como alerta de que este é um jogo sério, que requer planejamento, estratégia, preparação e, talvez o mais difícil neste caso (dos políticos em geral, não deste senador em particular), uma boa dose de inteligência e bom senso.
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Quer inovar, crescer e liderar? Perca o foco!
Artigo na Época Negócios deste mês relata estudos acadêmicos que buscam encontrar um padrão nas grandes sacadas, as ideias surpreendentes e inesperadas que mudam o rumo de uma empresa ou segmento. Sob o título “Inovação inesperada também tem padrão”, o texto mostra o esforço de pesquisadores do MIT e da consultoria Innosight para rastrear os fatores que geram grandes sacadas. Numa leitura superficial, o texto da revista vai para um caminho que eu, pessoalmente, não gosto, do tipo “cinco práticas para vencedores”, pois generaliza e oferece fórmulas prontas – ótimo para quem não quer pensar.
As dicas são básicas: busque inspirações em produtos existentes em outros mercados (exemplo da Red Bull e Starbucks), em produtos de nicho (wii, cuja tecnologia de sensores de movimento veio de um modelo de controle remoto) ou em usuários que desenvolvem uma nova relação com seu produto. Ok. Mas as grandes sacacas, para mim, estão nos detalhes. É quando se relata a insistência do líder da Red Bull em bancar sua aposta na bebida mesmo depois que os primeiros testes com o público foram um desastre. Ou na visão de sempre se dar uma segunda chance a uma ideia – segundo a revista, o Viagra nasceu de uma droga para angina que não deu certo e que tinha, como efeito colateral, o poder de gerar uma ereção.
O que me encanta é saber que, segundo o pesquisador de inovações Clayton Christensem, 93% das ideias bem sucedidas começaram na direção errada! Ou seja, para inovar é preciso olhar para fora, para o outro, para o estranho e estrangeiro. É preciso abrir olhos e ouvidos para o que parece não fazer o menor sentido e ter coragem de enfrentar as certezas estabelecidas. De outra forma, continuaremos sempre apenas fazendo mais do mesmo.
As dicas são básicas: busque inspirações em produtos existentes em outros mercados (exemplo da Red Bull e Starbucks), em produtos de nicho (wii, cuja tecnologia de sensores de movimento veio de um modelo de controle remoto) ou em usuários que desenvolvem uma nova relação com seu produto. Ok. Mas as grandes sacacas, para mim, estão nos detalhes. É quando se relata a insistência do líder da Red Bull em bancar sua aposta na bebida mesmo depois que os primeiros testes com o público foram um desastre. Ou na visão de sempre se dar uma segunda chance a uma ideia – segundo a revista, o Viagra nasceu de uma droga para angina que não deu certo e que tinha, como efeito colateral, o poder de gerar uma ereção.
O que me encanta é saber que, segundo o pesquisador de inovações Clayton Christensem, 93% das ideias bem sucedidas começaram na direção errada! Ou seja, para inovar é preciso olhar para fora, para o outro, para o estranho e estrangeiro. É preciso abrir olhos e ouvidos para o que parece não fazer o menor sentido e ter coragem de enfrentar as certezas estabelecidas. De outra forma, continuaremos sempre apenas fazendo mais do mesmo.
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
Jornalismo para quem?
por Rodrigo Dionísio
Inicio minha participação aqui; sim, pretendo voltar. E o tema é algo que gira (em) minha mente desde a época da criação do Pérolas (http://perolasdasassessorias.wordpress.com/) e do artigo raivoso do Ivan Lessa (http://noticias.uol.com.br/bbc/2006/11/24/ult2363u8716.jhtm). Renasceu com a coluna no jornal Destak da semana passada, assinada por Luiz Antonio Ryff e com o sugestivo título de Assessoria de Imprensa para Cães (www.destakjornal.com.br/readContent.aspx?id=18,43830).
Fato: assessorias dos mais diversos portes cometem erros grotescos, mandam pautas para quem não devem, atendem anseios de clientes, com medo do confronto, em vez de orientá-los. Muitas agências no meio (muitas empresas de comunicação) são montadas sem estrutura, é o amigo do amigo que conhece “uns jornalistas” e vira assessor.
Já se discutiu muito quanto assessoria e Redação têm de andar juntas. Mais ainda sobre o quanto, ainda hoje, os dois meios se digladiam. Mas toda vez que vejo manifestações como essas, e apesar de minha ponderação no parágrafo anterior, me sinto um tanto acuado e sem voz.
Porque é engraçado chutar assessorias (e assessores), inclusive da maneira desrespeitosa e nada ética do Ivan. Mas quanto tempo duraria profissionalmente um assessor que decidisse abrir um blog contando sobre o editor que manda um amigo viajar em um presstour e, na volta do fulano, pede para a assessoria escrever o texto, pois o cara “não anotou nada e não está afim”?
Ou das inúmeras vezes nas quais teve de levar gente bêbada e drogada para quartos, fazer entrevistas no lugar dos profissionais da Redação, agenciar encontros, receber solicitações de invasão de privacidade...? Nada disso é ficção, nada disso partiu de veículos pequenos.
Não quero incitar briga, este texto é mais um desabafo que outra coisa. Todos nós temos um papel nesta história, para alguns muito claro. Para outros, sim, nós somos só agenciadores, no pior sentido, prensados entre a vontade do cliente e a postura inúmeras vezes mimada dos coleguinhas da Redação.
Conclusão? Uma pequena história, de um passado não tão distante: na minha época de Folha de SPaulo, cobrindo TV, auge dos reality shows, havia uma proposta do Daniel Castro de trancar todos os colunistas da área em uma casa e faze-los fechar suas colunas diárias sem poder contar com nenhuma assessoria de imprensa. Quem não conseguisse, seria eliminado do programa. O deboche terminava com a conclusão óbvia segundo a qual a atração não iria funcionar, todos seriam eliminados no primeiro dia.
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
Quem é quem nas redes sociais?
Toda a discussão em CoffeeBreak semana passada sobre rentabilidade e remuneração na web me leva a outro tópico. Já ouvi pessoas falando que, com os blogs e mídias sociais, a tendência, no médio prazo, é o fim da mídia tradicional. Seriamos todos informados diretamente pelas fontes, sem intermediários (já escrevemos aqui sobre a tendência de empresas e personalidades falarem direto com a audiência via internet) ou por blogueiros independentes ou por colegas no Twitter. Sem custo, sem tendências editoriais, sem interferência comercial.
Que bacana. Mas quem garante a credibilidade? Se hoje muitos já questionam a isenção e a qualidade da informação que a imprensa oferece, imagine num cenário em que não há qualquer instituição ou empresa tentando, ao menos, vender a veracidade do que divulga?
Pior. Um dos grandes telhados de vidro da Internet e de todo o meio digital, para este escriba, é a facilidade com que se pode maquiar a realidade. Quem dirá assumir a identidade de outros. Há alguns dias li no M&M OnLine que diversos publicitários famosos relatam a existência de perfis falsos deles no Twitter. Entre os artistas, o cenário não é diferente. Começou com o divertido perfil falso do Victor Fasano e hoje há diversos atores e atrizes usando a imprensa para explicar que não estão no Twitter ou no Facebook.
Segundo nota no blog do GJOL http://gjol.blogspot.com/2009/08/robots-dominam-o-twitter-e-geram-24-das.html, 24% de todos os Tweets são gerados por máquinas e não por usuários humanos. No mesmo post o pessoal do GJOL informa que 5% dos usuários do Twitter geram 75% do conteúdo da rede social.
Ainda no Twitter, segundo o Mashable, os gestores do serviço estariam tentando tirar do ar o uSocial, que “vende” seguidores para pessoas físicas e jurídicas no microblog. Por módicos U$ 87 você passa a contar com mais mil seguidores (quem sabe não é a solução para a briga entre Marcelo Tas e Luciano Hulk para ver quem tem mais pessoas recebendo suas frases – e mais barato do que sortear um punhado de eletrodomésticos).
Por estas e outras, talvez quem tenha razão é o multi-bilionário mexicano Carlos Slim, presidente da América Móvil e que disputa com Bill Gates o título de homem mais rico do mundo. Em perfil na Piauí deste mês, perguntado do motivo que o levou a ser um dos maiores acionistas do The New York Times, o astuto empresário disse que a internet pode até acabar com o atual formato de jornais e revistas, mas o mundo vai continuar precisando de informação de qualidade vinda de fonte confiável. Para mim, este é o ponto. Num mundo digital onde é cada vez mais fácil fingir ser o que não se é, vamos precisar cada vez mais de um “selo de garantia” de que a informação é mesmo válida e procedente. O problema é quando começarem a piratear o selo...
Que bacana. Mas quem garante a credibilidade? Se hoje muitos já questionam a isenção e a qualidade da informação que a imprensa oferece, imagine num cenário em que não há qualquer instituição ou empresa tentando, ao menos, vender a veracidade do que divulga?
Pior. Um dos grandes telhados de vidro da Internet e de todo o meio digital, para este escriba, é a facilidade com que se pode maquiar a realidade. Quem dirá assumir a identidade de outros. Há alguns dias li no M&M OnLine que diversos publicitários famosos relatam a existência de perfis falsos deles no Twitter. Entre os artistas, o cenário não é diferente. Começou com o divertido perfil falso do Victor Fasano e hoje há diversos atores e atrizes usando a imprensa para explicar que não estão no Twitter ou no Facebook.
Segundo nota no blog do GJOL http://gjol.blogspot.com/2009/08/robots-dominam-o-twitter-e-geram-24-das.html, 24% de todos os Tweets são gerados por máquinas e não por usuários humanos. No mesmo post o pessoal do GJOL informa que 5% dos usuários do Twitter geram 75% do conteúdo da rede social.
Ainda no Twitter, segundo o Mashable, os gestores do serviço estariam tentando tirar do ar o uSocial, que “vende” seguidores para pessoas físicas e jurídicas no microblog. Por módicos U$ 87 você passa a contar com mais mil seguidores (quem sabe não é a solução para a briga entre Marcelo Tas e Luciano Hulk para ver quem tem mais pessoas recebendo suas frases – e mais barato do que sortear um punhado de eletrodomésticos).
Por estas e outras, talvez quem tenha razão é o multi-bilionário mexicano Carlos Slim, presidente da América Móvil e que disputa com Bill Gates o título de homem mais rico do mundo. Em perfil na Piauí deste mês, perguntado do motivo que o levou a ser um dos maiores acionistas do The New York Times, o astuto empresário disse que a internet pode até acabar com o atual formato de jornais e revistas, mas o mundo vai continuar precisando de informação de qualidade vinda de fonte confiável. Para mim, este é o ponto. Num mundo digital onde é cada vez mais fácil fingir ser o que não se é, vamos precisar cada vez mais de um “selo de garantia” de que a informação é mesmo válida e procedente. O problema é quando começarem a piratear o selo...
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