quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Os invertebrados desconhecidos e as verdades absolutas


Apesar de considerar o jornal espanhol El País um dos melhores do mundo, foi no seu concorrente, o El Mundo, que li sobre o “tesouro dos invertebrados debaixo da terra”. Era a manhã de meu primeiro dia em Málaga depois de encerrado o trabalho e eu tinha que esperar até a saída do ônibus que me levaria a Algeciras, cidade onde vivi com meu pai no final dos 80. O periódico estava dando sopa no hotel em que me hospedei e foi meu companheiro na viagem.

Pois, voltando aos invertebrados, o texto do El Mundo me fez saber que um grupo de cientistas acaba de fazer saber ao mundo a descoberta, na Austrália, de nada menos que 850 nova espécies de invertebrados cuja existência era simplesmente desconhecida para a humanidade. 850! De insetos a crustáceos e aranhas, os pequenos animais estavam todos em covas e águas subterrâneas do interior australiano.

O texto, assinado pela colega espanhola Maria José Puertas, transcreve ainda falas do professor Andy Austin, da universidade de Adelaide. Segundo ele, o número de novas espécies deve aumentar, pois estas 850 seriam apenas a quinta parte dos seres vivos ainda desconhecidos apenas na Austrália. Segundo Austin, para encontrar novas espécies não é necessário buscar em águas profundas, basta olhar com atenção para seu próprio quintal.

Não é incrível o quanto ainda há a descobrir apenas nos “quintais” deste pequeno planeta? Estamos cercados de pequenos mistérios. Lembro de um cientista que conheci e que me explicou que a ciência não lida com certezas, mas com fatos comprovados até aquela data. Uma nova descoberta pode mudar tudo o que até aquele instante era tido como correto.

Mesmo com o avanço cada vez mais rápido de algumas áreas, como a tecnologia e a comunicação, ainda temos um conhecimento limitado. Mas, e isto é o mais interessante, temos certeza de tudo. Cada vez há menos espaço para a dúvida, para o questionamento. Tomamos dados parciais como verdades absolutas. Especialmente quando nos são favoráveis. Enquanto isto, apenas na Austrália, mais de 3000 formas de vida seguem existindo fora do campo de visão de nossas certezas irremovíveis. Melhor não questionar.

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