sexta-feira, 13 de novembro de 2009
Sobre a dificuldade de ser simples
Este post existe para justificar a foto acima. Dei de cara com ela numa reportagem sobre design no jornal espanhol El País e achei genial. É criativo, simples, barato e consegue recriar o pote de Nutella. Por qual motivo é tão difícil pensar o novo sem complicar tudo? Inovar com simplicidade.
O texto do El País, assinado por Anatxu Zabalbescoa, aponta este projeto, que atende pelo nome de corolla (coroa em italiano), como exemplo uma nova tendência do que o jornal chama de “grau zero do desenho”. Soluções oriundas do despojamento.
Outro belo exemplo citado na reportagem é o da loja japonesa Muji, que aposta numa linha de produtos clean/zen sempre bastante funcionais para atrair os consumidores que questionam o consumismo – no texto de introdução em seu site, eles afirmam que não oferecem os melhores produtos, mas sim os que bastam, os necessários, ponto. A Muji faz um concurso mundial de design para novos produtos e um dos vencedores criou um pacote de hashis feitos à moda original, com o talo do trigo. Ou seja, de volta ao futuro.
Esta busca do básico no design não é nova. Trata-se de um ciclo, a velha disputa entre funcionalidade (menos é mais) e emoção (mais é mais). A novidade é que agora parece que o gatilho desta mudança é outro, menos estético e mais prático. A preocupação com nossos excessos e seus efeitos (poluição, destruição, obesidade, desigualdade) está gerando a necessidade de uma nova atitude, menos descartável. Será que um dia cairá a ficha que ser é mais que ter?
O que reforça a percepção de ser uma tendência comportamental e não apenas estética é o fato de diversas grandes empresas estarem demandando este tipo de proposta (e não apenas um ou outro grupo de designers ou marcas de nicho). A própria Apple foi uma das primeiras a trabalhar a simplicidade como base de suas inovações (poucos botões, acionamento intuitivo, quase orgânico). E este tipo de decisão só é tomada nas corporações quando há pesquisas apontando esta demanda por parte do público.
O que fica é o delicioso desafio de buscar o despojamento, a simplicidade. Que é muito mais difícil do que parece. Especialmente enquanto não passarmos a realmente mudarmos nossa relação com o que nos cerca.
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